Intelectualidade e Vinho
Diário da Manhã
Publicado em 25 de outubro de 2018 às 02:28 | Atualizado há 4 meses
Com o amor dá-se o mesmo que com o vinho. Perdoem-me os leitores a pouca elegância da confrontação; mas bem vêem que ambos se embriagam. Nunca beba vinhos para esquecer, mas sim para se transportar para outras dimensões de prazer! Estar curtindo um Pôr do Sol no fim da tarde degustando um bom rótulo é simplesmente divino, mas já lhes digo que este sublime colóquio poderá terminar usando sua boca como cálice!
Resolvi escrever a coluna Prazeres à Mesa relatando um pouco sobre o livro que acabei de ler e gosto de compartilhar com os meus leitores. O vinho é uma bebida velha, antiga, neolítica. Ele foi consumido ao longo de toda a história de que temos registro. No entanto, o vinho como conhecemos hoje é relativamente novo. O local onde se originou, o seu gosto, o que representava e o modo como se transformou ao longo do tempo são temas explorados no fascinante novo livro de Paul Lukacs, “Inventing Wine: A New History of One of the World’s Most Ancient Pleasures” (“Inventando o Vinho: Uma Nova História de um dos Prazeres Mais Antigos do Mundo”, em tradução livre).
Uma coisa fica clara na obra de Lukacs: a maior parte dos vinhos – ao longo de grande parte da história – foi repugnante e desagradável. Se um crítico do passado tivesse nos legado uma resenha acerca da degustação do tipo de vinho que a maioria das pessoas bebia, possivelmente diria “imprestável, horrível, avinagrado, imundo”. No entanto, as pessoas o bebiam mesmo assim, porque não tinham escolha. Outras bebidas, como água e leite, estavam repletas de doenças. O gosto do vinho podia ser terrível, mas tinha um desinfetante embutido: o álcool.
Foi apenas a partir da Renascença, escreve Lukacs (que, quando não está pesquisando vinho, é professor de Inglês na Universidade Loyola de Maryland, em Baltimore), que surgiram noções familiares para discernir características da bebida. Só então os enófilos – um grupo diminuto, para ser claro – começaram a associar estilos particulares e qualidades no vinho a lugares específicos: uma ideia incipiente de terroir. Além disso, foi apenas nessa época que os enófilos bem informados começaram a perceber que alguns vinhos podiam ser apreciados intelectual e emocionalmente, e não apenas fisicamente, e que os melhores vinhos transmitiam uma sensação de equilíbrio, duração e profundidade.
Contudo, foi realmente com o Iluminismo, no século 18, quando uma série de revoluções começou a transformar a nossa compreensão do cultivo da uva, da produção de vinho e do armazenamento do vinho, que a bebida começou a se assemelhar ao que associamos a ela hoje. “Somos todos filhos do Iluminismo, não de Platão e Aristóteles, mas de Locke e Rousseau”, disse Lukacs recentemente. “Foi quando o vinho moderno surgiu.”
Outras mudanças também ocorreram. À medida que o abastecimento de água foi se tornando mais seguro, as pessoas passaram a não precisar consumir necessariamente vinho. Ele se tornou uma escolha. Era possível apreciá-lo em vez de bebê-lo, de modo que o vinho tinha de se tornar mais atraente.
No entanto, no início do século 20, o vasto conjunto de vinhos existentes podia ser dividido em dois grupos: uma pequena quantidade de vinhos finos, ou “vin fin”, apreciada pelos paladares exigentes; e a maioria dos outros vinhos, “vin ordinaire”, baratos e abundantes, mas não muito bons e frequentemente muito ruins. “A diferença entre os melhores vinhos e os outros era fenomenal”, disse ele.
O vinho gozou de uma breve era dourada no século 19, com a rápida ascensão de uma classe média com recursos econômicos e aspirações culturais. No entanto, enfrentou um período difícil no final do século 19, quando os vinhedos europeus foram atacados por pragas, contratempo seguido por guerras mundiais, depressão econômica, a moda das aguardentes e dos coquetéis e a Lei Seca. Ainda assim, o vinho veio a ressurgir.
De modo talvez um pouco presunçoso, eu – enquanto degustava uma garrafa de vinho Chileno, um tinto deliciosamente fresco da vinícola Conha Y Toro – comecei a pensar que tenho sorte por viver nos dias de hoje, talvez a melhor época da história para ser estudiosa em vinhos. Sentada em um restaurante de São Paulo, tenho acesso a uma diversidade de vinhos maior que a experimentada em qualquer outro momento da história, tendo acesso a rótulos de bem mais locais e estilos.
Eu sempre tive interesse pelo vinho. Meu pai, cigano, bebia vinho regularmente. Eu me interessei pelo vinho ao cursar Gastronomia na Universidade Cambury, quando me juntei a um grupo de estudos que rapidamente se revelou um grupo de enófilos. O que me interessa no vinho é o fato de ele ser muito, muito rico intelectualmente. A pessoa não precisa conhecer o vinho, mas acaba querendo saber mais sobre ele. Este livro me fascinou e para quem gosta de vinhos como eu, vale a leitura!
E para terminar, o amor é como um bom vinho, à medida que envelhece só fica melhor. Meus leitores, existem muitas maravilhas que você vai encontrar em cada taça a cada medida que o tempo passa. O paladar, a sensação do amor é como provar um cálice do melhor vinho, da melhor safra envelhecida, da melhor produção de um dedicado enólogo, no banquete do cortejar do prazer.
RECEITA DA SEMANA
POLPETONE DE FORNO
Uma receita deliciosa e bem italiana. Aqui preparei uma sugestão de polpetone de forno, recheado com mussarella e coberto com molho de tomates frescos. Harmoniza com um bom vinho italiano.
INGREDIENTES:
1,2 kg de carne moída (sugestão: alcatra ou patinho)
12 fatias de pão de forma branco sem casca
1 cebola picadinha
2 colheres (sopa) salsinha verde picada
3 ovos
1 pimenta dedo de moça sem semente
3 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado
10 dentes de alho triturados
Aproximadamente 350ml de leite
400g de mussarela em cubinhos
PARA EMPANAR:
2 ovos
Aproximadamente 2 xícaras (chá) de Farinha de rosca
1 colher (sopa) de páprica doce
Molho de tomates frescos:
3 colheres (sopa) de azeite
5 tomates italianos grandes
2 dentes de alho triturados
1 colher (sopa) de orégano
Sal e pimenta do reino a gosto
Pitada de açúcar
2 colheres (sopa) de manjericão fresco picado
Folhas de manjericão para decorar
MODO DE PREPARO:
1- Em uma tigela disponha o leite, mergulhe os pães e esprema bem para que fique somente com os pães umedecidos.
2- Em outra tigela grande coloque a carne moída, os pães já umedecidos e espremidos, a cebola, o alho, a pimenta dedo de moça, o sal, a salsinha, a pimenta do reino, o queijo parmesão e os ovos. Misture muito bem até que todos os ingredientes estejam bem incorporados.
3- Divida em 12 porções para preparação dos polpetones.
4- Em cima de um filme plástico abra cada porção, coloque cubinhos de mussarela no meio e feche como se fosse um pastel. Aperte bem e modele no formato que deseja, enrole no filme plástico e leve a geladeira por 2 horas.
5- Após, pegue cada polpetone passe nos ovos (que devem estar ligeiramente batidos), depois na farinha de rosca misturada com a páprica.
6- Em um refratário grande regue com azeite e siga dispondo cada polpetone, uma ao lado do outro, regue com azeite novamente por cima de cada um.
7- Leve ao forno pré aquecido a 200° por aproximadamente 30 minutos, após vire os polpetones, aumente o forno para 240° e deixe mais 15 minutos, ou até que estejam levemente dourados.
MOLHO DE TOMATES FRESCOS:
1- Pique os tomates ou bata no processador.
2- Em uma panela coloque o azeite frite o alho, adicione o tomate picado e deixe refogar, acrescente o açúcar, o sal, orégano e pimenta do reino. Desligue o fogo e adicione o manjericão.
3-Retire os polpetones do forno e cubra cada um com uma concha de tomate.
4- Salpique folhas de manjericão, regue azeite e sirva.
CAÇAROLAS DA SEMANA
Três dicas de Restaurantes em São Paulo
MICA
Caminhando no Largo da batata em Pinheiros- São Paulo, acabei descobrindo um lugar transado para almoçar. Um pequeno restaurante que chama-se Mica e fica à Rua Guaiacui, 33, que por sinal, só tem um quarteirão. Sentei-me no balcão e fui atendida por jovens gentis e descolados, que logo me trouxeram um gostoso suco de pepino, limão e gengibre. Diferente, não? O Mica tem uma pegada oriental e oferece pratos com influências: japonesas, tailandesas, coreanas e indianas. Nos almoços, você se serve com uma entrada, um prato principal e uma sobremesa! Neste dia comi uma saladinha, um curry de frango, arroz e pão naan. O pão naan é um típico pão indiano à base de trigo, muito macio e de formato arredondado e achatado, assado de forma peculiar.
JIQUITAIA
Estava pensando nestes restaurantes caros que nem sempre são bons. Acho que se um chef resolve criar um restaurante caro, ele deve oferecer um restaurante que corresponda a este valor, ou seja, o restaurante terá a obrigação de ser bom também. No entanto, produzir uma refeição com preços acessíveis e de qualidade, isso sim requer criatividade! Quando encontro um restaurante destes é um prazer! O restaurante Jiquitaia está neste grupo. Aberto em 2012, consegue servir uma comida boa, com preços razoáveis (end: Rua Antonio Carlos, 268, fone: 3262- 2366).O chef do Jiquitaia é Marcelo Corrêa Bastos, que também é sócio da casa, junto com sua irmã, Carolina. O restaurante trabalha com um menu reduzido, muito bom gosto e conseguiu até hoje, manter este rígido propósito. Graças a esta fórmula, é difícil almoçar lá sem ter espera. O almoço executivo custa R$49,00 e engloba uma entrada, prato principal e sobremesa.Estive duas vezes lá, na hora do almoço. A primeira vez que fui ao Jiquitaia, pedi um magret de canard que estava delicioso! Na segunda vez, provei um cuscuz de camarão perfeito! Como prato principal, pedi uma moqueca de peixe muito boa também. De sobremesa, escolhii o brigadeiro com farofa de pé de moleque, que também estava saboroso! Doce bem típico brasileiro e sem igual! Volto sempre! Amei
PICCOLO
O novo restaurante Piccolo, que fica em Pinheiros (rua dos pinheiros 266, fone 3213-8449) é o irmão mais novo do Piu, restaurante situado no baixo Pinheiros. Fui recebida pelo gerente Daniel, que gentilmente me mostrou a sua bela adega, separada em duas partes com duas temperaturas diferentes para os tintos e os demais. O Piccolo trabalha com várias importadoras e com vinhos nacionais da Guaspari e espumante Bossa n1 da Herrmann. Como eu não conhecia nenhum destes 2 vinhos, Daniel me ofereceu primeiro o Syrah da Guaspari, que já estava aberto e se mostrou leve demais. Em seguida, ele trocou este meu vinho pelo correto espumante da Herrmann, pois achava que o primeiro vinho tinha perdido suas características. Eu pedi de entrada o Ovo Abóbora e Talégio (Ovo perfeito, brioche, creme de abobóra e fonduta de queijo taleggio), que estava realmente perfeito. Como prato principal pedi o Ravioli doppio a Rossini (recheado com vitelo, foie gras, molho rossini, pure de cenoura e cogumelo fresco. Meu Deus! Estava tudo de bom! Para acompanhar o vinho tinto eu pedi o polpetone al forno recheado de queijo caccio cavalo, leve molho ao suco e tagliatelle com manteiga de sálvia. Talvez tenha sido um dos melhores polpetones que já provei.