Opinião

A sugestão e a fé como um mercado da enganação

Redação DM

Publicado em 4 de agosto de 2018 às 23:24 | Atualizado há 7 anos

Cau­sa-me mui­ta dú­vi­da e cu­ri­o­si­da­de o cha­ma­do fe­nô­me­no da su­ges­tão ou su­ges­ti­o­na­bi­li­da­de. O que vem a ser a ati­vi­da­de ou efei­to da su­ges­tão. Se­gun­do a psi­co­lo­gia é um pro­ces­so no qual uma pes­soa ou fa­to exer­ce in­flu­ên­cia na de­ci­são da ou­tra pes­soa. E a ques­tão de mos­tra com­ple­xa e de di­fí­cil com­pre­en­são em sua ori­gem e se­quên­cia  fun­cio­nal. Tra­ta-se de uma in­trin­ca­da ca­deia de efei­tos men­tais e psi­co­ló­gi­cos que a neu­ro­ci­ên­cia ten­ta ex­pli­car.  Neu­ro­ci­ên­cia que en­glo­ba a Psi­co­lo­gia, Psi­qui­a­tria e Neu­ro­lo­gia. O fa­to ou cir­cun­stân­cia ge­ra­dor do fe­nô­me­no qua­se sem­pre ad­vém de um ce­ná­rio não ra­ci­o­nal e não ci­en­ti­fi­co. Mui­tos dos efei­tos da su­ges­tão são mí­ti­cos, in­tui­ti­vos e mís­ti­cos, e sem pro­vas ob­je­ti­vas nos ra­mos das Ci­ên­cias.

Pa­ra dar mais fo­ro de com­pre­en­são ao fe­nô­me­no da su­ges­ti­o­na­bi­li­da­de po­dem ser ci­ta­dos ocor­rên­cias de fé re­li­gi­o­sa, de pseu­do­ci­ên­cias, de prá­ti­cas te­ra­pêu­ti­cas sem ba­ses ci­en­ti­fi­cas, cren­ça  nos li­vros de au­to­a­ju­da, acei­ta­ção da exis­tên­cia de óv­nis e dis­cos vo­a­do­res, cren­ça em as­tro­lo­gia, afei­ção por uma ide­o­lo­gia, se­gui­men­to e sim­pa­tia a uma equi­pe es­por­ti­va,  etc.

Co­mo mo­de­lo de su­ges­tão por fé re­li­gi­o­sa to­me­mos o com­por­ta­men­to do in­di­ví­duo que mu­ni­do de amu­le­tos e ou­tros sím­bo­los re­li­gi­o­sos in­vo­ca a in­ter­ces­são de Deus pa­ra a ob­ten­ção  de um re­sul­ta­do. Po­de­ria tam­bém  ser em um  jo­go de fu­te­bol, on­de du­as tor­ci­das pe­dis­sem a Deus a vi­tó­ria pa­ra o seu ti­me. Se­ria co­mo pa­drão as tor­ci­das do Ba­hia Es­por­te Clu­be e do Vi­tó­ria Es­por­te Clu­be, am­bos os clu­bes se­di­a­dos em Sal­va­dor BA.

Há quem opi­ne que se fun­cio­nas­se a con­ten­to, os jo­gos ter­mi­na­ri­am sem­pre em­pa­ta­dos. Por­que, no ca­so, Deus não po­de­ria ofe­re­cer re­sul­ta­dos de vi­tó­ria às du­as tor­ci­das. O jus­to se­ria mes­mo em­pa­te e um pon­to pa­ra ca­da clu­be e tor­ci­da.

Em ter­mos de pseu­do­ci­ên­cia um bom mo­de­lo se­ria a prá­ti­ca da as­tro­lo­gia. Tu­do que se diz em as­tro­lo­gia não tem ne­nhu­ma ba­se ou con­sis­tên­cia ci­en­ti­fi­ca. São me­ras pre­di­ções ou con­jec­tu­ras da in­flu­ên­cia por exem­plo da si­tu­a­ção de tal as­tro nos des­ti­nos e vi­da de uma pes­soa. Tal ex­pe­di­en­te se dá com o em­pre­go do ho­rós­co­po, dos sig­nos no zo­dí­a­co con­for­me a da­ta de nas­ci­men­to.

Que pro­vas exis­tem, que ex­pe­ri­men­tos pos­sí­veis po­de­ri­am se fa­zer  mos­tran­do  que o in­di­ví­duo nas­ci­do sob a in­flu­ên­cia de tal ou qual es­tre­la vai ter tais e qua­is des­ti­nos em sua vi­da? Aos cri­vos da ra­zão e das ci­ên­cias fi­ca im­pos­sí­vel tal con­clu­são. Os que acei­tam tal in­flu­ên­cia pa­de­cem sim­ples­men­te dos efei­tos da su­ges­tão. Co­mo ocor­re  com o  con­ven­ci­men­to dos inú­me­ros char­la­tões, às sol­tas, pe­lo pla­ne­ta  e vi­vem às cus­tas da ven­da de de­lí­rios e fan­ta­si­as. São os ca­sos che­ga­di­nhos de fres­cos dos  dou­to­res e dou­tras bum­buns. Quan­tos da­nos e mor­tes não ocor­rem pe­lo efei­to da su­ges­tão que tais char­la­tões exer­cem ?

Nos ra­mos das prá­ti­cas te­ra­pêu­ti­cas sem com­pro­va­ção  ci­en­ti­fi­ca te­mos des­de as di­e­tas da lua ou do mi­o­jo até as pí­lu­las pa­ra cu­ra da cal­ví­cie ou do cân­cer. Um ou­tro exem­plo re­cen­te  ti­ve­mo-lo com o  em­pre­go da ozo­ni­o­te­ra­pia. Um in­so­len­te exem­plo se dá com um mé­di­co de co­di­no­me Dr. Ozô­nio. A es­qui­si­ti­ce é ta­ma­nha que o in­só­li­to pro­fis­si­o­nal pro­põe a cu­ra até de in­fec­ção pe­lo HIV e ne­o­pla­si­as ma­lig­nas. Só mes­mo os abes­ta­lha­dos e sus­cep­tí­veis aos efei­tos da su­ges­tão pa­ra aco­lhe­rem tal pro­pos­ta te­ra­pêu­ti­ca . E eles exis­tem aos mi­lha­res e dão so­bre­vi­da a es­ses im­pos­to­res e aven­tu­rei­ros .

A pro­pó­si­to da ozo­ni­o­te­ra­pia não há na li­te­ra­tu­ra mé­di­ca ne­nhum es­tu­do du­plo-ce­go ou ex­pe­ri­men­to que com­pro­ve os seus efei­tos em do­en­ça sis­tê­mi­ca. Ain­da as­sim, mi­lha­res de pes­so­as acre­di­tam e pa­gam ca­ro por es­sas te­ra­pi­as. Is­so mos­tra o quan­to a men­te, a psi­que hu­ma­na é su­ges­ti­o­ná­vel e vul­ne­rá­vel à in­flu­ên­cia das in­fun­da­das fa­las e pro­pos­tas ali­cia­do­ras de ou­tras pes­so­as. Um re­gis­tro:  exis­te o em­pre­go das cha­ma­das câ­ma­ras hi­per­bá­ri­cas, com oxi­gê­nio. Mas com es­tri­to con­tro­le de mé­di­cos es­pe­cia­lis­tas no as­sun­to.

Um ou­tro exem­plo re­cen­te se deu com a cha­ma­da pí­lu­la do cân­cer. A sub­stân­cia em xe­que foi a fos­fo­e­ta­no­la­mi­na. Mi­lha­res de do­en­tes por­ta­do­res de for­mas avan­ça­das de cân­cer pas­sa­ram a usar as cáp­su­las de fos­fo­e­ta­no­la­mi­na co­mo uma cáp­su­la mi­la­gro­sa e úl­ti­mo avan­ço na cu­ra de sua do­en­ça. Pos­te­rior­men­te, com­pro­vou-se que  a pí­lu­la do cân­cer  e fa­ri­nha de tri­go ti­nham a mes­ma efi­cá­cia, ou se­ja,  ne­nhu­ma. As­sim se dá na cren­ça des­te e da­que­le mi­la­gre com a in­ten­ção de  an­ga­ri­ar a aten­ção ,  in­du­ção e cren­ça das pes­so­as. As­sim  en­ri­que­cem os au­to­res de li­vros de au­to­a­ju­da, as­sim se ve­em pes­so­as que cre­em de for­ma  fer­vo­ro­sa em óv­nis e dis­cos vo­a­do­res.

En­fim e ao ter­mo, são  exem­plos bem con­sis­ten­tes do fe­nô­me­no ge­ne­ra­li­za­do dos efei­tos da su­ges­tão. Pro­vas do quão ma­le­á­vel e da ins­ta­bi­li­da­de da men­te e da psi­que hu­ma­na.  agos­to/2018

 

(Jo­ão Jo­a­quim – mé­di­co – ar­ti­cu­lis­ta DM  fa­ce­bo­ok/ jo­ão jo­a­quim de oli­vei­ra  www.drjo­ao­jo­a­quim.blog­spot.com – What­sApp (62)98224-8810)


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