Retrospectivas
Redação DM
Publicado em 30 de dezembro de 2016 às 23:56 | Atualizado há 8 anosPor que a memória celebra sua existência nos períodos de fim de ciclo? Ontem rememorava a vida em um pedaço de requeijão da roça. Em instantes fui transportado e voltei a infância no quintal pequeno de minha avó, atravessei oceano, senti a brisa do mar, vi seu rostinho sorrindo, lembrei de um outro pedaço de queijo servido a mesa em um café de tarde, e no fato da vida estava eu na varanda de minha casa ouvindo um canário cantando, redemoinho de pensamentos unindo passado, presente e futuro. Um pedaço de queijo funciona como um portal do tempo? Um fragmento de existência me jogando no passado, o gosto do alimento trazendo a tona memórias remotas e ali vivi pedaço de infância, adolescência do inicio da vida adulta em milionésimos de segundos.
Eu em minha casa revivendo na mente pedaços da existência…
No fim de ciclo de mais um ano que se esvai, em nosso aniversário, ou quando chegamos na velhice ou perto da morte fazemos uma retrospectiva involuntária de quem somos e do que fizemos na vida. Período de festas natalinas e de fim de ano geram retrospectivas, um balanço autônomo, psíquico de revisão de atos feitos, sonhos, planos, dando maior ênfase ao que foi deixado para traz, o inacabado, o que poderia ter sido…mas não foi… tempo de consciência?
Mas quem é senhor do tempo? O tempo do coração e dos afetos? O tempo mítico de Pitágoras? O tempo de Sartre? O tempo da modernidade? O tempo dos recalques da psicanálise? O tempo da relatividade de Einstein? O tempo dos arquétipos de Jung? O tempo do imaginário e das rupturas da percepção? Quem é o tempo de nossa identidade? Por que a consciência se revolta no ir e vir dos pensamentos chocando nos com a temporalidade?
Eu com meu pedaço de requeijão ouvia o canto de um canário que me desafiava a consciência em uma mistura de afetos entre curiosidade e saudade. Me percebi como um eterno viajante no tempo, preso no ir e vir na construção narrativa de minha própria identidade, sou fruto de um passado de uma primeira infância na década de 1970, de adolescência na década de 80 e do inicio de vida adulta nos 90..o que vivenciei armazenado em impressões e traços de memória, as experiências positivas e negativas as carrego comigo em minha história. Propriedade compartilhada de vivências sobre o colorido de minha afetividade, às vezes ressuscitada por um naco de requeijão de roça, podia ser um algodão doce, uma pimenta, ou uma pipoca desidratada com textura de isopor… espero que neste fim de ano, neste fim de ciclo que você encontre no vai e vem de suas memórias um sentido claro pra sua existência, revendo os sonhos, as aspirações que mobilizam boa parte de nossa existência.
O sentido de viajar no tempo esta na possibilidade de revisão de sentido de vida, na possibilidade de tomada de consciência, de revisão de valores e crenças, na possibilidade de tornar real sonhos e anseios diante da simplicidade da vida. Que você possa encontrar seu caminho de bem aventurança serenidade e harmonia neste novo ano que se inicia. São meus votos a você e a sua família. Feliz 2017!!!
(Jorge Antonio Monteiro de Lima, analista, pesquisador em saúde mental e psicólogo)