Entretenimento

A Pensão Manduca e a República Tocantinaragua

Redação

Publicado em 14 de julho de 2018 às 23:37 | Atualizado há 4 meses

Foto do acervo de Rosinha Hermano

1 – Maximiano da Matta Tei­xeira

2 – Deputado João D’ Abreu

3 – Escritor José Lopes Rodri­gues

4 – Poeta José Décio Filho

5 – Desembargador Rivadávia Licínio de Miranda

6 – Deputado João Baptista de Abreu Cordeiro

7 – Manoel José Hermano (Manduca)

8 – Professora Amália Her­mano Teixeira (filha do casal Mandunca e Archângela)

9 – Rosinha Hermano (filha do casal Mandunca e Archân­gela)

10 – Archângela Pereira Her­mano

 

Localizada, no Largo do Morei­ra, na Cidade de Goiás, anti­ga capital do Estado, a Pen­são Manduca confrontando com a casa do histórico artista plástico vilaboense Octo Marques, a Pen­são Manduca, de propriedade do casal Manoel José Hermano, co­nhecido como Manduca e de Ar­chângela Pereira Hermano abriu suas portas, no final da primeira metade da década de 1920.

Quase concomitante à Pensão Manduca e a seu lado, na rua que desce do Largo do Moreira des­pencando para as bandas do Mu­seu das Bandeiras foi a vez da Re­pública Tocantinaragua abrir suas portas, tal qual a pensão, acolher, principalmente, jovens estudantes do Norte e Nordeste de Goiás, em cujas veias e almas corria o senti­mento secular da criação do esta­do de Tocantins.

O casal empreendedor das ca­sas de hospedagem era natural de Natividade, antigo norte goiano, município que atualmente habi­ta o estado-irmão do Tocantins. Lá, em 28 de abril de 1888, nasceu Manduca, vindo a falecer em Goiâ­nia, em 23 de dezembro de 1973. Archângela, de 1898, portanto, dez anos mais nova, também, faleceu em Goiânia, no ano de 1985.

Em Natividade, Manduca foi conselheiro (vereador), sapateiro, proprietário de terras e gado. Logo após a chacina do “Duro”, ocorrida em São José do Duro, atual Dia­nópolis (TO), acontecimento ro­manceado por Bernardo Élis, em o Tronco, levado às telas de cine­ma, a família Hermano temendo represálias deixou o eito natal em direção a Curralinho, hoje Itabe­raí. No livro: Perfis, pessoas que marcaram minha vida, da filha de Manduca, Amália Hermano, o pai narra: […] Depois do barulho do Duro, deixando nossas proprieda­des, nosso gado, em dois sofridos meses nas estradas em lombo de animais, afinal, numa tarde de lou­ca ventania, o pó vermelho e fino em redemoinhos pelos ares, che­gamos a Curralinho […].

Segundo a filha do casal Rosa Hermano (Rosinha) entrevista­da para a composição desse tex­to, disse que enquanto o escritor Bernardo Élis elaborava o livro, O Tronco, por diversas vezes estive­ra com seu pai em busca de in­formações sobre o acontecimen­to sangrento. Manduca, ajudou e muito Bernardo Élis, em seu in­tento, mas toda informação ficou no anonimato da fonte.

Paralelamente ao funciona­mento da Pensão Manduca e da República Tocantinaragua, o casal ainda empreendeu uma confeita­ria, iniciativas de existência na Ci­dade de Goiás até 1937, quando a família mudou para Goiânia, tra­zendo na bagagem a Pensão Man­duca que primeiro funcionou no bairro de Campinas, depois na Rua 16, centro, já no último ato como Hotel Manduca, na Avenida To­cantins, quando foi vendido para dona Mariquinha, mãe do atual reitor da UFG, Edward Madureira.

Voltando para as bandas da minha amada Cidade de Goiás, para os estudantes da Repúbli­ca Tocantinaragua e ilustres hós­pedes da Pensão Manduca, des­taque-mor para João D’ Abreu como defensor dos interesses do então Norte Goiano. O Livro Lon­gas Travessias, sertão de Goiás, décadas de 1930/1940, organi­zado pela sua sobrinha-neta de João D’ Abreu, a escritora e ar­quiteta, Narcisa Abreu Cordeiro e pelo editor Antônio Almeida diz sobre esse histórico nortense:

Portador de uma bela trajetó­ria política e humana, tem lugar destacado na historiografia goia­na e tocantinense. Natural de San­ta Maria de Taguatinga, atual es­tado do Tocantins, Tijoca, como era conhecido entre os íntimos, nasceu em 4 de julho de 1888, fi­lho de Josino de Abreu Caldei­ra e Ricarda d’Alcântara e Silva, descendente da família real bra­sileira. Fez os primeiros estudos em Arraias e o secundário na Ci­dade de Goiás, no Lyceu de Go­yaz. Sua primeira graduação su­perior, em Odontologia, deu-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1911, toman­do-se, segundo pesquisadores, o primeiro goiano a obter essa gra­duação. Anos mais tarde, em 1925, bacharelou-se em Ciências Jurí­dicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Goiás. De intensa vida acadêmica foi professor da Facul­dade de Pharmacia e Odontologia de Goiás e da Faculdade de Direi­to de Goiás, onde ministrou as ma­térias: Economia Política, Ciências das Finanças, Direito Penal, entre 9.11.1931 e 1411.1945. Sua carrei­ra política começou como inten­dente (prefeito) de Arraias (1911). Foi deputado estadual e presiden­te da Assembleia Legislativa do Es­tado de Goiás, governador interi­no em Goiás (1937). Por três vezes, deputado federal (1946-1958) e vi­ce-governador de Goiás, entre 31 de janeiro de 1959 a 31 de janeiro de 1961, no governo de José Fe­liciano Ferreira. Encerrou a car­reira política, tal qual começou, como prefeito de Arraias (1968- 1972). Contribuiu politicamente para a construção de Goiânia, de Brasília e a criação do estado do Tocantins. Jornalista foi fundador dos periódicos:

A Bigorna, O Norte, em Arraias; e o Odontiatra, na Cidade de Goiás, em 1926, esse considerado o pre­cursor no Brasil de temática Odon­tológica. Foi membro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro e da Associação Goiana de Imprensa. É Patrono da Cadeira n’’ 26 da Academia Tocantinense de Letras. Faleceu em Goiânia, no dia 27 de outubro de 1976.

Outros importantes nortenses que residiram ou se hospedavam na Pensão Manduca e a Repúbli­ca Tocantinaragua

João Baptista de Abreu Cordei­ro–Nasceu em Arraias, hoje To­cantins (GO) no dia 8 de outu­bro de 1910. Sobrinho de João D’ Abreu. Formou-se em Odonto­logia pela atual Universidade Fe­deral do Rio de Janeiro, em 1937. Graduado em direito pela Univer­sidade Federal de Goiás. Deputa­do estadual por Goiás, em dois pleitos, entre 1959 e 1967. E de­putado federal entre 1967 e 1971. Foi diretor da Loteria do Estado de Goiás e Procurador Geral da Fa­zenda junto ao Tribunal de Contas do município de Goiás. Foi profes­sor na Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade Fe­deral de Goiás. Faleceu em Goiâ­nia, no dia 31 de agosto de 2011.

José Lopes Rodrigues – Nas­ceu em Almas, hoje Tocantins, no dia 1º de dezembro de 1908. Fez os estudos primários em Natividade, em Barreiras (BA) e em Salvador, onde foi cole­ga de do escritor Jorge Ama­do. Estudou no Lyceu da Ci­dade de Goiás e bacharelou-se em Direito. Lecionou na Esco­la Técnica Federal. Foi autor da letra do Hino do Congres­so Eucarístico, realizado em Goiânia, em 1948. Era mem­bro da Academia Goiana de Letras e do Instituto Históri­co e Geográfico de Goiás. Fa­leceu em Goiânia, no dia 8 de agosto de 1990.

Amália Hermano Teixeira– Esposa do desembargador Ma­ximiano da Matta Teixeira, cuja biografia foi visitada na edição de domingo passado da Coluna, também residiu na República To­cantinaragua. Amália nasceu em Natividade, hoje Tocantins, no dia 23 de setembro de 1916. Fi­lha de Manoel José Hermano e Archângela Pereira Hermano. Fez os estudos primários com sua tia mestre Cazuza, em Itaberaí (GO), e na Cidade de Goiás. Normalis­ta pela Escola Normal do Estado. Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Goiás. Foi professora Catedrá­tica do Instituto de Educação de Goiás, Professora de História da Universidade Federal de Goiás, secretária e Diretora da Imprensa Oficial do Estado, chefe do Servi­ço de Clubes Agrícolas do Estado e colaboradora especial da gran­de Enciclopédia Delta- Larousse. Era membro da Associação Goia­na de Imprensa, da UBE (GO), da Sociedade Botânica do Brasil e presidiu a Sociedade Goiana de Orquidófilos. Faleceu em Goiâ­nia, no dia 28 de abril de 1991.

NORTENSES POR AFINIDADE

José Décio Filho–Embora nas­cido em Posse (GO), no dia 8 de ju­nho de 1918, próximo à divisa do Estado-irmão do Tocantins, teve importante atuação como jorna­lista, poeta e gestor cultural, so­bretudo, intensa convivência com os nortenses da Pensão Manduca e da República Tocantinaragua, onde residiu durante seu tempo de estudante no Lyceu da Cidade de Goiás. Amizade nortense cul­tuada por toda sua vida. Foi fun­cionário do IBGE, redator da his­tórica Revista Oeste, lançada como parte integrante do Batismo Cultu­ral de Goiânia. Foi diretor do De­partamento estadual de Cultura e presidente da União Brasileira de Escritores, Seção de Goiás. Escre­veu assiduamente para os jornais, entre eles: O Tocantins, O Popular e O Anápolis. É autor do Poemas e Elegias, prêmio Bolsa de Publi­cações Hugo de Carvalho Ramos. Faleceu na Cidade de Goiás, em 4 de junho de 1976.

Rivadávia Licínio de Miranda – Nascido em Campos Belos (GO), no dia 1º de junho de 1916, sua ci­dade ficou no limite dos beirais quando da criação do estado do Tocantins em 1988. Iniciou seus es­tudos em sua terra natal, passando pelo Liceu da Cidade de Goiás, pe­ríodo em que morou na República Tocantinaragua. Graduou-se em Direito, pela Faculdade de Direito de Goiás em 1944. Foi funcionário da prefeitura de Catalão (GO), das secretarias de Interior, Justiça e Se­gurança Pública. Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, tornou-se presidente da Instituição em 1972. Faleceu em Goiânia, no ano de 1982.


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