Cotidiano

Senado investigará críticas ao agronegócio

Diário da Manhã

Publicado em 19 de janeiro de 2017 às 01:34 | Atualizado há 4 meses

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), anunciou ontem que articulará com os líderes do Senado para promover a realização de uma sessão temática no plenário da Casa para investigar os ataques feitos ao agronegócio no samba-enredo da escola carioca Imperatriz Leopoldinense.

O parlamentar mostrou indignação com a letra do samba que “denigre a imagem do setor com calúnias generalizadas sobre a atuação da classe rural brasileira, respeitada mundialmente pela eficiência e tecnologia aplicadas, além de ser responsável há vários anos pelo saldo da balança comercial do país”. O parlamentar defende a apuração dos patrocinadores do samba-enredo difamatório.

“Assim que retornarem as atividades legislativas buscarei a realização de sessão temática para discutirmos em plenário os motivos que levaram a Imperatriz Leopoldinense a autorizar um samba-enredo que denigre a imagem do agronegócio, único setor que, diante de uma crise devastadora, deverá ser superavitário. Há tantos graves problemas que o país passa, como a violência, o tráfico de drogas, as facções criminosas e uma escola de samba se ocupa em difamar o setor que deveria ser enaltecido e homenageado na Marquês de Sapucaí”, argumenta Caiado.

A partir do início do ano legislativo e após a eleição da mesa diretora dia 2 de fevereiro, o líder democrata vai propor a promoção da sessão temática para que o assunto entre na pauta antes do Carnaval.

Mundo precisa do Brasil

O senador Wilder Morais (PP-GO) também se manifestou sobre o tema que causou reação de todo o segmento no Brasil. Em sua opinião, “o setor sofre discriminação incabível e o único na economia que responde afirmativamente”. Natural do meio rural, o parlamentar goiano é membro do Fórum Econômico, composto das Federações da Agricultura, Comércio, Indústria e Serviços.

“Graças ao agronegócio, o País não está de muletas e o mundo está cada vez mais esperançoso do crescimento de alimentos e a missão brasileira não é fácil”, considera Wilder Morais. O Brasil ganha eco, “porque a maior parte desse alimento ocorrerá por aqui e a produção verde-amarela precisa crescer 40%”, assinala. “Por isso, o segmento do agro precisa de apoio e jamais de difamação”, observa, defendendo, aliás, maior incentivo às hidrovias, ferrovias, rodovias e portos estratégicos para melhor o escoamento da produção, sobretudo de regiões como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Pará, Maranhão e estados nordestinos.

Bahia reage ao enredo

A Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) divulgaram notas de repúdio ao enredo deste ano da escola de samba Imperatriz Leopoldinense – uma das escolas de destaque no Carnaval carioca, cujo tema é Xingu, o Clamor que Vem da Floresta, do carnavalesco Cahe Rodrigues.

O protesto reforçou a posição contrária a trechos da letra da música e algumas fantasias. Durante a semana, diversas outras entidades do setor no Brasil manifestaram desagrado.

Um dos trechos mais criticados diz que “o belo monstro rouba as terras dos seus filhos, devora as matas e seca os rios”. Conforme a nota da Abrapa, “chamar o agro de belo faz sentido, mas acusá-lo de ser monstro é inaceitável”.

Também enfatizou que a produção brasileira de alimentos e fibras na safra 2015/2016 alimentou e vestiu “uma importante parcela da população mundial de sete bilhões de pessoas”. Ao destacar o papel relevante da agropecuária na economia nacional, os produtores de algodão reforçam o trabalho no campo como fundamental para que nas cidades as pessoas se alimentem, tenham acesso aos tecidos e remédios.

“Não existe mágica. Alguém cultivou toda a matéria-prima dos produtos à nossa volta. Qualquer outra versão é fantasia de carnaval”, enfatizou a Abrapa, salientando que o produtor se especializa em produzir mais em menos espaço.

Segundo a nota da Aiba, “os produtores rurais são apresentados de forma equivocada, com adjetivos pejorativos e ofensas gratuitas”. Ao tempo que considerou justa a homenagem aos povos do Xingu, o vice-presidente da entidade, David Schmidt, afirmou que “não há necessidade de denegrir a imagem dos agropecuaristas para elevar a do indígena”.

Ele lamentou que o mundo verá, na passarela da Sapucaí, a visão deturpada desta atividade “que deveria ser exaltada”. Schmidt concluiu destacando que “o agronegócio brasileiro cumpre uma das leis ambientais mais severas do mundo, e que a atividade tem avançado cada vez mais no quesito sustentabilidade”.

Esclarecimento

Em nota assinada pelo presidente, Luiz Pacheco Drumond, a Imperatriz Leopoldinense destacou que a escola tem a marca do pioneirismo e se orgulha “da trajetória de grandes enredos com temática cultural”.

E que “o homem do campo é presença constante em nossos desfiles”, como em recente homenagem a Zezé di Camargo e Luciano. “Dedicamos uma ala à agricultura, por entendermos a importância deste segmento para nossa economia”. Com o enredo do Xingu, a escola pretende “falar da rica contribuição dos povos indígenas à cultura brasileira e, ao mesmo tempo, construir uma mensagem de preservação e respeito à natureza e à biodiversidade”.

A nota esclareceu, ainda, que, “segundo relato da própria população que vive ali, a região ainda é alvo de disputas e constantes conflitos” e a produção, “muitas vezes sem controle, as derrubadas, queimadas e outros feitos em nome do progresso afetam de forma drástica o ambiente e comprometem o futuro de gerações vindouras”.

Por fim, enfatizou que o enredo não ataca o agronegócio nem trabalhadores, e que a escola tem recebido “críticas injustas e até ofensas ao samba”. Também explicou que há confusão na interpretação da letra, sendo “o belo monstro”, uma alusão à hidrelétrica de Belo Monte, “e não uma referência ao agronegócio”.

 


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