O vice de Bolsonaro foi infeliz nas declarações?
Redação DM
Publicado em 11 de agosto de 2018 às 21:56 | Atualizado há 7 anos
A escolha do vice de Bolsonaro trouxe um certo suspense no cenário político brasileiro, e parece até que a escolha foi propositalmente postergada, já que a legislação eleitoral não obriga que a indicação se dê no mesmo dia e hora da homologação da candidatura do cabeça de chapa.
Inicialmente, aventou-se a hipótese de trazer a advogada Janaína Paschoal para a vice, ela que ficou nacionalmente conhecida por ter patrocinado, junto com os juristas Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo, a peça que levou ao “impeachment” da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas, embora tida como certa até às vésperas da convenção, ela desistiu, alegando problemas familiares. Era uma escolha de certa forma estratégica para fazer calar a boca daqueles que acusavam o capitão-deputado de machista.
Logo depois, querendo ter um vice que professasse sua mesma ideologia, tentou debalde convencer o PRP a indicar o general Augusto Heleno como seu vice, mas o partido preferiu não se coligar com o PSL.
Após negociações frustradas com a advogada Janaína Paschoal e infrutíferas sondagens ao príncipe Luiz Phillipe, descendente da família imperial, o deputado confirmou a escolha do nome do general da reserva Antônio Hamilton Martins Mourão, filiado ao nanico PRTB como integrante de sua chapa, depois de ver frustrada sua intenção de ter como seu vice o senador capixaba Magno Malta, em razão de o PR ter fechado com o “Centrão” e decidido disputar a reeleição.
O partido de Mourão, presidido por Levy Fidélix, acrescenta pouco à coligação de Bolsonaro em termos estratégicos, pois leva apenas um segundo de televisão para o programa eleitoral de televisão e rádio do candidato.
Embora também seja militar, Bolsonaro tem um currículo bem mais modesto que o de seu vice no Exército. O presidenciável chegou a capitão, enquanto Mourão foi general de exército, a patente mais alta da corporação.
Nos últimos anos, Mourão passou a adotar um perfil linha dura semelhante ao de Bolsonaro, e, a exemplo deste, cultuando como heróis militares personagens repudiados pela esquerda, como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Antes de deixar o cargo de secretário de Economia e Finanças do Comando do Exército e seguir para a reserva, Mourão causou enorme polêmica ao defender, em uma palestra promovida pela maçonaria em Brasília em 2017, uma possível intervenção das Forças Armadas caso as instituições não resolvessem “o problema político”.
À época, o militar afirmou que ou o Judiciário retirava da vida pública “esses elementos envolvidos em todos os ilícitos” ou o Exército teria de “impor isso”. Muitos cobraram à uma punição exemplar para o general, mas o comedido comandante do Exército, general Villas Bôas preferiu resolver o caso internamente e acelerar a aposentadoria de Mourão.
Em 2015, o comandante do Exército já havia resolvido internamente outra polêmica, ao exonerar Mourão do Comando Militar do Sul e transferi-lo para a secretaria de Finanças após seu subordinado criticar abertamente o governo de Dilma Rousseff.
Consolidada a escolha de Mourão e registrada a chapa, cabem alguns comentários acerca dos vices escolhidos pelos principais protagonistas do circo mambembe que é a política brasileira.
Os principais candidatos dos treze confirmados em convenções são: Geraldo Alkmin (PSDB), Marina Silva (REDE), Ciro Gomes (PDT), Lula, ou Fernando Haddad (PT), e Jair Bolsonaro (PSL).
A vice de Alkmin, Ana Amélia, senadora pelo RS, fez carreira política denunciando esquemas de corrupção, embora pertença ao PP, um dos partidos com maior número de “clientes” na Lava Jato. Já foi citada, ao lado de Jair Bolsonaro, como uma das poucas parlamentares que não receberam dinheiro do “mensalão”. Nunca escondeu seu viés progressista, e para surpresa de muitos, aceitou fazer parte de uma coligação afundada até o pescoço em denúncias de corrupção. E desde já, está sendo muito criticada nas redes sociais e tem perdido milhares de seguidores a cada dia.
O vice de Marina Silva, Eduardo Jorge, ex guerrilheiro, participou da luta armada pelo Partido Comunista Brasileiro; foi preso duas vezes no governo militar por participação em inúmeros atentados à época. Atualmente filiado ao PV, é defensor do aborto, da legalização da maconha e contrário à redução da maioridade penal.
A vice de Ciro Gomes, senadora Kátia Abreu, é uma conhecida política que se acomoda apenas nos partidos que a prestigiam mais que aos outros; arrivista, fisiologista e aproveitadora ao extremo, apesar de ferrenha inimiga de Lula e de ter sido a principal responsável pela queda da CPMF, não se constrangeu em tornar-se ministra da Agricultura de Dilma, votando contra seu “impeachment”. Tem seu nome ligado a inúmeros casos de corrupção no Estado do Tocantins e é investigada na Lava Jato.
Manuela D´Ávila, Vice de Lula/Haddad, é a tradicional “comunista de iPhone”: defende regimes totalitários, chama a Venezuela de democracia e sempre que possível vai passar férias em Nova York. Manuela desistiu da própria campanha após oscilar nas pesquisas entre 0% e 2%, para ser vice de um candidato com inelegibilidade ameaçada, que obviamente não poderá sequer concorrer.
Na convenção do PRTB em São Paulo, Mourão fez um discurso em defesa da “paz social”. e elencou os valores que unem PSL e PRTB: “O bem comum do povo brasileiro, o bem comum do nosso País, a defesa dos nossos valores, a defesa da integridade do nosso território, da integridade do nosso patrimônio, de uma verdadeira democracia. Onde haja oportunidade para todos e todos ascendam pelos seus próprios meios. E não por esmolas. E onde haja paz social. Onde o banditismo, a criminalidade seja banida, e que nós possamos andar livremente pelas ruas do nosso País”.
A mídia “caiu de pau” em cima do general Mourão, alegando que ele teria sido preconceituoso com os índios e os negros, chamando os primeiros de indolentes e os outros de malandros. Quando Lula se referiu ao povo de Pelotas como protótipo de homossexuais, suas declarações não deram tanto ibope, mas as declarações de Mourão renderam a pecha de preconceito inaceitável, fazendo tempestade em copo d´água. Mas é de se observar que o índio estava em sua terra, foi escravizado e quase dizimado pelo branco, que vendeu a ideia de que ele é indolente, sem observar que sua “tecnologia” era rudimentar; e o negro, por sua vez, estava também estava na sua terra, em outro Continente, de onde foi arrancado, escravizado e humilhado pelo branco, que vendeu a ideia de malandragem. O vice de Bolsonaro pode até ter sido infeliz nas declarações, mas a imprensa se encarregou de superdimensionar o episódio, pois é moda adequar declarações às conveniências políticas, esquecendo-se de outras declarações bem mais contundentes, que foram esquecidas e caíram no vazio.
Embora os mais tradicionalistas achem estranho que um general venha a bater continência para um capitão, acabam concordando na semelhança de ideais, pois ambos são inegavelmente de posições extremistas de direita, para gáudio de seus seguidores, e preocupação principalmente para os envolvidos no cipoal da corrupção.
Não bastasse um Moro na Lava Jato, agora pode surgir um Mourão no Planalto.
(Liberato Póvoa, Desembargador aposentado do TJ-TO, Membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, Membro da Associação Goiana de Imprensa – AGI – e da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas – ABRACRIM – escritor, jurista, historiador e advogado, liberatopo[email protected])