Caiado: “Meu sonho é governar Goiás”
Redação DM
Publicado em 29 de janeiro de 2017 às 00:34 | Atualizado há 5 meses
O senador Ronaldo Caiado (DEM) descartou de vez o projeto de ser candidato à presidência da República e se posicionou claramente quanto ao seu desejo de chegar ao governo de Goiás. O registro foi feito pela jornalista Adriana Marinelli do Portal A Redação. A mudança de planos aconteceu em Iporá, durante o tradicional Encontro de Muladeiros, que reúne criadores de mulos e burros de Goiás e de outros estados na cidade do Oeste Goiano.
De acordo a reportagem de Adriana Marinelli, Caiado foi claro ao afirmar que não pretende entrar na disputa pela presidência da República, mas também foi direto ao dizer que chegar ao Governo do Estado nas próximas eleições “é um sonho:
“Algumas pessoas falam que eu estaria almejando voo maior, uma candidatura à Presidência da República, mas é importante que se esclareça que minha vontade, meu sonho e meu trabalho é com o objetivo de, se for da vontade de Deus e do povo de Goiás, chegar ao Governo do Estado”, disse o senador. “As pessoas sabem que é um orgulho para qualquer goiano assumir o comando do seu Estado”, acrescentou Caiado.
A reportagem de A Redação também se ateve a um dos “nós” para a candidatura de Caiado: o fato de o PMDB, principal partido de oposição ao Palácio das Esmeraldas, ter três nomes fortes à sucessão do governador Marconi Perillo (PSDB): o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela e o deputado federal Daniel Vilela.
Maguito reage
O ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela admitiu, em dezembro do ano passado, a possibilidade de Ronaldo Caiado ter o apoio do PMDB na disputa pelo governo de Goiás, desde que ele (Caiado) se filie ao partido: “Acho quase impossível o PMDB apoiar um nome que não seja do partido. O PMDB é grande, tem muita capilaridade política, não pode ficar sem um nome para a disputa. Na minha opinião, o melhor caminho para o Ronaldo Caiado é vir para dentro do PMDB, para que ele tenha chance de ser o nome do partido na disputa para o governo estadual”, disse o peemedebista em entrevista aos jornalistas João Unes e Rafaela Bernardes.
A opinião de Maguito Vilela é honesta e espelha o pensamento majoritário do PMDB, que sempre teve candidato ao governo de Goiás, desde a redemocratização em 1982, quando ocorreram as primeiras eleições diretas para governador após o golpe de 1964. De 1982 até 1994 o PMDB venceu todas as eleições e elegeu quatro governadores: Iris Rezende, em 1982, Henrique Santillo em 1986, Iris novamente em 1990 e Maguito Vilela em 1994. De 1998, para cá, o mando tem sido do PSDB, que elegeu Marconi Perillo quatro vezes governador (1998, 2002, 2010 e 2014).
Assim, pode-se dizer, que para vencer as eleições, o senador Ronaldo Caiado (DEM) tem que conquistar apoio de um dos grandes polos em disputa, ou seja, ou garante o apoio do PMDB – e para isto tem que se filiar ao partido, como enfatizou Maguito Vilela, ou se reaproxima do governador Marconi Perillo e de sua base de apoio.
Quem conhece Ronaldo Caiado sabe que ele não topa nenhuma das duas hipóteses. O senador jamais deixará o DEM, partido ao qual preside em Goiás e tem projeção na cúpula nacional, para ser soldado raso no PMDB. E por mais que DEM e PSDB sejam afinados no cenário político de Brasília, aqui, em Goiás as posições divergem. Assim como o conquistador Hernán Cortez, que queimou as caravelas que o levaram ao México, para não mais poder recuar no projeto de conquista dos tesouros dos astecas, Ronaldo Caiado queimou todas as pontes que ainda o ligavam ao governador Marconi Perillo e à sua base política, quando rompeu em 2014 a aliança que mantinha com este grupo desde 1998.
Xadrez político
Caiado é oposição a Marconi, mas precisa do PMDB de Iris, de Maguito e de Daniel Vilela para chegar ao Palácio das Esmeraldas. Mas o PMDB não é para amadores e nem vem com manual de instrução.
Após quatro derrotas consecutivas: 1998, 2002, 2006 o PMDB se abriu em 2010 para possibilidade de atrair Henrique Meirelles, o então todo-poderoso presidente do Banco Central do governo Lula. Não deu certo. Meirelles não largou o osso, preferindo ficar até o fim na presidência do BC e o então prefeito Iris Rezende deixou no meio o segundo mandato e foi candidato. Iris levou a disputa até ao segundo turno, mas a vitória ficou novamente com Marconi Perillo.
Em 2011, o empresário Vanderlan Cardoso, que havia ficando em terceiro lugar na disputa pelo governo do Estado, trocou o seu partido, o PR, pelo PMDB, na expectativa de ser ungido o candidato ao governo nas eleições de 2014. O também empresário, José Batista Júnior, o Júnior Friboi pensou o mesmo, e trocou o PSB pelo PMDB, também com o apoio de expressiva parcela do PMDB para ser lançado governador pelo partido. Não deu certo nem para um, nem para o outro. Vanderlan deixou o PMDB e pegou o PSB de Friboi. O PMDB fritou Friboi, que desistiu da candidatura, e Iris foi lançado outra vez candidato. A divisão interna desgastou o partido, que mesmo com a aliança com o DEM, não conseguiu superar os votos do PSDB. Caiado se elegeu senador, mas não alcançou o sucesso esperado, sendo superado outra vez por Marconi. A pergunta que vale um milhão de reais é: Ronaldo Caiado vai topar passar pelo mesmo teste de Meirelles, Vanderlan e Friboi?
Lacerdismo
Ronaldo Caiado é fã confesso do jornalista Carlos Lacerda, ex-deputado e ex-governador da Guanabara. Dono de uma oratória carbonária, Lacerda foi o maior conspirador que a direita brasileira teve em todos os tempos: levou Getúlio Vargas (PTB-RS) ao suicídio, quase impediu a posse de Juscelino Kubstichek (PSD-MG) à presidência em 1956 e tramou o golpe contra o presidente João Goulart (PTB-RS) em 1964.
Assim como fez Lacerda, o senador Ronaldo Caiado aposta na radicalização da oposição. Fez isto em relação ao governo da presidenta Dilma Roussef (PT-MG), tendo sido um dos principais conspiradores do golpe midiático-jurídico-parlamentar que depôs a petista e, em Goiás Caiado deve radicalizar a oposição ao governador Marconi Perillo (PSDB). O senador vai apostar no desgaste da máquina tucana, que em 2018 completará 20 anos à frente do governo do Estado, e vai se colocar como o único nome que representa mudança.
Caiado não vai recuar. Vai continuar no ataque ao governo de Marconi e tentar atrair para si a simpatia dos eleitores de oposição. A incógnita é se esta estratégia será suficiente para trazer para si os votos peemedebistas. Em todas as vezes que disputou o governo do Estado, em oposição ao marconismo, o PMDB nunca teve menos que 36% dos votos no Estado no primeiro turno. Este eleitorado fiel, ideológico, foi responsável pela eleição do próprio Caiado ao Senado, que somente com os votos do DEM jamais teria derrotado a candidatura de Vilmar Rocha (PSD).
Peemedebista, vota em peemedebista. Em 2018, se Caiado estiver no PMDB, terá os votos do partido. Mas, caso o PMDB tenha candidato puro-sangue, o senador terá muitas dificuldades para viabilizar o seu projeto.