O saber da epísteme e a cidade justa
Diário da Manhã
Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 01:14 | Atualizado há 8 anos
Política vem do grego polis, cidade, e de fato foi a cidade grega o primeiro cenário para aquela atividade que caracteriza a política: a organização da vida conjunta dos cidadãos. Não por coincidência, foi também na Grécia que apareceu a primeira obra importante sobre o tema: Política, de Aristóteles. Defensor da aristocracia como forma de governo, Aristóteles via, contudo, na política a forma de conciliar interesses diversos dentro da polis. Aos poucos o substrato da política foi se alargando: já não era mais a cidade, mas também o país ou grupo de países. E também foram se multiplicando as obras sobre o tema clássico: Maquiavel, Hobbes, Rousseau, Marx… Mas isto não melhorou a imagem das atividades em si: durante muito tempo política foi sinônimo de bando, facção. Até hoje o é.
O surgimento de Platão investigando o saber da epísteme e da cidade justa encerrou qualquer possibilidade da dúvida. Segundo ele, aquele que possui o saber científico (epísteme), seria melhor para dirigir a cidade que não viesse a cair no erro, ou seja, na injustiça. Pois o difícil não seria tanto a construção da cidade justa e, sim, a sua continuidade sob o império da justiça, por ela mesma, esteja presente. Só quem é capaz de alcançar o saber que está além da opinião e da violência é aquele que pode aplicar não remendos de decisões justas, mas decisões demandadas da justiça, a retidão real.
As investigações sobre esses temas foram desenvolvidas por ele em:A república. É o livro mais importante do filósofo e, sem dúvida, um dos principais clássicos da filosofia de todos os tempos. Certamente, a obra de maior importância da filosofia antiga. Nela, Platão casou seus dois principais objetivos, o de mostrar que a direção da investigação de Sócrates estava correta, isto é, que poderíamos viver sobre regras justas (e sermos felizes). O casamento desses dois objetivos fez de modo extremamente inteligente: a cidade justa seria aquela que não poderia condenar o filósofo, mas, ao contrario, seria naturalmente governada por ele. Esta é a proposta de A República. Na montagem dos argumentos que compõem a obra, Platão escreveu sobre metafísica, epistemologia, psicologia, ética, estética, teoria social e pedagogia.
(Edvaldo Nepomuceno, escritor)