Opinião

Grande “Gramsci” Engodo

Redação DM

Publicado em 10 de novembro de 2016 às 02:00 | Atualizado há 9 anos

Parece natural e peculiar que a maioria dos seres humanos, ao adquirir conhecimentos diversos, muda a opinião, o jeito de ser, de pensar e de agir. As opiniões não são imutáveis e perenes, mesmo diante do vasto conhecimento já publicado e discutido em todo o mundo. Aliás, torna-se saudável a boa convivência, quando é administrada com paciência e aceitação de opiniões diferentes.

Também é fácil observar nos jovens a tirania impetuosa da revolta. Alguns deles aderem facilmente a protestos, mesmo sem saber a verdadeira causa do conflito. A escolha dos seus paradigmas e de seus heróis, geralmente é feita nas salas de aula ou nas conversas com amigos. Até mesmo uma estampa usada por alguma celebridade é instantaneamente copiada por vários.

É o que ocorre com a camiseta vermelha ou com a estampa de Che Guevara. Talvez aplaudida por alguns professores que focaram na sua contribuição histórica. Muitos usam de adorno no peito, sem questionar sobre a biografia torpe e da brutalidade desse revolucionário cubano.

Ninguém de nós pode se achar detentor de tanto conhecimento para liderar ou julgar uma nação inteira. Menos ainda impor tal filosofia, política ou religião. Talvez, esses três assuntos são sempre perigosos quando numa rodinha de opiniões diversas. A mesma dificuldade de um cristão converter um ateu pode ser averiguada numa quase impossível conversão de um petista que, de tão vermelho, chega a ser roxo. Uma simples discussão sobre o errôneo português da palavra “presidenta” já gerou brigas, injúrias e baixarias na internet.

O povo anda sempre à flor da pele. Parece que vivemos numa bilateralidade que não admite nulos, brancos, indecisos, anarquistas, conservadores e opiniões diversas. O assunto de hoje, inclusive, é um desses pisoteamentos de ovos.

O filósofo italiano Antonio Gramsci, que tentou adaptar o marxismo-leninismo para a realidade capitalista, teve sucesso e voz extraordinária principalmente na América Latina. Pois Gramsci, badalado nas cartilhas esquerdistas brasileiras (entre elas o tão massacrado Partido dos Trabalhadores), não pregou a revolução do proletariado, mas sim a conquista lenta e duradoura por meio de uma longa desestabilização moral de costumes e destruição de conceitos básicos da sociedade. A começar pela família e por instituições significativas como a do casamento.

Em vida ele pregou a “luta de massas”, foi preso por Mussolini nas masmorras do fascismo, onde escreveu seus famosos “Cadernos do Cárcere”. Mas quem pensa que ele deu voz somente à esquerda se engana. A adaptação de Gramsci por Benoist foi base do pensamento da “Nova Direita” alemã depois de 1985 (Gramsci e a Nouvelle Droit). A direta inclusive compeçou a se preocupar com a “hegemonia social” perdida pela esquerda.

Trata-se de um lento e terrível plano tão trágico, digno talvez de personagens como o famoso Cérebro (e seu parceiro Pink). Todas as tentativas de imposições e dominações são temerárias. O fanatismo e o ego de estar certo são fatores das maiores tragédias e guerras mundiais.

Enquanto isso, a outra bilateralidade entre Hillary e Trump também se finda num embate de acirradas asneiras, num jogo de palavras ríspido de um ringue de boxe. No Brasil, somos ameaçados de cortes de gastos por 20 anos, mas ninguém fala dos altíssimos gastos com salários e extras políticos que, sem contar com os desvios corruptos, dariam para sustentar o país por vários anos.

Quem são os seus heróis? Quem sabe você não troque uma celebridade vazia ou um revolucionário bizarro por alguém mais simples? Pode ser um pobre, mas rico de alma/espírito. Talvez mais generoso dos que conhecemos. Quem sabe alguém do povo… Quem sabe alguém que fez mais em ações e palavras do que nós mesmos. Até a próxima página!

 

(Leonardo Teixeira, escritor, escreve às quintas-feiras neste espaço. Contato: [email protected])

 

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