Goiás guarda tesouros em antiguidades
Diário da Manhã
Publicado em 4 de julho de 2018 às 01:53 | Atualizado há 4 meses
- Antepassados trazem consigo bagagem cultural que os insere na rota do comércio de antiguidades comparáveis a qualquer outro lugar do mundo
Feiras de antiguidades e foram o ambiente em que o antiquário José Maria de Alencastro Pelles cresceu. Apesar de ter nascido em Goiânia, foi criado em Goiás Velho até os 16 anos. Quando ele tinha 14 anos, em 1972, Antonina Bahia Borges, mais conhecida como Tia Tó, guardiã do patrimônio da cidade de Goiás, o convidou para ser guia e trabalhar no Museu de Arte Sacra da Boa Morte, localizado em frente ao Palácio Conde dos Arcos, onde está guardado o maior acervo de obras de Veiga Valle e também teve como mestre Consuelo Caiado, Jota Mape como é conhecido, criou-se em meio a um ambiente rico em cultura e história, de onde florou essa vocação em trabalhar com peças antigas.
Formado em relações públicas e jornalismo, Jota Mape é dono de um acervo admirável, o qual guarda em seu apartamento, e comercializa. Define esse tipo de negócio como exclusivo e caro, pois as peças de antiguidade são catalogadas ou assinadas, de variadas datas, de acordo com a oportunidade do achado.
“A pessoa nasce com esse dom, e aperfeiçoa. Antes de comerciante, sou um colecionador, que resolveu dispor de seu acervo, o que virou profissão”, avalia sobre a sua vocação com antiguidades.
Em seu acervo encontramos móveis franceses datados do século XIX, peças de cristal Bacarrat, Lalique, Gallé, Daum Nancy, Loetz, porcelanas chinesas e alemãs do século XIX dentre outras.
Jota Mape explica que não há necessidade de viajar o mundo atrás de antiguidades, pois peças assinadas chegam ao Brasil. O trabalho é de garimpeiro, de modo que hoje possui peças das melhores marcas, e muitas estão catalogadas, como prova com as fotos de livros especializados. “O Brasil tem peças do mundo inteiro, e não perde para nenhum outro lugar do mundo, nem Buenos Aires”. Seu acervo possui peças exclusivas como a ‘Maternidade’ do escultor Luidi Brizzolara, o mesmo que fez toda a estatuária da Praça Carlos Gomes, ao lado do Teatro Municipal em São Paulo. Lembra que é de autoria dele o Bandeirante Anhanguera em mármore carrara que se encontra em frente ao Masp em São Paulo.
“A beleza é um dom de Deus”, afirma, se referindo às grandes obras de arte da humanidade, dentre as quais cita o Vaticano e a Capela Sistina.
“O meio cultural em que fui criado me forjou um desbravador de antiguidades. Não fui levado à alta sociedade, porque nasci nela, faço parte dela. Educação vem de berço. Eu nasci em alicerce de pedra”, explica Jota Mape.
Descendente de libanês, cita que a história de seus ancestrais remontam a 5 mil anos. Sua família veio do Líbano para Goyaz, mais precisamente da cidade de Azhle, que é considerada a princesa do Líbano, em 1890, o que os faz os primeiros libaneses do Estado. Felipe Pelles, seu avô, foi apoiado por Antônio José Caiado, que era presidente da província de Goyaz, e secundado por Felipe Baptista de Alencastro, que foi o maior comerciante da época. De lá para cá, houve a miscigenação dos Caiados com os Pelles, de modo que Antônio José Caiado é seu ascendente. Importante frisar que há uma linha hereditária libanesa proveniente de Goyaz, o que torna aquela cidade rica em história e amizades, já que os libaneses gostam de viver em família. Sua mãe, Eunice Alencastro Pelles, é neta e bisneta dos caiados por parte de mãe, Joaquina Caiado de Souza que era irmã do Antônio José Caiado.
Define sua família como honesta e unida, finaliza: “ninguém mexe com os Caiados por causa disso. Somos numerosos e temos história”.
A arquiteta e urbanista Taisa Bueno é gerente de uma loja de móveis contemporâneos avalia que mesclar antiquários com esses móveis é o que ela denomina da ‘mix inteligente’, pois uma casa com móveis apenas contemporâneos fica um pouco fria. De igual modo, uma casa apenas com móveis clássicos, fica pesada. A mistura deve ser assertiva, pegando uma peça de antiguidade assinada com um mobiliário atual. Essa composição dá equilíbrio, e é o resultado que todos procuram. A casa fica despretensiosamente ‘chic’, que é a nossa proposta: não o ‘chic’ por imposição, mas a peça de família, herdada ou adquirida revela tradição porque tem história, o que é de muito bom gosto. As pessoas são forjadas pelo conhecimento, e o conjunto de experiências fazem a sua essência, e isso é valoroso.
Revela que o que está na moda em mobiliário é exatamente o resgate das peças de família, misturadas com o dia a dia de cada um, o que dá contemporaneidade ao ambiente. Cada casa tem a sua história e cada peça de antiguidade tem a sua digital.
Os móveis atuais são mais leves, mais simplificados, e tendência é guiada pela máxima ‘o menos é mais’, de madeira de reflorestamento em conjunto com a tendência mundial da preservação das matas e dos biomas existentes. As peças em algodão ou couro, que são naturais, estão em alta.
Taisa Bueno explica que estilo é questão de foro íntimo, e cada um tem o seu. Por isso, a ideia é deixar cada casa com seu estilo, sua história e sua identidade. E arremata: “O mobiliário deve compor com a herança cultural de cada pessoa, e as peças de antiguidade lembram o som da ‘bossa nova’, que passou pela ancestralidade de quem se forjou naquilo que houve de melhor. A casa é qualidade de vida, e dentro da rotina de cada pessoa é que a casa vai ser adaptada, para dar prazer a quem ela pertence. Se a pessoa gosta de receber, ela vai querer mais assentos. Se ela gosta de leitura, o que lhe agrada é uma chaise assinada ou uma poltrona super confortável. Por isso, a máxima é ‘casa gente’, por que a satisfação é essencial.”