Manas na contenção
Redação DM
Publicado em 29 de janeiro de 2017 às 00:39 | Atualizado há 5 meses
O Dia da Visibilidade Trans é uma data que objetiva ressaltar a importância da diversidade e respeito para o Movimento Trans, representado por travestis, transexuais e transgêneros. Visto que o Brasil é o país que apresenta o maior número de assassinatos de pessoas trans do mundo, esta data se torna essencial para marcar a luta contra esta triste realidade.
Essa data foi definida em janeiro de 2004, quando ativistas transexuais participaram, no Congresso Nacional, do lançamento da primeira campanha contra a transfobia no País. A campanha “Travesti e Respeito”, do Departamento DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, foi a primeira campanha nacional idealizada e pensada por ativistas transexuais para promoção do respeito e da cidadania.
As conquistas caminham em ritmo lento, apesar da intensidade da luta. Em dezembro de 2011, a portaria n° 2.836 do Ministério da Saúde instituiu, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT). E a página Canal Das Bee manda o recado a respeito da data: “A maioria das pessoas transexuais ainda está lutando por algo básico: respeito! Pelo direito de andar livremente pelas ruas sem ser incomodada, apontada, discriminada e humilhada”.
Rolê cultural de visibilidade trans
Como as minas goianas, cis e trans, são muito firmeza, esse dia não vai passar em branco por aqui e será marcado pela primeira edição da batalha de MC’s “Mana há Mana”, uma batalha de MC’s voltada para as manas que querem entrar no universo das batalhas.
A chamada do evento, que acontecerá dia 5 de fevereiro, ressalta que a temática central do evento é a questão da transsexualidade e a luta por respeito e dignidade dessas mulheres. “29 de janeiro é o dia da visibilidade trans e nesse dia nós afirmamos a necessidade de se pensar atividades e espaços culturais onde a presença da mulher trans ou cis seja de transformação e valorização das diferenças. O movimento hip-hop como outros espaços ainda carregam em si o machismo e outros cânceres sociais, acreditamos que a cultura tem um caráter transformador e por isso propomos uma atividade com tanto valor social político, pela primeira vez na cidade de Goiânia temos uma batalha de MC’s só pra minas, então mulherada vamos colar”.
Rafaela Lincon explica o objetivo do evento. “Primeiramente, o Mana ha mana é mais do que apenas uma festa com uma programação legal, é um projeto feito de mina pra mina. Um espaço de empoderamento de mulheres dentro do mundo do rap. São poucas as manas e minas que se sentem confiantes a ponto de participarem de batalhas de rima. Que dia seria melhor que o dia da visibilidade trans pra estreiarmos a batida desse evento que tem em sua base o reconhecimento de luta entre mulheres?’’.
A programação foi feita pensando na formação dessas manas que querem se jogar em um lugar onde suas pautas serão ouvidas sem preconceitos. Rafaela continua:
PERSPECTIVA
“O dia da visibilidade trans vem mais uma vez alertar quem são as pessoas que sofrem cotidianamente com a tal transfobia. O país que mais mata transexuais e travestis no mundo é o Brasil. O país que mais vende pornografia com temática trans no mundo é o Brasil. O país onde a perspectiva de vida de uma mulher transexual é de no máximo 35 anos. Também é o mesmo país que ainda reconhece a transexualidade e a travestilidade como doenças a serem tratadas com o uso regular de hormônios, uma coisa chamada de disforia de gênero. Milhares de garotas e garotos trans são expulsos de casa por serem o que são. Não há tempo somente para discutirmos sobre transfobia, mas sim de formarmos todas as manas da periferia que na maioria das vezes não são expostas a teorias de gênero que ainda estão restritas a um pequeno bicho intelectual. E unindo e formando as mulheres da periferia o que chamamos de sororidade vai deixar de ser fala de feministas brancas, mas talvez se torne uma realidade”.
Rafa estende a data ao grito de luta que engloba mulheres trans de periferia; “Acredito enquanto mulher trans negra e periférica que o povo preto que é o povo periférico se une quando entende o seu igual nas suas diferenças. Depois que as comunidades tiverem acesso ao debate da transfobia e do mal que causa a todas as pessoas trans. A cultura do humano doente e anormal que imageticamente muitas pessoas humildes tem sobre nós pessoas travestis, homens trans, mulheres trans e N outras identidades pode acabar. Não só somos vistas como pessoas anormais, somos hipersexualizadas o tempo todo. O que faz da prostituição o caminho mais fácil para muitas pessoas trans que não conseguem emprego para se manterem. A prostituição mais uma vez torna as pessoas T mais uma vez vulneráveis.Temos que alcançar as massas, explicar a nossa vivencia de forma dialógica com quem nós sabemos que nunca teve acesso aos mesmos debates que hoje nas universidades são tão debatidos’’.
Websérie trans
Para marcar o Dia da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, o Ministério da Saúde preparou uma websérie. Os vídeos contam a história de seis brasileiros transexuais e travestis que receberam assistência no Sistema Único de Saúde (SUS) durante o processo transexualizador.
O lançamento foi em Brasília, na quarta-feira (25), e contou com a presença dos participantes dos vídeos e debate com gestores e representantes da sociedade civil. Apesar dos exorbitantes números de violência e abandono da população transsexual brasileira, o Estado afirma que tem direcionado esforços no amparo deste grupo.
De acordo com seu site oficial, o Ministério da Saúde ampliou a assistência para essa população, com a habilitação de quatro novos serviços ambulatoriais em janeiro deste ano. Com isso, o Brasil passou a contar com nove centros que ofertam procedimentos como terapia hormonal e acompanhamento dos usuários em consultas e no pré e pós-operatório. Dos nove centros, cinco oferecem cirurgia de mudança de sexo, chamada de redesignação sexual.