“Ou Jesus é o herege ou nós o somos”
Diário da Manhã
Publicado em 8 de dezembro de 2016 às 00:56 | Atualizado há 4 mesesA carreira de escritora da advogada Silvana Marta é recente. Começou este ano. Porém, ela tem mostrado grande capacidade de produção e versatilidade. Em agosto publicou o livro de poemas “AmorPecado” pela OAK Books, e agora, pela mesma editora, está lançando “Jesus, o Herege”.
Esta obra é no mínimo audaciosa, pois pretende, em 212 páginas, trazer uma biografia do filho de Deus. A obra, que tem ilustração de Fróes, está disponível em formato impresso e em e-book, no site: www.clubedosautores.com.br.
“Tudo que eu faço na minha vida é de intrusa (risos). Quando lancei o primeiro livro não conhecia nenhum poeta e hoje já sou bem recebida. Agora estou mostrando uma obra que tem uma faceta mais teológica. Algo bem diferente”, compara a autora.
Frequentadora de uma igreja evangélica (que segundo ela lhe deu toda liberdade para escrever o livro), em entrevista ao DMRevista, a autora prefere se definir apenas como cristã, por adorar o papa Francisco e a Igreja Católica. Pela visão ecumênica, buscou, então, se posicionar distante de convicções, com o fim de trazer uma obra isenta e com embasamento histórico.
Segundo ela, seu maior intuito é trazer familiaridade a este nome tão conhecido, mas que para a advogada e escritora precisa ter sua história mais clara e acessível às pessoas. “Ninguém sabe nada sobre Jesus. Vejo isso pelos meus próprios amigos”, argumenta, sobre este homem, que viveu na Palestina, na época parte do Império Romano, e teve a vida contada por seus discípulos escolhidos, na Bíblia Sagrada.
E longe dos dogmas religiosos nasceu “Jesus, o Herege”, que, conforme a autora, “possui um cunho mais sociológico do que religioso”. Analiso Jesus Cristo do ponto de vista da sociedade”, ressalta. Devido à dificuldade em encontrar na Bíblia um lado que ela define como “mais humano” do Messias, que ela se baseou nos chamados livros apócrifos, escritos por comunidades cristãs e pré-cristãs, que não foram incluídos no cânon bíblico (ou seja não são canônicos).
Para biografar uma personalidade como Jesus (cuja vida, morte e ressurreição já foi abordada por nomes do calibre do poeta Paulo Leminski), Silvana embrenhou em uma grande pesquisa neste universo apócrifo e se baseou em obras como: “História dos judeus”– CPAD –2000, baseado nos escritos de Flávio Joseli e “Escritas Históricas”, de Flávio Josefo, do primeiro século intituladas “Antiguidade dos judeus, livro 18”.
E com o avanço dos estudos esta obra não só começou como também ficou parcialmente pronta há cinco anos. Contudo, quando mostrou ao amigo Haroldo Barbosa Filho, ela notou alguas falhas teológicas na primeira versão devido a amplitude do assunto.
“Eu queria falar tudo e ficou uma bagunça”, revela. Haroldo, logo, a ajudou a reduzir a amplitude de temas, para quem sabe, posteriormente, lançar uma trilogia sobre Jesus?
O verdadeiro Messias?
Silvana, em sua obra, começa questionando realmente qual seria a verdadeira face de Jesus, em aspectos físicos mesmo. “Uma das primeiras abordagens que faço na obra é uma descrição física de Jesus, que não é um homem branco de olhos claros. Os judeus da época de Jesus, eram morenos, com cabelos crespos”, afirma.
Outra área que a autora aprofunda em sua obra é a dos milagres. Ou melhor: a simbologia deles, já que vieram de um homem que ensinava por parábolas. No livro, Silvana mostra, então, que com a multiplicação dos pães e peixes, por exemplo, o Messias estava querendo mostrar para as pessoas que é responsabilidade do Estado (no caso do Império Romano), a alimentação de seu povo.
Além dos milagres, a autora também se debruça sobre o caráter acolhedor de Jesus Cristo com as mulheres e do povo oprimido. “Na própria genealogia de Jesus Cristo fica claro que ele vem de gente frágil na sociedade. E, ele começa o império dele transformando água em vinho. Ou seja, veio ao mundo para mostrar que o ‘Reino de Deus’ se dá nos relacionamentos. Jesus se retirava, para fazer suas orações. Mas, no geral, se misturava com todo mundo. Era revolucionário e veio de uma classe desfavorecida.”, explica.
Herege?
Sobre o título de Jesus, O Herege, o DMRevista também questionou a autora, já que a palavra herege significa “aquele que professa doutrina contrária ao que foi estabelecido pela Igreja como dogma”. E é nesta questão, que Silvana se mostra realmente livre da influência das igrejas em sua obra.
“Jesus foi o primeiro a rejeitar a Igreja como instituição, porque ele habita dentro de cada um. Ele dizia: Você já foi expulso de algum lugar? Se sim, você está no lugar certo. A humanidade não vive o que Jesus ensinou, então: Ou Ele (Jesus) é o hereje, ou nós é que somos, por isso dei este título”, diz.