Cotidiano

Agronegócio se estranha com samba

Diário da Manhã

Publicado em 10 de janeiro de 2017 às 00:46 | Atualizado há 8 anos

A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), com sede em Uberaba (MG) e palco da maior de exposição de gado de origem indiana do mundo, reagiu, também, ao samba enredo da escola Imperatriz Leopoldinense, que no carnaval deste ano homenageia a região do Parque Nacional do Xingu. O tema Xingu – O clamor que vem da Floresta tem gerado revolta no setor do agronegócio goiano e brasileiro. A música exalta o povo indígena ao mesmo tempo em que faz uma crítica ao agronegócio brasileiro, considerado hoje o único setor a segurar a economia do Brasil.

O samba enredo é de composição de Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna. Nele os indígenas são exaltados como os guardiões da floresta e que o “jardim sagrado” foi descoberto pelo “caraíba” que hoje “sangra o coração do meu Brasil”. A letra ressalta ainda, em tom de crítica ao agronegócio, que “o belo monstro rouba as terras dos seus filhos / devora as matas e seca os rios / tanta riqueza que a cobiça destruiu”.

Reação do agro

A composição do samba sofre repúdio das entidades ligadas ao agronegócio, a da Faeg, em Goiânia, da Farsul, em Porto Alegre (RS) e da ABCZ, em Uberaba (MG). De acordo com a ABCZ, ao criticar “duramente” o agronegócio a escola de samba Imperatriz Leopoldinense “mostra total despreparo e ignorância quanto à história brasileira e à realidade econômica e social do País”. Em nota assinada pelo presidente Arnaldo Manuel Machado Borges, a entidade afirma que “Antes de mais nada, é preciso esclarecer e reforçar que o país do samba é sustentado pela pecuária e pela agricultura”.

A ABCZ lembra ainda que os “monstros”, como o produtor rural está sendo “chamado” pela escola de samba, são responsáveis por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) Nacional. Em 2014, de acordo com último dado do PIB, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente em Mato Grosso a agropecuária representa 21% do PIB do Estado de R$ 101,2 bilhões. Sozinha a agricultura é responsável por 17,2% do volume das contas regionais.

A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu afirma ainda ser “inaceitável que a maior festa popular brasileira, que tem a admiração e o respeito da nossa classe, seja palco para um show de sensacionalismo e ataques infundados pela Escola Imperatriz Leopoldinense”. Em redes sociais, o tema também ganhou projeção com prós e contras.

Tijuca homenageou Sorriso e o agronegócio

Em 2016, o município de Sorriso, capital da soja no Brasil, foi homenageado pela escola de samba Unidos da Tijuca. O samba enredo foi assinado por Dudu Nobre, Zé Paulo Sierra, Claudio Mattos e Gustavo Clarão. O nome da cidade aparecia somente no penúltimo parágrafo do samba “O meu negócio é isso, seu moço / Sorriso’ no rosto / Por esse meu mundão rural / Semeia… a minha raiz / Clareia… um belo matiz / O dia vai raiar e o povo há de cantar feliz”. Contudo, sem deixar de mostrar o poder e potencial do agronegócio, bem como a transformação econômica que proporcionou.

 

O samba-enredo da polêmica

Acompanhe o samba-enredo da Escola Imperatriz Leopoldinense

“Xingu – O clamor que vem da floresta”:

Brilhou… a coroa na luz do luar!

Nos troncos a eternidade… a reza e a magia do pajé!

Na aldeia com flautas e maracás

kuarup é festa, louvor em rituais

na floresta… harmonia, a vida a brotar sinfonia de cores e cantos no ar o paraíso fez aqui o seu lugar

jardim sagrado o caraíba descobriu sangra o coração do meu Brasil o belo monstro rouba as terras dos seus filhos devora as matas e seca os rios tanta riqueza que a cobiça destruiu Sou o filho esquecido do mundo minha cor é vermelha de dor o meu canto é bravo e forte mas é hino de paz e amor

 

Sou guerreiro imortal derradeiro deste chão o senhor verdadeiro semente eu sou a primeira da pura alma brasileira

 

Jamais se curvar, lutar e aprender escuta menino, Raoni ensinou liberdade é o nosso destino memória sagrada, razão de viver andar onde ninguém andou chegar aonde ninguém chegou lembrar a coragem e o amor dos irmãos e outros heróis guardiões aventuras de fé e paixão o sonho de integrar uma nação kararaô… kararaô… o índio luta pela sua terra da imperatriz vem o seu grito de guerra!

 

Salve o verde do Xingu… a esperança a semente do amanhã… herança o clamor da natureza a nossa voz vai ecoar… preservar!

 

 

Nota de repúdio ABCZ

O presidente da ABCZ, Arnaldo Manuel Machado Borges, repudia em nota oficial o samba-enredo

 

“A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) repudia, com indignação e veemência o samba-enredo e as demais peças publicitárias divulgados pela escola Imperatriz Leopoldinense para o Desfile de Carnaval de 2017. Ao criticar duramente o agronegócio, o grupo mostra total despreparo e ignorância quanto à história brasileira e à realidade econômica e social do país.

Antes de mais nada, é preciso esclarecer e reforçar que o país do samba é sustentado pela pecuária e pela agricultura. Chamados de “monstros” pela escola, nós, produtores rurais, respondemos por 20% do PIB Nacional e, historicamente, salvamos o Brasil em termos de geração de renda e empregos. Com o tempo e com o nosso talento de produzir cada vez mais – e de forma sustentável – trouxemos para nossa nação o título de campeã mundial de produção de grãos e de proteína animal.

Inaceitável que a maior festa popular brasileira, que tem a admiração e o respeito da nossa classe, seja palco para um show de sensacionalismo e ataques infundados pela Escola Imperatriz Leopoldinense. O setor produtivo e a sociedade não podem ficar calados diante a essa injustiça. É preciso que o Brasil e os brasileiros não só enxerguem e reconheçam a importância do nosso setor, como se orgulhem dessa nossa vocação de alimentar o mundo.

Com a responsabilidade que lhe cabe, a ABCZ vem a público reforçar o compromisso de seus 21 mil associados de produzir cada vez mais carne e leite com práticas sustentáveis e seguras. E, assim, enaltecemos, também, o nosso empenho em zelar pela preservação do meio ambiente.

 

Ecoando nas redes sociais

Os comentários nas redes sociais dão bem a dimensão da reação do público, que o Diário da Manhã publica apenas como informação e respeito, mesmo às opiniões divergentes ou díspares e ainda à gramática correspondente ao conhecimento de cada um. Apesar disso, correções de erros gritantes foram feitas.

Pedro – Esses bilionários do agronegócio ficam cada vez mais ricos e ainda querem falar o quê? Tudo à custa do povo desse Estado, pois o governo do Estado taxa os que pouco ganham e deixam esses bilionários pagarem uma merreca. E com isso ficam mais ricos. Deveriam ter vergonha, deveriam fazer mais que desmatar e ganhar dinheiro deveria ajudar o governo do estado a sair dessa crise, crise essa que não existe no agronegócio, pois só recebem em dólar americano.

Demilson – Engraçado né, pede pra eles dizerem onde estão os índios do Rio de Janeiro, onde estão as matas, os animais, cadê os rios despoluídos, rsrsr, e fácil e só dar uma olhada para baia de Guanabara está poluída. Sendo assim não venha com chorumelas, se na verdade são vocês quem fazem os chorumes.

Jorge Luiz Rodrigues – É a pura verdade que a Imperatriz Leopoldinense está falando para seus compositores que fizeram esse samba sou portelense mais eles estão falando à realidade que acontece no nosso país que só que tem dinheiro que anda o pobre trabalhador e massacrado pelos grandes empresários e pelos nossos políticos que um país como nosso só tem ladrão e os nossos pobres índios sendo decorados devorados por eles tem que fazer samba assim mesmo o piores só assim eles tomam vergonha na cara Imperatriz vc estão de parabéns.

De um produtor agropecuário anônimo–Que pena–a maior festa do pais–acaba sendo manchada–por dirigentes sem visão–entendo que os mesmos não tem qualificação. Alguém tem que ser responsabilizado – ou isso é “democracia”. Nossos produtores não merecem assistir tal barbárie–qual a postura do Governador de nosso Estado, qual a responsabilidade “quem é responsável pelo carnaval em nosso país? Entendo que isso é de responsabilidade de alguém.

Ana Lúcia dá Silva – Gostaria que alguém que realmente saiba o que diz me respondesse. Como seria o nosso país sem o agronegócio hoje ?????? Obrigada…

Bruno – Carapuça serviu. O monstro pode ser quem rouba madeira, desmata ilegalmente e é anistiado…

 

Ari – O agronegócio, nome dado ao latifúndio para torná-lo mais palatável, é talvez o maior sofisma vendido aos brasileiros. Gerando pouquíssimos empregos (se comparados com o investimento no setor). Matou e escravizaram milhões de índios e negros a longo da história (e quer continuar matando), destrói o meio ambiente, envenena o solo e as nascentes e ainda mantém no congresso uma bancada extremamente conservadora capaz de paralisar qualquer governo. E quem são os grandes beneficiários? Máquinas agrícolas, sementes, fertilizantes, etc, são grupos estrangeiros, havendo pouquíssima participação nacional. E tudo para produzir commodities e pouquíssimo alimento. Se ao invés de entregar R$ 215 bilhões ao latifúndio (quanto disto de fato é investido na agropecuária?) esses recursos fossem aplicados na agricultura familiar e no desenvolvimento de uma indústria de ponta com elevado valor agregado, nossa história seria outra.

É aquele velho ditado: “Monopolizam os lucros, socializam os prejuízos”. Achei muito bom o samba, vou assistir o carnaval esse ano só por causa dessa manifestação. Parabéns Imperatriz!

Marcos Barbosa Vedas – A escola Imperatriz tá correta. O Agronegócio não paga imposto e é muito beneficiada.

Erton Benedito De Castro – Não existe omelete sem quebrar ovos, nós plantamos pra eles comerem.

 


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