As vidas que tive
Redação DM
Publicado em 28 de janeiro de 2017 às 01:29 | Atualizado há 5 meses
Está rolando nas redes sociais uma notícia vinculada ao portal UOL sobre um vídeo que vem gerando reboliços. “Relaxamento e regressão às vidas passadas” foi postado no Youtube em 2012, mas só agora ganhou notoriedade e já ultrapassa 1 milhão e 400 mil acessos. O vídeo consiste em induzir quem assiste ao relaxamento, com intuito de atingir a regressão às vidas passadas, e há quem diga que conseguiu ver muita coisa. Mas será mesmo que o que os internautas relatam terem visto são realmente cenas de uma vida anterior, ou apenas memórias subconscientes de um filme, uma novela, um comercial de tevê, assistido há bastante tempo? Conversamos com a psicóloga, terapeuta transpessoal e mestra em Biologia Molecular e Celular pela Universidade de Brasília Myrella Brasil, a fim de desmistificar algumas teorias e relatos de quem já viveu a experiência da regressão.
Segundo Myrella Brasil, a regressão de memória é uma técnica científica comprovada e não tem vínculo algum com dogmas religiosos. “A experiência tem me mostrado que existe uma inteligência inata do indivíduo que gerencia este acesso ao inconsciente, trazendo conteúdos que estão prontos para emergir e serem ressignificados, auxiliando o paciente a entender suas reações psíquicas, emocionais e físicas. Por exemplo: crises de pânico, depressão crônica, ansiedade patológica, terror noturno, fobias, etc.”, diz a terapeuta. Os tratamentos convencionais para pacientes dos casos já citados tem se mostrado não tão eficientes, pois, segundo Myrella, o que é tratado “é apenas a ponta do iceberg da consciência humana e que a maioria fica submerso no inconsciente”, daí a necessidade de discutir e utilizar ferramentas clínicas que permitam o acesso à estas zonas remotas da mente humana.
“Podemos acessar qualquer período desta existência voltando até o ventre de sua mãe quando está sendo gestado, bem como à qualquer outra experiência do passado impressa em seu DNA. Como Geneticista e especialista em Física Quântica posso dizer que nosso material genético traz consigo, não só as informações de caracteres físicos, como também, as memórias de nossos antepassados e são essas memórias que são acessadas. O renomado pesquisador e biólogo inglês Rupert Sheldrake em seu livro Uma nova Ciência da Vida, nos fala do Campo morfogenético, o qual é um campo que guarda e transmite informações. Assim, é esse campo informacional que acessamos durante esta e outras técnicas terapêuticas”, exemplifica Myrella Brasil.
Em aplicações práticas da técnica de indução à regressão intra uterina, Myrella relata que há uma certa dúvida por parte dos pacientes em relação às memórias, por não conseguirem discernir de onde elas vem. Segundo a terapeuta, pode-se perceber “a diferença entre uma visualização criativa e o acesso à memórias profundas é que estas últimas vêm sempre carregadas de muita emoção e intensidade nas reações, inclusive corporais”. Outra questão apontada por Myrella é a dúvida dos pacientes sobre as visões se tratarem ou não de uma vida passada. A terapeuta considera que esta informação não tenha relevância, já que o que o que verdadeiramente importa é que aquela imagem, aparecida naquele momento, é fundamental para a restauração do equilíbrio do paciente. “Nem todos os conteúdos que emergem são do passado. Podem até ser projeção de futuros possíveis, como diz um dos maiores físicos quânticos da atualidade, Dr. Amit Goswami, temos infinitas possibilidades de futuros possíveis à nossa frente, cabe a nós escolher qual manifestar”, finaliza Myrella Brasil.
“Bom, há muitos anos atrás (e quando digo muito, falo de 20) eu e alguns amigos estávamos estudando hipnose e como parte da prática era feita a TRVP. Eu passei por algumas sessões e fiz algumas sessões. Algumas com sucesso, outras só chegando a vida intrauterina. Não havia fins terapêuticos, apenas o desenvolvimento e estudo da hipnose. Mas como espírita pude tirar alguns proveitos. Fiz ambos. No meu caso eu fui em vidas passadas. Uma das que eu conduzi foi até a vida uterina e não conseguiu passar disso. Sendo espírita, pra mim é fácil aceitar as visões que tive. Não foram induzidas por nada do meio. Enquanto pesquisadora, que era meu papel na época, tive dúvidas sobre o sucesso de alguns episódios
No processo da hipnose você induz a pessoa a um estado que, a grosso modo, seria semelhante ao REM do sono profundo. Mas dependendo da pessoa, você vai atingir níveis dessa consciência. Então se você induziu a pessoa apenas a um transe leve, as imagens que ela descreve podem ser de um filme que assistiu, do registro do cérebro feito durante o dia, de uma construção de imagem criado a partir de um livro ou de uma fantasia.
Se você a induz a um nível intermediário, você atinge lembranças antigas, ou talvez essas mesmas imagens, mas que tiveram alguma referência ou foram linkadas com algum sentimento ou lembranças mais fortes. Somente em estado profundo de transe é que se acessa as memórias intra uterinas e as de vida passada. Então, para um hipnólogo experimentado ou mesmo um psicólogo ou psiquiatra mais experiente e fácil detectar que a pessoa estava nesse estado. Nós, que éramos estudantes e autodidatas não tínhamos a real certeza de que o relatado era de fato uma experiência de vidas passadas. Apesar de que, em alguns casos, eram de fato muito verossímeis porque nos deu datas, locais e nomes que pudemos pesquisar”.
Casos clínicos relatados por Myrella Brasil
Um paciente com problemas recorrentes na garganta, viu que tinha como origem do problema a memória do cordão umbilical apertando a garganta e ao reviver a cena e promover a retirada do cordão, os sintomas desapareceram.
Outro paciente com fobia de locais fechados, regressou ao período pré natal em que estava muito apertado no útero e ao vivermos o nascimento, ele se sentiu livre e nunca mais apresentou o sintoma.
Uma paciente que foi procurar o tratamento porque estava apresentando crise de pânico, relatou que sempre que chegava ao trabalho sentia que alguém iria matá-la, e ao fazermos a regressão ela viu a imagem de uma colega do trabalho a matando e ao tomar consciência dos motivos e ressignificar o acontecimento, ela se libertou do trauma.
Outra paciente estava sentindo-se presa, sempre com problemas nas pernas e ao fazermos esse acesso, ela viu uma cena em que estava acorrentada até sua morte. Ao ajudarmos ela se libertar das correntes, ela sentiu imediatamente alívios nas pernas, e não apresentou problemas mais orgânicos.
Relatos de pacientes que se submeteram à regressão intrauterina
“Comecei a fazer acompanhamento com psicólogo aos 11 anos, quando meus pais não aguentaram mais a minha mudança de comportamento repentina em casa. Comecei a mentir, fugir, me machucar, agredir as pessoas da minha casa e fugir da escola, tudo isso da noite pro dia. Após algumas sessões no psicólogo ele mesmo recomendou a regressão, procedimento que ele não fazia na cidade, apenas um psiquiatra na minha cidade fazia. Porque segundo o psicólogo, havia algo que eu não falava. Minha mãe então procurou o tal psiquiatra, e fomos. Eu revivi todo o abuso que sofri aos 9 anos, enquanto respondia as perguntas do psiquiatra, e contei sobre um assédio sexual vindo do meu bisavó, aí ele entendeu que o meu comportamento era a forma que eu, como criança, encontrei de chamar a atenção para que tivesse algo errado, e que a angústia sobre tudo o que estava ocorrendo era tão forte que eu não conseguia simplesmente contar”.
(o nome da fonte foi preservado)