Cultura

Terra dos beija-flores

Redação DM

Publicado em 27 de novembro de 2016 às 01:28 | Atualizado há 5 meses

No início do século XX, um dos maiores símbolos de progresso do Estado de Goiás materializou-se nos trilhos da Estrada de Ferro Goyas. No progresso trazido pela via, um importante meio de ligação de Goiás com o Sudeste do País, surgiram vários povoados e vilarejos que mais tarde transformaram-se em cidades. Pires do Rio, também conhecida como ‘cidade poema’ ou ‘terra dos beija-flores’, foi fundada no início da década de 1920, às margens do Rio Corumbá. O município, distante 147 quilômetros de Goiânia, hoje conta com mais de 30 mil habitantes e extrai sua renda principalmente da agricultura (com destaque para a produção de soja, milho, arroz e feijão), pecuária e indústrias. É conhecida também por ser o primeiro município planejado de Goiás.

A primeira estação da Estrada de Ferro Goyás depois da ponte do Rio Corumbá – no livro Fundação e emancipação de Pires do Rio 1921-1931, o autor João Albano Neto explica que o nome da cidade é uma homenagem de seu fundador, o engenheiro Balduíno Ernesto de Almeida, ao ex-ministro da Viação e Obras Públicas, que teria previsto o surgimento de uma cidade na região do Rio Corumbá durante uma visita ao Rio de Janeiro. O ministro, comovido, agradeceu e pediu urgência na construção da ponte. “Dr. Balduíno anunciou em seu discurso de agradecimento que a primeira estação após a ponte do Rio Corumbá teria o nome de Pires do Rio em homenagem ao ministro ali presente e disse ter certeza de que um dia iria surgir ali uma cidade”.

A ponte, inaugurada em 1922, foi nomeada em homenagem ao dr. Epitácio Pessoa, então presidente da república. O livro também denuncia o descaso com o patrimônio histórico, dizendo que a ponte existe hoje no esquecimento total, submissa ao poder natural do tempo. Um arquivo disponibilizado pelo site do IBGE revela uma segunda versão para a criação do município, que data de antes da construção da estação e da ponte. “A outra linha defende que o cel. Lino é o verdadeiro fundador do município. Os mesmos afirmam que a estação ferroviária está localizada onde eram as terras de propriedade do coronel. Ele era de uma tradicional família de Santa Cruz, fazendeiro e político. Na região, era reconhecido como um homem simpático e de vasto currículo de amizades”.

Obelisco

Em outubro de 1922, dr. Balduíno inaugurou um obelisco que simbolizava o início dos trabalhos ferroviários em Pires do Rio. O título de cidade planejada vem do desenho do povoado que surgiu em torno da estação, como consta no mesmo arquivo disponibilizado pelo site do IBGE. “O povoado que começou a surgir em torno da estação foi projetado por Álvaro Sérgio Pacca, desenhista chefe da Estrada de Ferro Goiás, a quem o eng. Balduíno teria dito que ele veria o que seria a cidade dali 20 anos”. Porém a história tem dois lados. “Quem acredita que o cel. Lino é o fundador afirma que o eng. Balduíno ergueu, sem nenhuma ata ou ato oficial, o obelisco. Além disso, dizem que a planta feita pela Estrada de Ferro não foi executada. O cel. Lino haveria solicitado ao topógrafo da Estrada de Ferro, Moacir de Camargo, outra planta que melhor se adaptasse à topografia local”.

O livro escrito por João Albano Neto descreve um enérgico amanhecer de novembro na década de 1920, quando a população do povoado pôde contemplar a passagem do veículo sobre os trilhos: “O amanhecer de 9 de novembro de 1922 anunciava um belo dia, céu limpo, um grande movimento de gente em frente à estação, cavaleiros de todos os lados, Santa Cruz, Campo Formoso, Pouso Alto, Bonfim (Silvânia) e fazendeiros da região. Às 15 horas só se via cavalo amarrado no Cerrado, o tempo estava muito nublado, escurecendo antes da hora e começou a chover, quando se ouviu o barulho da máquina, muito distante. Um apito, de repente, deixou o povo admirado, e o trem continuou apitando enquanto se aproximava. O povo, em coro, gritava: – Obrigado, dr. Balduíno!”

Nos anos seguintes à inauguração da estação e da ponte, o povoado vivenciou um momento de intensa prosperidade, de acordo com o relato de João Albano Neto. “No início do mês de dezembro do ano de 1922, o novo arraial, Pires do Rio, crescia rapidamente e, em pouco prazo, cercou a Estação da Estrada de Ferro, as pranchas da Estrada de Ferro, os carreiros e as tropas transportavam as mudanças do Porto do Roncador, dia e noite. Dr. Balduíno de Almeida sentia-se feliz com o crescimento do povoado”. A chegada de novos moradores era frequente. “Durante o ano de 1923, o arraial expandiu-se, crescendo de maneira nunca vista em lugar nenhum deste Estado. Comerciantes, donos de oficinas, trabalhadores braçais, pedreiros, carpinteiros, aqui chegavam diariamente”.

 

image04

image03

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias