Opinião

Tendência ao “fechamento fascista” da sociedade

Redação DM

Publicado em 30 de novembro de 2016 às 00:32 | Atualizado há 9 anos

Em “Afloramento do Racismo”, publicado nesse jornal, assim como em “Origens, conceitos e sistemas racistas”, de certo modo falo desse assunto em abordagem, antes um triste e xenófobo marco da história, iniciado na Grécia, mostrando os traidores de Atenas, ora uma forte tendência político-ideológica, fortalecida com a inesperada eleição de Donald Trump, mostrando mais uma vez que a divisão política do mundo não é mais entre direita e esquerda, mas entre fechar ou abrir a sociedade,  visando excluir a velha tendência “globalizante” ou “globalista”,  em prol do fechamento fascista, ressurgindo assim o “americanismo” dominador, bem visível no mediano idealismo de Trump.

Sim, é preciso divergir, denunciar. Querem uma sociedade fechada, xenófoba, marcial, contrária, por conseguinte, à sociedade aberta ao mundo – material, intelectual, humana,  globalizada, sem barreiras, muros, isolacionismos e outros absurdos como  a violência policial e a política do encarceramento em massa bem visível  no Brasil,   onde a abolição da escravidão (1888), que teria sido completa, não passou de uma fachada, fundada numa lei  ineficaz, como estou cansado de afirmar, geratriz das mais estranhas liberdades, como a do negro  não ter para onde ir, o que comer, vestir, onde morar, educar-se, virar “escória dessa sociedade” onde sua cultura é desprezada, suas religiões objeto de preocupação policial, por vezes sujeitas à discriminação, ora racial, ora social e  até   motivo de contravenção penal.

Esses fechamentos, para não dizer estranhamentos preservados e mantidos na sociedade brasileira, são característicos de uma abolição fracassada, que admitiram ser completa, na realidade mentirosa e até cínica, por estranho que pareça e de certo modo,  parecida com a dos  Estados Unidos, que também teria sido completa, porém o racismo e a violência, inclusive institucional,  além de indiscutíveis  e ocorrentes de vários modos, conectados com o capitalismo e o velho patriarcado, são estruturais na defesa de uma  América e Ocidente fechados, contrários, portanto, em pleno século XXI, ao que mostrou o livro “A Sociedade Aberta e seus Inimigos”, do pensador Karl Popper (1945).

Com a eleição de Donald Trump, conforme dissemos, a tendência ao  “fechamento fascista da sociedade”, foi estimulada, ampliada por todos os cantos e diásporas. Notem o quanto  os movimentos racistas já festejam nos EUA, por exemplo. Segundo informam os jornais, os supremacistas brancos e xenófobos que apoiaram Trump esperam que o presidente eleito atenda sua plataforma, mesmo que não os tenha endossado. Analistas veem chance de “ele dar cargos aos extremistas”. Querem cobrar a fatura. No mínimo, passarão a ser ouvidos.

Se não bastassem o afloramento e a ampliação do racismo até nas charges consideradas engajadas, onerando a população negra; nos condomínios fechados, nem tão novos, separando e revelando incríveis desigualdades entre ricos e  pobres, salientados pelo segmento social negro;  a medíocre propensão ou desejo de “sociedade fechada”, discriminando e segregando, já alcança todos os setores da vida social. Em Goiânia, consoante informam os jornais, há até projeto de lei na Câmara Municipal, iniciativa do Vereador Anselmo Pereira (PSDB), prevendo que os bairros se cerquem. É lógico que já virou polêmica. Contudo, de todo modo, nele está comprovado que há naquela Casa Legislativa, pessoas que defendem a presença do “Estado mínimo” na sociedade onde quer se impor a ordem privada. Espero que  não dê certo. A Deusa Mawu, ser supremo criador do Universo e de toda vida que nele há, oriundo da mitologia africana, não vai deixar.

 

(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras Mineirense de Letras e Artes, IHGG, Ubego, mestre em História Social pela UFG, professor universitário. [email protected])


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