Política

Pré-candidato Weslei Garcia expõe pontos nevrálgicos do PSol

Redação DM

Publicado em 4 de agosto de 2018 às 01:50 | Atualizado há 7 meses

 Saiba mais sobre sua vice, Erenilda de Assis, negra e assentada de movimento da reforma agrária

 

Uma pulga atrás da ore­lha. É assim que as pes­soas ficam ao se identi­ficarem com um filiado do PSol. Talvez porque o candidato do partido, Guilherme Boulos, tem sua imagem associada à ocu­pação de imóveis pelo Brasil e isso causa medo e estranheza da população em geral. Para des­mistificar essa impressão é que a reportagem do DM procurou o professor Wesley Garcia, como fonte de esclarecimento para po­pulação em geral do que se tra­ta esse partido que está em voga chamado PSol. Na entrevista o leitor poderá entender por que o partido está próximo dos ocu­pantes de imóveis e terras, das minorias, da classe trabalhado­ra. Também poderá entender por que pessoas de todas as cor­rentes ideológicas se encontram no PSol, que abriga desde evan­gélicos a transgêneros. Confira quais são as bandeiras do par­tido, além de poder entender o que se passa na cabeça de um assentado: Erenilda de Assis é candidata a vice-governadora do professor Wesley e explica por que resolveu encarar o desafio de disputar uma chapa majori­tária por Goiás.

 

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

 

DM: Por que o PSol?

WG: “O PSol representa para mim aquilo que eu sempre defen­di e enquanto pessoa e enquanto militante, que é a luta contra as desigualdades sociais, ética na po­lítica, o acolhimento às pessoas, a luta pela solidariedade. O mais caro para mim, é saber com quem estou andando. O PT representa­va a esperança, as lutas sociais, a ética, ou seja, tudo aquilo que nós, da classe trabalhadora, almejáva­mos. O PT nos traiu, se aliou aos antagônicos da história da clas­se trabalhadora para chegar ao poder. O PSol surgiu desse rompi­mento, da ruptura com o PT. Eu estou no PSol desde a sua funda­ção. Tenho certeza que o PSol é um partido necessário hoje no atual cenário político brasileiro,é um partido importante, não só para a classe trabalhadora mas para todo o povo brasileiro.”

DM: Você acredita em Deus? Qual a igreja que você frequenta?

WG: “Sou evangélico e frequen­to a igreja Vida de Excelência, do pastor Marcos Braga.”

DM: Jesus Cristo era socialista?

WG: “Jesus Cristo era progres­sista. O Cristo que nós acredita­mos nasceu numa região que hoje é o oriente médio. A cidade onde Cristo nasceu está na palestina, si­tiada por Israel. Ele nasceu numa região que há época, geografica­mente falando, era considerada África. Então Jesus Cristo era afri­cano. O Cristo que eu acredito não é o loiro de olhos azuis, branco, pintado e esculpido pelas elites, mas ele era um Cristo negro. A lei judaica mandava apedrejar adúl­teros, e ele não deixou que atiras­sem pedras, a não ser aqueles que não tinham pecado, como um de­safio à lei então vigente, para não aceitar uma injustiça social, para defender uma minoria. O Jesus que eu acredito entrou no templo e dian­te da atividade mercantil, ele que­brou o templo, colocando para fora todos que estavam utilizan­do daquele espaço que deveria ser um local de oração e meditação para fazer comércio. Quantas igre­jas hoje que se dizem cristãs, que fazem comércio. Cristo não coa­dunou com isso. O Cristo que eu acredito é aquele que falava às mul­tidões, que andava com as pros­titutas, com a classe trabalhado­ra, com os publicanos, que não atendia aos interesses das elites, por isso, ele foi crucificado. His­toricamente ele era um líder re­volucionário, político para a sua época. E finalmente, o principal discípulo de Jesus que era Pedro, fazia parte de um partido comu­nista de esquerda que defendia a libertação do povo por um Messias armado. O partido se chamava Zelota. Então Jesus escolheu um homem de esquerda para ser seu principal discípulo. Quanto mais cristão sou, mais as desigualda­des sociais mexem comigo. Quan­do vemos uma criança que pas­sa fome em um assentamento do MST ou do MTST ou uma crian­ça de sete anos de idade, como eu presenciei, que precisa deixar to­carem no corpo dela em troca de um prato de comida, violando a infância, maculando parte da vida dela. Se isso não mexe com as eli­tes, mexe muito conosco.”

DM: O que acha da religião?

WG: “O termo religião vem de religar. As religiões hoje em dia muito mais separam o homem de Deus do que se aproxima. O que nos aproxima de Cristo são nos­sas práticas sociais, é o nosso dia a dia, como nós vivemos. Não é no falar bonito, no pregar, no orar ou no vestir .Muitos usam uma capa transvestidos de crentes, de católi­cos ou espíritas, etc. O que vale  é o que está no seu coração e as práticas cotidianas de cada um.”

DM: Quais são as causas do PSol?

WG: “Todas as causas do PSol são as causas de luta pela dignida­de humana, pela defesa dos direi­tos humanos. Os LGBT’s são seres humanos como eu. São pessoas que morrem todos os dias vítimas da intolerância, vítimas de um pre­conceito que está enraizado no ma­chismo, nesta sociedade patriar­cal, que profere um cristianismo que não é verdadeiro, impregna­do à religiosidade. Isso tem que ser combatido. A sociedade atual não pode mais conceber pessoas mor­rerem ou serem agredidas porque são negras, porque são LGBT’s. A discussão hoje no Brasil para mim tinha que ser Aécio Neves, Demós­tenes Torres, que são pessoas sus­peitas de corrupção. A discussão deveria ser sobre o caráter do polí­tico. Mas a preocupação de todos segue a linha do preconceito que é vil. O PSol tem no seu programa a defesa de todas essas bandeiras porque se constituem na defesa dos direitos humanos, acima de qualquer outra coisa.”

DM: O que pensa do Estado de Goiás?

WG: “O Estado de Goiás vive um atraso dentro da política por culpa desses governos, não apenas nos últimos 20 anos, mas também por causa do então PMDB do ex­-governadores Maguito Vilela, Iris Rezende e Marconi Perillo: Hoje vivemos um política de retirada de direitos no Estado de Goiás. De privatizações, de terceirizações. Exemplo: a Celg foi privatizada pela Enel, por 2,2 bilhões. Metade disso, 1,1 bilhão ficou para o Esta­do. A outra parte foi para a União. Aí vem o governador Marconi Pe­rillo e a Assembleia Legislativa de Goiás e perdoa as dívidas da Enel, que acabara de assumir o contro­le, em 3 bilhões. É uma conta que não bate, uma ação no mínimo questionável. Existem as subesta­ções da Saneago que funcionam em poucos municípios algumas su­bestações foram terceirizadas. E fi­nalmente eles querem privatizar a água, sem falar nas nascentes que estão sendo destruídas sem que o governo desenvolva uma política para evitar esse desastre ecológi­co. A Saneago não consegue fazer o que precisa por causa do suca­teamento do serviço público, da falta de estrutura e agora com as subestações. A Saúde pública não funciona, mesmo após a implanta­ção das OS’s. O que a imprensa na­cional e de Goiás aponta é que há um gargalo de corrupção nas Or­ganizações Sociais. É preciso aca­bar com isso. As OS’s na educação não foram pra frente por causa do movimento estudantil que im­pediu, mas notamos a militariza­ção das escolas. Ou seja, o gover­no de Goiás sucateia, famigera e destrói todos os serviços públicos para justificar as privatizações e terceirizações. Precisamos discutir os direitos humanos no Estado de Goiás. Vivemos em um Estado que figura entre os maiores índices de violência doméstica. As mulheres são assassinadas todos os dias em Goiás, pelos companheiros, cônju­ges e pessoas próximas. Também é um dos Estados que mais mata negros e LGBT’s. Trabalho escra­vo precisa ser discutido tam­bém. Avicegovernadora da minha chapa, Ere­nilda, que é assentada de movimento de luta por reforma agrária, foi vítima de trabalho escravo. Então, este é um debate que in­teressa à sigla.”

DM: Quais são seus projetos de governo?

WG: “Além de acabar com as privatizações e as terceirizações que eu acabei de elencar, na edu­cação especificamente pretendo devolver a titularidade dos pro­fessores que foi retirada; imple­mentação da jornada ampliada; reestruturar a gestão democrática com eleições voltadas para a co­munidade escolar, diretor, coor­denador, supervisor e toda a coor­denação pedagógica; a defesa de melhorias para os funcionários públicos do Estado com valoriza­ção do plano de cargos e salários. Vamos criar na educação a escola politécnica, com educação inte­gral onde o estudante em um pe­ríodo cumpre a grade curricular, e no contraturno ele terá práticas esportivas, culturais como pintu­ra, balé, lutas esportivas, natação. As escolas politécnicas surgem do modelo cubano, que hoje é con­siderado o modelo educacional mais eficaz do mundo, são escolas ovaladas, com jardins e piscinas, com um galpão, horta e até pa­daria, para que os alunos apren­dam de forma divertida e proati­va. Para a saúde, vamos acabar com as OS’s e vamos criar um mo­delo de gestão de saúde chama­do ‘saúde em casa.’ Um modelo socialista que já deu certo em al­guns lugares do Brasil, foi imple­mentado no Distrito Federal de 94 a 98 e deu certo. Uma equipe composta de médicos, enfermei­ros e agentes de saúde que farão atendimento em domicílio a partir de um mapeamento por bairros. Além do saúde em casa, vamos re­cuperar o laboratório do Iquego que está abandonado, para pro­dução de medicação para toda a população. Saúde não está pauta­da apenas na construção de hos­pital, embora faremos isso com a construção do Hugo do entor­no bem como priorizar a constru­ção dos hospitais cujas obras estão abandonadas em todo o Estado dentro dessa concepção de ‘aco­lhimento às pessoas.’ Um pacien­te já é maltratado no guichê logo que chega para ser atendido, por­que o funcionário do guichê já está estressado com tanto atendimen­to, de modo que precisaremos re­ver tudo isso. O acolhimento será a nova concepção de serviço pú­blico de saúde em nossa gestão.”

 



O PT representava a esperança, as lutas sociais, a ética, ou seja, tudo aquilo que nós, da classe trabalhadora, almejávamos, e nos traiu, se aliando aos antagônicos da história da classe trabalhadora para chegar ao poder. O PSol surgiu da ruptura com o PT”

 

O governo de Goiás sucateia, famigera e destrói todos os serviços públicos para justificar as privatizações e terceirizações”

 

 

Erenilda de Assis, a vice, mulher negra e assentada da reforma agrária

O PSol confirmou por unani­midade em convenção realizada no dia 29/07 a candidatura do pro­fessor Weslei Garcia a governador e de Erenilda de Assis com candi­data a vice-governadora. Nildinha, como é conhecida, é mulher ne­gra e assentada da reforma agrá­ria. Hoje tem terra em Cristalina e mantém em sua propriedade la­voura irrigada.

Erenilda tem uma bandeira: a defesa do trabalhador rural. Ela afirma que aquele que vive nos as­sentamentos, quer seja assentado ou acampado, não tem uma ges­tão política voltada para si. Tam­bém atuará na defender a mulher do campo, da criança e do adoles­cente, que vive sofrendo na área rural por falta de políticas públicas como segurança e educação.

Ela conta que a mulher do cam­po é muito sofrida, pois é a primei­ra que levanta: às 4 horas da ma­nhã para tirar leite. As crianças e os adolescentes do campo já estão na rua às 2 horas da manhã, andando 40 quilômetros de estrada de chão para chegar à escola. Erenilda quer lutar pela dignidade dos homens e mulheres do campo, porque avalia que esta não existe.

“O problema é que o Incra as­senta a pessoa mas não faz nada além disso. Tenho 20 anos de as­sentamento, e muitas famílias de lá até hoje não têm energia. O fato de alguns terem energia e outros não é motivo de desigualdade den­tro de um mesmo assentamento, e traz indignidade para quem não tem. Não temos água encanada, por isso a água que consumimos é a da represa, o que é complicado, pois água não é tratada. No assen­tamento somos 236 famílias e ser assentado da reforma agrária não é fácil. Eu perdi dois irmãos na época que eu ainda estávamos acampa­dos, os quais foram vítimas do tra­balho escravo e mortos porque não quiseram pagar os encargos traba­lhistas. Meus irmãos se foram, e eu fui à luta. Enfrentei bandido, com­prador de lote,e resisti.

Hoje ela é proprietária de terra em um assentamento no municí­pio de Cristalina e administra, jun­tamente com seu marido, lavou­ra de feijão, mandioca, hortaliças, uma pequena criação de porcos e gado. Ela mesma planta sua lavou­ra de irrigação, faz farinha e do lei­te produz derivados. É uma mulher de luta que não tem medo de traba­lhar, e finaliza: “tem que ter amor, luta, dedicação e determinação.”

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