Bel Pesce, quanto vale “menina do vale”?
Redação DM
Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 01:06 | Atualizado há 8 anos
O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, rivaliza com outra universidade norte-americana, Harvard, no topo das melhores universidades do mundo.
Estudar nessas instituições é um privilégio para poucos, muito poucos. A peneira é muito rígida. Quem possui graduação ou pós-graduação lá tem emprego garantido em qualquer parte do mundo. Os alunos do MIT são muito cobiçados.
Isabel Pesce (ou Bel Pesce) é uma paulistana que conseguiu esse feito. Além de entrar no MIT, teve um desempenho excelente (cerca de 90%). Depois de residir por sete anos nos Estados Unidos, retornou ao Brasil e aqui tornou-se uma celebridade. “A Menina do Vale” é uma alusão ao famoso Vale do Silício, símbolo maior da globalização e berço do empreendedorismo mundial, onde se localizam Google e Microsoft. Aliás, nessas empresas, Bell Pesce aponta, em seu currículo, ter trabalhado. Quanto ao invejável currículo dela, consta um fato inédito: a graduação em Engenharia Elétrica, Ciência da Computação, Matemática, Economia e Administração; pasmem: cinco graduações, numa escola de ponta como é o MIT, é coisa para gênio!
Numa nação periférica do capitalismo mundial como é o Brasil, forma até fã clube. Ainda mais com a mídia por trás. Haja palestras, entrevistas e seguidores pela internet. Resultado: de um ser normal, BellPesce passou a ser referenciada pelo empreendedorismo nacional.
Esse admirável mundo novo da sociedade em rede, e do qual ela faz parte, caiu por terra no dia que apareceu, na internet, a pesquisa do blogueiro Izzy Nobre pondo em dúvida o currículo da “Menina do Vale”.
De fato, ela tem graduação no MIT, em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação (um curso desmembrado em dois no currículo dela); de fato, ela teve um desempenho notável na faculdade. O que não era verdade são as outras graduações. Dessas, “A Menina do Vale” cursou apenas poucas disciplinas. Como se isso não bastasse, na empresa vendida por 50 milhões de dólares, ela pegou o bonde andando, visto que participou do projeto quando este já estava em andamento. Mais ainda: na Microsoft e na Google, Bel Pesce, como qualquer aluno do MIT, apenas estagiou. Estágio de férias.
Sejamos justos: o currículo dela já seria muito bom com o curso de Engenharia e Ciência da Computação aliado ao excelente desempenho dela no transcorrer de sua formação acadêmica. O que não ficou nada bom para a imagem da “Menina do Vale” foi ela ter engordado seu curriculum com informações dúbias.
Do acontecido, extraem-se algumas lições. A primeira se atrela às falhas da mídia por não ter feito um papel inerente a ela: checar e rechecar informações. Segunda, o blá, blá, blá do empreendedorismo de palco vai muito além das palavras. O verdadeiro empreendedor ralou no dia a dia e aprendeu fazendo. Nesse sentido, falta à Bel Pesce quilometragem. Terceira, a mesma sociedade em rede que constrói imagens na velocidade do pensamento, facilmente, destrói. Por fim, convenhamos: apesar da competência, Bel Pesce pisou na bola ao engordar o currículo, com isso, procurando ser maior do que de fato é. “Queimou o filme”. Levantadas às cortinas, a “Menina do Vale” passa hoje por uma situação das mais constrangedoras.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, de Cheiro de Biblioteca)