Opinião

Os 170 anos do Lyceu de Goyaz

Redação DM

Publicado em 14 de dezembro de 2016 às 00:59 | Atualizado há 5 meses

Corria o ano de 1846, 170 anos passados. A velha urbs do Anhanguera, a Cidade de Goiás, então capital da Província, vivia os dias do Império brasileiro, mergulhada na placidez de sua paisagem derramada entre cajazeiras e becos, largos e vielas, ciumentamente guardada pela altaneira Serra Dourada.

Sociedade patriarcal, culta e fechada em rígidos preceitos éticos e morais; sofria, porém, com a falta de oportunidade aos jovens que não podiam continuar seus estudos, depois das aulas preparatórias nas pequenas escolas, nas aulas particulares dos mestres que auxiliavam os poucos que tinham acesso ao conhecimento.

A “instrucção pública” era o grande desafio dos Presidentes da Província, dada a dificuldade de acesso ao saber, as distâncias geográficas, a falta de pessoal qualificado, ausência de prédios públicos para tal, desinteresse geral, haja vista que o trabalho no campo, desde cedo, já consumia o tempo das crianças. “Serviço de menino é pouco, quem não aproveita é louco”, era o ditado corrente.

Crianças já serviam para pequenos serviços como tratar de porcos e galinhas, puxar água de poço, aguar hortaliças, apartar vacas, limpar o terreiro, limpar o curral e outros pequenos afazeres. Na visão dos pais, o tempo na escola não significava nada, pois consumia o tempo do serviço.

Nos albores de nossa formação histórica, ou seja, de 1727, ano da fundação do Arraial de Sant´Anna por Bartolomeu Bueno da Silva (filho), o “Anhanguera”, até o declínio do ouro, final dos idos dos setecentos e primeiros anos dos oitocentos, não existiu uma preocupação com a instrução pública. O anseio era juntar o ouro e partir.

Vila Boa de Goyaz, desde 1739 e, depois, Cidade de Goiás, a partir de 1818, foi o centro das decisões; embora estivesse em região geograficamente isolada, constituiu o início de uma sociedade de resistência e de sobrevivência. Não foram fáceis os anos que sucederam o declínio do ouro, miséria, pobreza e isolamento foi o que descreveu muitos dos viajantes que por aqui passaram.

Os religiosos de todas as congregações foram importantes para o início de uma sedimentação de conhecimento, de instrução. Em muitas cidades além de Vila Boa, os mesmos propiciaram uma estrutura capaz de elevar um pouco o nível de conhecimento de certos jovens; embora o fossem da elite, como se poderia esperar. E escolas isoladas foram aparecendo, formalizando o ensino de uma maneira rústica, mas que abriu caminhos a outras possibilidades.

Alguns poucos professores eram contratados por fazendeiros abastados para o ensino de seus filhos. Os mestres-escolas fizeram um papel importante no início de nossa formação cultural, conforme enfatizaram historiadores como Nancy Ribeiro de Araújo e Silva, Genesco Ferreira Bretas e Amália Hermano Teixeira.

Assim, o ensino público foi implantado no Brasil apenas na década de 1770, por injunções históricas, depois de profundas reformas na administração portuguesa. Tais reformas foram implantadas por Sebastião José de Carvalho (1699-1782), o Marquês de Pombal, que foi Primeiro Ministro de Portugal durante o reinado de José I. Houve, assim, a “Reforma Pombalina”, em que a instrução deixou de ser atribuição dos jesuítas e passou a ser de responsabilidade da Coroa Portuguesa, com a injunção da nova filosofia iluminista, disseminada na Europa.

Também, as escolas tinham uma estrutura diferente naquela época. Não havia um sistema de seriação; as denominações eram outras. Alcunhavam de “cadeiras” ou “aulas” avulsas ministradas por mestres improvisados que conseguiam uma licença da Coroa Portuguesa após aprovação nos exames. Estes eram obrigatórios e realizados pela Real Mesa Censória, com sede na cidade de Coimbra.

Na velha Vila Boa, nos primórdios, a primeira “escola” criada foi uma aula de “Gramática Latina”, que funcionou a partir de 1788, no duro tempo em que a sociedade goiana passava pela transição da mineração para a agropecuária e a miséria e exclusão estavam presentes.

Era preciso ganhar a vida na força dos braços, na luta pela comida e pela dignidade. Estudo não “dava camisa” como se falava, ou seja, era o trabalho braçal que garantia o “de comer”.

Nos idos dos setecentos, a Capitania de Goiás tinha cerca de oito cadeiras; sendo duas de “Latim”, quatro de “Primeiras Letras”, uma de “Retórica” e uma de “Filosofia”; estas, com dificuldades exorbitantes, eram mantidas com recursos provenientes do “subsídio literário”, um imposto criado na época.

No século seguinte veio a unificação. As então “cadeiras” ou “aulas” avulsas foram reunidas em uma instituição de ensino após a promulgação do Ato Adicional de 1834, que, na verdade, foi uma modificação da Constituição Brasileira de 1824, que preconizava sobre o ensino, ou o que se chamava de “instrucção pública”.

Desse tempo em diante, as Províncias, que eram as antigas Capitanias, receberam autorização para a abertura de estabelecimentos que se destinavam ao Ensino Secundário. Depois de intensa luta política surgiu o Lyceu, Liceu, Licêo, Liceo, Lyceo, Colégio Estadual de Goiaz, nas diferentes denominações que recebeu ao longo do tempo.

Fundado em junho de 1846, na cidade de Goiás, pela Lei Estadual nº 9, o Lyceu tem uma história de lutas e de desafios que o tornam perene no imaginário dos goianos. Ele permaneceu como a única instituição de Ensino Secundário em Goiás, até 1929.  Na nova Capital, a partir de 1937, manteve-se em posição de destaque no cenário educacional goiano até meados do século XX, depois passou por grande declínio e sucateamento; o que foi lamentável. Chegou a ser chamado, nos anos de 1990, de “Cadeião”.

O que se procura é pouco a pouco apagar essa nódoa, essa mancha na sua história, dado o declínio social que a sociedade passou a viver com o advento da marginalidade juvenil.

O nome “Lyceu” deita raízes na tradição portuguesa e, também, francesa, com aprofundamento na velha Atenas, em que Aristóteles fundou instituição homônima em 335 a.C. Era um ensino humanista, com uma educação voltada às elites. Em todo o Brasil, assim como em Goiás, os moldes educacionais liceanos foram os mesmos.

Na visão de historiadores da educação goiana como Genesco Ferreira Bretas, Amália Hermano Teixeira, Nancy Helena Ribeiro de Araújo e Silva, Vanda Domingos Viera, o Lyceu teve uma origem importante como segundo estabelecimento de ensino secundário do País, ao oferecer, a princípio, as cadeiras de Gramática Latina, Francês, Geometria, Retórica e Poética, Filosofia e História. A partir de 1849, teve início o funcionamento da cadeira de Música.

Nos seus primórdios, o Lyceu foi um berço de importantes intelectuais que passaram por suas cadeiras como estudantes ou por suas cátedras como mestres, nomes importantes da história não só de Goiás, mas, também, do Brasil como Leopoldo de Bulhões, Sebastião Fleury Curado, Félix de Bulhões Jardim, Joaquim Xavier Guimarães Natal, Eduardo Arthur Sócrates, Joviano Alves de Castro, Maurílio Augusto Curado Fleury, Vicente Miguel da Silva Abreu, Emílio Póvoa, Victor de Carvalho Ramos, Hugo de Carvalho Ramos, Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, Benjamim da Luz Vieira, Pedro Ludovico Teixeira, Constâncio Gomes de Oliveira, Pedro Gomes de Oliveira, Dario Délio Cardoso, Agnello Arlíngton Fleury Curado, Joaquim de Carvalho Ferreira, Venerando de Freitas Borges, Mauro Borges Teixeira, Gerson de Castro Costa, Lucio Batista Arantes, Otavinho Arantes, Colemar Natal e Silva, Gerson de Castro Costa, Hélio Seixo de Britto e centenas de outros vultos de real valor que entraram para a história.

Todos passaram pelos bancos do Lyceu e muitos, também, depois voltaram como dignos mestres, de grande cultura e conhecimento, elevando sempre as gerações e gerações de homens e mulheres de grande valor. Todos passaram pelas carteiras do Lyceu e aprenderam lições de caráter, patriotismo e valores imperecíveis.

No “Termo de abertura do Lyceu” constam as assinaturas do então Presidente da Província, Barão de Ramalho, seu fundador, Dom Francisco Ferreira de Azevedo, o bispo Cego, Emídio Joaquim Marques, o primeiro diretor do recém-fundado estabelecimento e seu primeiro secretário, Vicente Moretti Fóggia, estrangeiro quase lendário para seu tempo, dado o seu espírito humanitário.

O Lyceu há 170 anos começou a funcionar de forma precária em um prédio onde funcionava a Secretaria da Fazenda; mais tarde passou a funcionar em outro edifício e maiores proporções que ficava no Largo do Chafariz e, por fim, foi instalado no prédio que lhe coube por doação testamentária do Dr. João Gomes Machado Corumbá, santacruzano ilustre, suplente de Deputado da Assembleia Geral Legislativa do Império e onde permaneceu até a sua transferência para Goiânia, por força do Decreto- Lei nº 04 de 27 de novembro de 1937, há exatos 79 anos.

Por volta de 1866, há 150 anos, o Lyceu entrou em franca decadência; fato que levou a Resolução número 4, de 07 de novembro de 1868 a determinar o seu fechamento.

Felizmente, o então Presidente da Província, Dr Augusto Ferreira França reuniu esforços para manter aberta a casa de instrução tão importante para Goiás

E o Lyceu seguiu, a passou lentos, mas aberto.

Pela Resolução 499, de 09 de julho de 1873 o Presidente da Província autorizou a conceder anualmente a importância de três contos de réis a cinco estudantes pobres, que fossem filhos de Goiás, e que, havendo cursado o Lyceu, estivessem matriculados no terceiro ano de qualquer das academias do Império.

Essa lição veio do Governo Imperial que, em 1837 havia nomeado o Ministro Bernardo Pereira de Vasconcelos, que apresentou ao Regente Pedro de Araújo Lima um estudo em proposta para organização de um pioneiro estabelecimento de ensino secundário no Império. Daí nasceu o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, instalado em 02 de dezembro de 1837, hoje com 179 anos de existência.

Apenas nove anos depois, a Província de Goyaz, tão distante e desconhecida, abria, também, o segundo estabelecimento do gênero no Império, lutando contra toda sorte de adversidades próprias de seu tempo. Se este ato foi tido por corajoso, muito mais coragem se teve para mantê-lo em pleno funcionamento, pois tudo conspirava contra.

A primeira ata, da instalação do Lyceu de Goyaz foi lavrada por Vicente Moretti Foggia, que era muito popular na antiga capital. Nomeado professor de Aritmética e Geometria e Secretário, registrou o ato solene, ao qual compareceram os presidentes e vice-presidentes das Províncias de Goiás e Mato Grosso, o Bispo Diocesano, os chefes das repartições da Fazenda Geral e Provincial, os membros da Câmara Municipal, autoridades judiciárias e policiais, o diretor e professores do Lyceu e pessoas gradas e notáveis da capital.

O primeiro diretor Emygdio Francisco Marques, em obediência à Lei nº 9, de 20 de julho de 1846 e em cumprimento à ordem, de 12 de fevereiro de 1847, do Presidente da Província, declarou instalado e aberto o Lyceu de Goyaz na Cidade de Goiás, aos vinte e três dias de fevereiro de 1847, no andar térreo da Casa da Tesouraria Provincial, no Largo do Jardim, para dar início às aulas de Latim, Francês, Retórica e Poética, Metafísica e Ética, Geografia, Aritmética e Geometria.

O novo estabelecimento, o Lyceu, funcionou por algum tempo na Escola de Aprendizes e Artífices, na Rua da Abadia. O presidente da Província, em cumprimento às determinações testamentárias do Dr. Corumbá, o transferiu para o prédio por ele deixado, à rua que recebeu seu nome, dali mudado para o Palácio da Insctrução. No edifício da rua Dr. Corumbá funcionou a Fundação Faculdade de Filosofia de Goiás, criada em 1968 e instalada em 1972 e, depois, a Unidade Cora Coralina da UEG.

Naquele tempo os professores do Lyceu recebiam, em 1883, a quantia de 800 mil réis anuais. Pelo regulamento de 1º de dezembro de 1856 eram ministradas aulas de Francês, Aritmética, Geografia, História, Geometria, 1ª e 2ª aulas de Latim, e Filosofia Racional e Moral. Era uma luta para manter o pagamento dos professores e a regularidade das aulas.

Havia precariedade de mestres com formação específica. Ocupava o cargo de Inspetor Geral da Instrução Pública o doutor João Bonifácio Gomes de Siqueira. Apenas ele e Félix de Bulhões eram portadores de diplomas de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Os demais não possuíam formação e eram provisionados.

Observa-se tal fato no relatório de 31 de maio de 1883, em que João Bonifácio julgava insatisfatório o aproveitamento dos alunos do Lyceu; além de registrar muita indisciplina e insubordinação, sugerindo a instituição de internato, sem prejuízo do externato. O estado deplorável do ensino na Província, segundo ele, decorria da falta de pessoal competente e da deficiência de rendas dos cofres públicos. Os professores eram mal remunerados, os alunos desinteressados e havia muita evasão, principalmente no tempo das colheitas pelas fazendas próximas ou distantes.

Houve a Resolução nº 592, de 23 de outubro de 1878, que autorizara o restabelecimento das cadeiras outrora existentes, de Filosofia, Retórica e Poética e Inglês; cadeiras, porém, não providas. Não havia profissionais suficientes nem dispostos ao difícil labor.

Em 1883 havia duzentos alunos matriculados no Lyceu eram professores João Elias de Souza (Latim), Manoel Sebastião Caiado (Português), Joaquim Gomes de Oliveira (Francês), Antônio Augusto Roriz de Morais (Geografia e História), Joaquim Roriz de Morais Jardim (Aritmética e Geometria) e José do Patrocínio Marques Tocantins (Música).

Muitos mestres do Lyceu que, a partir dos primeiros anos do século XX, destacaram-se com seus vastos conhecimentos como o desembargador Vicente Miguel da Silva Abreu, grande latinista; o professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, autor do notável Dicionário Análogico da Língua Portuguesa; o professor Constâncio Gomes, mestre da língua portuguesa; os notáveis professores Dario Délio Cardoso, Joaquim Rufino Ramos Jubé Júnior, Alcide Celso Ramos Jubé, Donizetti Martins de Araújo, Antônio Borges dos Santos (que foi também Inspetor Federal do Lyceu), Henrique Alfredo Pèclat, Maurílio Fleury Curado, Joviano Alves de Castro, Manoel de Macedo, Alfredo de Faria Castro, João Setúbal, João Odilon Gomes Pinto, Joaquim Carvalho Ferreira, Irom da Rocha Lima, Weaker Sócrates do Nascimento, Luiz Gonzaga de Faria, Arnulpho Ramos Caiado, Joaquim Edson de Camargo, Ovídio Martins de Araujo, Edmar Fleury Pereira, Colemar Natal e Silva, Victor Coelho de Almeida, Orestes Baiocchi, Walfredo de Campos, José Theodorico Péclat, Antônio Henrique Péclat, Carlos de Faria, Zecchi Abrahão, Alvarenga Peixoto, Venerando de Freita Borges, Alcebíades Bittencourt, Antônio Maria Zukanovich, Valentina Kem Pais Barreto, Arthur Waschek, muitos dos quais, ilustres estrangeiros.

Também, por muitos anos, exerceu o cargo de Inspetor Federal do Lyceu, o advogado Luiz Altino da Cunha e Cruz (Tote), como Chefe de Disciplina José Perilo (Zeca) e vários Inspetores de Ensino (bedéis) e outros do corpo administrativo que também entraram para a história.

Também, em consequência da equiparação do Lyceu ao Ginásio Nacional, pelo Decreto nº 1885, de 25 de fevereiro de 1907, foi expedido novo regulamento, sendo o número de disciplinas elevado. Pela resolução nº 676, de 3 de agosto de 1882 criou-se no Lyceu uma Escola Normal para preparação de professores destinados a ministrar instrução primária, foi baixado seu regulamento; mas dadas as dificuldades, não foi adiante.

Essa Escola normal somente voltou a funcionar 32 anos depois, ainda junto ao Lyceu e tal fato, graças aos esforços do Desembargador João Alves de Castro, então Presidente, a quem ficou devendo o Lyceu sua equiparação ao Ginásio Nacional, em1907.

Dos anos de 1908 a 1913, segundo estudos de Amália Hermano Teixeira e Claro Augusto de Godoy, a maioria dos concluintes dos seis cursos do Lyceu, em número de 49, obtiveram diplomas de curso superior, e os restantes, quase 20%, conservaram-se em funções públicas, nelas ingressando mediante concurso de provas. Foram oito os concluientes de 1909: Agenor Alves de Castro, Ildefonso Gomes de Almeida, Odilon de Amorim e Pedro Ludovico Teixeira, que se formaram em Medicina; Benedito de Albuquerque Pereira, Diógenes, Gomes Pereira da Silva e Túlio Holtílio Jaime, diplomados em Direito. A única mulher da turma, Lambertina Ruth Póvoa, casou-se com o oficial do Exército Arthur Oscar de Macêdo.

Da turma de 1910 diplomaram-se em Engenharia: Antônio Manoel de Oliveira Lisboa, Alberico Soares de Camargo e Benedito Netto de Vellasco, em Medicina, Edilberto da Veiga Jardim; em Direito, Benjamin da Luz Vieira e José Pereira de Abreu.

Da turma de 1911 diplomaram-se em Direito Albatênio Caiado de Godoi, Lupinício de Araújo, Renato Marcondes de Lacerda e Victor de Carvalho Ramos; em Medicina, Brasil Ramos Caiado; em Odontologia, Natanael Lafayete Póvoa.

Da turma de 1912 do Lyceu, 14 obtiveram diplomas de curso superior. Em Direito, Archimedes Caiado de Godoy, Diócles Gomes Barbo de Siqueira, Donizetti Martins de Araújo, Hugo Pereira de Abreu, João Monteiro. Respício Antônio de Paula formou-se em Medicina; Alpheu da Veiga Jardim, em Farmácia; Antônio Rizzo, em Engenharia; Walter Sócrates do Nascimento, em Odontologia; Francisco da Veiga Jardim, Augusto Xavier de Almeida, Dirceu Monteiro, Franco Craveiro de Sá e Rubens de Morais Jardim exerceram funções públicas.

Dos concluintes de 1913, diplomaram-se em Medicina: Alarico Jaime, Bernardo Albernaz Filho, Diógenes Pereira da Silva e Plínio Soares de Camargo; em Direito: Eládio de Amorim, Guilherme Ferreira Coelho, José de Maria Ramos Jubé, Newton de Assis Albernaz e Claro Augusto Godoy.

Daí, até a mudança da capital, muitas outras ilustres turmas se formaram no Lyceu, no tempo dos diretores Francisco Ferreira dos Santos Azevedo e Alcide Celso Ramos Jubé, que ampliaram as fronteiras do conhecimento e buscaram trazer grande desenvolvimento intelectual para o estabelecimento.

O uniforme do Lyceu era imponente e seus alunos reconhecidos por toda a comunidade em disputas por melhores lugares e melhores notas. A pequena sociedade vilaboense acompanhava todo o processo de formação de seus estudantes. Os indisciplinados e incorretos eram severamente massacrados no meio social.

Euler de Amorim, grande poeta e músico, fez o “Hino do Lyceu de Goyaz”:

 

Salve, salve, ó Lyceu glorioso,

Nobre templo imortal da instrução!

Secular é teu nome famoso

Conhecido por toda a nação.

 

Neste vasto país, tão fecundo,

Neste imenso rincão brasileiro,

Se fundado tu foste o segundo,

Em renome tu és o primeiro.

 

Se imbuídos de orgulho te vemos,

Ostentando a bandeira em teu mastro,

Ao Barão de Ramalho devemos

E ao insigne João Alves de Castro.

 

Dentre os mestres e teus inspetores

Vem â nossa lembrança altaneira,

A figura de teus diretores,

– De Fleury, de Jubé, de Ferreira…

 

O Lyceu, estudantes goianos,

Defendemos com alma viril,

E o tornemos, altivos e ufanos,

E civismo um fanal do Brasil.

 

Quando o curso findar, se partirmos

Em demanda a longínquas cidades,

É bem certo, distante, sentirmos,

Do Lyceu merecidas saudades.

 

Salve, salve, grandioso Lyceu!

Quanto orgulho o teu nome nos traz!

Salve, salve, famoso ateneu,

Ó brilhante Lyceu de Goyaz!

Muitos poetas, também, escreveram sobre o Lyceu, como, em Goiás, Aymoré de Vellasco, com as trovinhas românticas: “Mocinha do Lyceu/que passas altiva/nem ligas aos versos/desse vate/todo seu!”. Outros também o relembraram em escritos valiosos como José Mendonça Teles, Genesco Bretas, Edla Pacheco Saad, Luiz de Aquino, Irapuan Costa Junior e tantos outros.

Como um monumento sentimental, o Lyceu se prende ao coração dos poetas, dos cronistas, dos saudosistas dos tempos idos!

Com a mudança da capital do Estado para Goiânia, o Lyceu foi transferido, por meio do decreto nº 4, de 27 de novembro de 1937, para a nova capital, ficando na Cidade de Goiás uma sucursal que, por decreto de 1938, ganhou autonomia.

No belo sobradão da Rua 21, tombado pelo Patrimônio Histórico, foi inaugurado em 27 de novembro de 1937, sendo o primeiro diretor o professor Iron da Rocha Lima; que abrigou provisoriamente o Grupo Escolar Modelo, até que o seu prédio ficasse pronto, na gestão de Julieta Fleury da Silva e Souza.

Pelos novos bancos do Lyceu passaram grandes autoridades em Goiás e no Brasil, como Henrique Meirelles, Gustavo Loyola, Raquel Teixeira, Iris Rezende, Irapuan Costa Junior, Alcides Rodrigues, Pedro Wilson, Wander Arantes, Iran Saraiva, Gilberto Mendonça Teles, José Mendonça Teles, Luís de Aquino, Afonso Félix de Souza, Emílio Vieira, Ciro Palmerston, Terezinha Vieira; Martha Azevedo Panunzio; Daniel Antônio; Manuel dos Reis; Índio Artiaga; Francisco de Castro; Hélio Lobo; Luíz Sampaio; Messias Tavares; João Bênnio, Nion Albernaz e centenas de outros grandes nomes de nossa história.

No tempo em que veio de Goiás, o Lyceu tinha 200 alunos. Em seu primeiro ano de funcionamento em Goiânia, em 1937, já eram 300 os matriculados. O colégio chegou a ter, no ano de 1965, 5.400 estudantes matriculados nos três turnos de funcionamento. Mais tarde foi perdendo alunos em vista de que muitas escolas foram fundadas em diferentes bairros de Goiânia.

Nos anos de 1970 passou por graves crises. Em 1972, com a implantação do complexo escolar, os alunos do Lyceu passaram a frequentar aulas no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva (Colu), para onde muitos laboratórios foram transferidos. Tal fato causou uma indignação na época e muitos conflitos.

Depois, com a situação piorando, a maioria das escolas, por uma série de problemas, também foram sucateadas, inclusive as demais. Difíceis foram os anos de 1980 e 1990.

Mesmo assim, o Lyceu continua sendo uma referência de vanguarda na Educação no Estado de Goiás. Em todos os tempos, assumiu praticamente todas as lutas sociais e políticas, ao longo da sua história, indo às ruas e defendendo ideais de liberdade e democracia. Nos tempos e amarras e mordaças, muitos e seus alunos foram perseguidos.

Como todo estabelecimento secundário, o Lyceu se destaca, atualmente, pelos projetos que desenvolve, pela biblioteca que é uma das mais completas da rede pública estadual e pelos laboratórios. A Banda Marcial é um dos destaques da escola. Luta com todas as dificuldades de todas as escolas, na questão da violência e das crises sociais.

Há pouco tempo, o Lyceu passou por profundas reformas. As obras começaram há vários anos e, entre outras mudanças, possibilitaram a troca de todo o telhado, de todo o piso e das instalações hidráulicas e elétricas. Houve o aumento da calçada na Rua 21, com ajardinamento; a lembrar os seus tempos pioneiros.

Com seus tempos sombrios e tempos luminosos, o Lyceu chega aos 170 anos de existência. A ele todo o respeito e toda a consideração por ter sido o modelo invulgar de desenvolvimento de consciências, de formação moral, de elevação social; e, na esteira do tempo seja sempre a escola importante que vive perenemente no coração dos goianos.

Parabéns Lyceu, pelos 170 anos!

 

(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, graduado em Literatura e Linguística pela UFG, pós-graduado em Literatura Comparada pela UFG, mestre em Literatura e Linguística pela UFG, mestre em Geografia pela UFG, doutor em Geografia pela UFG. [email protected])

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