Lamentável, as eleições de 2018
Redação DM
Publicado em 25 de outubro de 2018 às 23:36 | Atualizado há 7 anos
Pouco me interessa quem vai assumir a cadeira presidencial, embora considere de suma importância a função. O desinteresse fica por conta da forma pela qual o processo de escolha transcorreu. Sob todos os aspectos, lamentável. Não consegui abstrair nada de programa ou meta que possa realinhar a locomotiva nos trilhos. Deve ser o meu profundo despreparo sobre a matéria que não me permitiu enxergar para onde seremos levados.
Contudo, fiquei bastante preocupado com o acirramento das pessoas, mais apaixonadas do que em outras ocasiões, quando as redes sociais foram transformadas num ringue cujos golpes verbais foram de um vale-tudo que vai ser difícil refazer muitas amizades colocadas em xeque. Muito ódio esparramado. A sociedade não se apercebeu que foi estumada pelos postulantes ao cargo, sendo transformada em massa de manobra para que alcancem seus propósitos, pelo que antevejo nada republicanos.
A nação está dividida. A engenhosidade dos extremos aproveitou das carências de uma população órfã de políticos equilibrados e comprometidos com o bem público e ocupou o vácuo deixado. A baixeza foi a tônica da campanha.
Uma pergunta está calada dentro de mim: quem vai entrar terá maestria para pacificar as gentes que ele próprio contribuiu para desunir? Para mim, é tarefa para estadista. E não vejo, por enquanto, tal quilate se aproximar do Planalto.
O rancor parece ter ocupado cada esquina do País. A desconfiança é a fiadora de cada um dos lados. Vai vencer um percentual que não representa a legitimidade que possa ser colocado acima de qualquer suspeita. O exemplo vivenciado pelos EUA se espalhou como erva daninha e veio parar em nosso chão.
Diz o bom senso, se não estou enganado, que usemos a internet que serviu para nos desunir e, com a mesma velocidade, refaçamos os nossos compromissos com a paz e com a busca de um desenvolvimento sustentável no princípio de brasilidade. É, porque estadista não temos mais.
O pacto social construído pela própria sociedade não tem força que o destrua!
(Iram Saraiva, ministro emérito do Tribunal de Contas da União)