Orçamento Impositivo pode prejudicar gestão de Caiado
Diário da Manhã
Publicado em 25 de outubro de 2018 às 01:13 | Atualizado há 7 anos
O senador Ronaldo Caiado (DEM), antes de assumir o mandato de governador do Estado de Goiás, tem demonstrado que procura o diálogo para tentar reverter o cenário de caos que toma conta da administração pública. O primeiro sinal desta intenção apaziguadora diz respeito ao foco na auditoria que será realizada nas contas e gestão atual, tendo em vista dar continuidade aos programas de governo.
O gestor eleito optou em adotar postura técnica e independente. A entidade contratada (Comunitas) é reconhecida pela lisura e elogiada pela imparcialidade de suas análises.
O senador já pediu, por exemplo, exame detalhado do Plano Plurianual (PPA) que abrange o seu primeiro ano de governo e traz obrigações para a gestão pública. Nos bastidores, Caiado diz que deseja manter o Estado em funcionamento e iniciar a aplicação de seu plano de governo.
O senador também tenta o diálogo em outras frentes, caso dos deputados estaduais. Caiado é contra a figura híbrida do orçamento impositivo – espécie administrativa brasileira que vincula partes do orçamento a indicações de parlamentares.
A lei corrompe a teoria do equilíbrio entre os três poderes.
Questionada por diversos administrativistas, a propositura do orçamento tira o foco dos investimentos do governo e abre espaço para que parlamentares façam indicações de gastos – 1,2% do orçamento anual.
A figura do orçamento impositivo deve ser o primeiro debate mais acalorado dentre deputados e futuro governo.
Sua aprovação coloca o orçamento a serviço dos deputados, que definitivamente assumem também a figura de gestores, modificando o espírito do Poder Legislativo – que é fiscalizar e produzir conteúdo legislativo. Pela lógica, o Poder Executivo tem a obrigação de cumprir a Constituição e exercer com discricionariedade alguns dos poderes administrativos da administração pública.
A mudança em Goiás ocorreu após a convolação da Proposta de EmendaàConstituição(PEC) 358/13 em norma constitucional. As críticas de Caiado não são retóricas ou de conveniência. São fruto de uma crença e convicção parlamentar.
Na época, no Senado, ele disse que a definição de parâmetros fixos é uma “armadilha”. Pela lógica, teria apoiado a proposta, já que é um legislador.
Caiado fez uma análise a partir de um caso concreto da época: se a medida estivesse em vigor em 2014, a saúde teria recebido R$ 7 bilhões a menos do Governo Federal. “A partir de agora, o repasse é exatamente sobre a receita corrente líquida, iniciando por 13,2% e chegando a 15%. Como estou vendo que diminuiu o dinheiro para a saúde, seremos obrigados a voltar com a CPMF para achar uma fonte a mais para o setor”, comentou Caiado na época.
O futuro governador revelava ser criterioso com o “novo poder” dado aos legisladores. Como debatedor dos temas nacionais, reafirmou que a inesperada modificação legislativa engessava as contas.
O orçamento impositivo é considerado por inúmeros juristas uma aberração. Entrou no ordenamento brasileiro durante o segundo mandato e frágil governo de Dilma Roussef (PT), que desejava se manter na presidência e passou a fazer concessões para os parlamentares.
O ex-procurador de Justiça Lenio Streck, conhecido pelas obras de Direito Constitucional no universo acadêmico e científico jurídico, chegou a brincar: “Até o porteiro do STF declararia o orçamento impositivo inconstitucional”.
DIÁLOGO
O presidente da Assembleia, deputado José Vitti, se encontrará com o futuro governador para tentar encontrar uma solução para a aplicação da lei dentre os goianos. Uma das hipóteses é que diante dos resultados dados pela equipe de transição – comandada pelo senador Wilder Morais – é possível que a norma seja “congelada” por tempo indeterminado ou adiada sua aplicação.
A Constituição Estadual, em seu artigo 111, que trata dos projetos de emenda da Lei Orçamentária, PPA e Lei de Diretrizes Orçamentárias, garantiu através da emenda de 2 de outubro deste ano o seguinte texto no paragrafo 8º do inciso III: “As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária serão aprovadas no limite de 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento) da receita corrente líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo, sendo que, deste percentual, 70% (setenta por cento) será destinado a ações e serviços públicos referentes às vinculações constitucionais”
O orçamento impositivo é considerado por inúmeros juristas uma aberração. Entrou no ordenamento brasileiro durante o segundo mandato e frágil governo de Dilma Roussef
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Governador eleito: Goiás terá 70 mil empregos no setor automobilístico
Após articulação do senador e governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado (Democratas), foi aprovada Medida Provisória (MP 843/2018) pela Câmara e Senado, que garante um regime especial de incentivos fiscais para o setor automobilístico das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste
Após articulação do senador e governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado (Democratas), foi aprovada Medida Provisória (MP 843/2018) que garante um regime especial de incentivos fiscais para o setor automobilístico das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A MP foi aprovada nesta quarta-feira (24/10) pela Comissão Mista que analisou a matéria e segue para apreciação pelos plenários da Câmara dos Deputados e Senado. Com a alteração negociada por Caiado, Goiás garante a manutenção de 70 mil empregos diretos e indiretos associados às montadoras instaladas no Estado.
A proposta institui uma nova política industrial para o setor automobilístico e após um debate preliminar das emendas os incentivos fiscais ficariam concentrados apenas na região Nordeste. Mediante entendimento de Caiado com o relator da matéria – deputado Alfredo Kaefer (PP-PR) – e toda a bancada do Nordeste, o texto foi modificado para contemplar a região Centro-Oeste.
Caiado entende que a política de incentivos não pode ser um fator de instabilidade para outras regiões e destaca a importância de um tratamento uniforme para não prejudicar investimentos feitos em Goiás. “Nós sabemos da importância desses incentivos para Pernambuco, Bahia, Ceará e demais localidades. Mas é preciso assegurar ao investidor que acreditou no Centro-Oeste o mesmo direito. Temos hoje duas grandes montadoras que asseguram milhares de empregos e desenvolvimento para a região e não podemos permitir que as operações em nosso Estado sejam prejudicadas”, disse.
Nós sabemos da importância desses incentivos para Pernambuco, Bahia, Ceará e demais localidades. Mas é preciso assegurar ao investidor que acreditou no Centro-Oeste o mesmo direito”
SAIBA MAIS
A Medida Provisória 843/2018 institui uma nova política industrial para o setor automotivo brasileiro. A política é chamada de Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística substituirá o Inovar-Auto, que vigorou entre 2013 e 2017.
O programa se baseia em incentivos fiscais com mais vantagens para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Como contrapartida, as montadoras deverão investir em pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, na indústria de autopeças. A indústrias também deverão aprimorar a capacidade de eficiência energética e itens e segurança dos veículos fabricados e comercializados no país. Segundo o governo, o aporte mínimo que a indústria fará em P&D será de R$ 5 bilhões.