50 anos de 68
Diário da Manhã
Publicado em 23 de outubro de 2018 às 22:39 | Atualizado há 7 anos
800 metros de distância entre 1968 e 2018. Entre o “ano que não terminou” e o ano em que “todos esperam para acabar” existe um abismo de acontecimentos políticos que apesar de ainda estarmos em março de 2018 podemos temer a volta da nuvem cinza da repressão que atacou 1968.
Edson Luís era paraense, vinha de família pobre e morreu sendo secundarista no Rio de Janeiro à tiros no peito por estar se manifestando nas ruas da cinelândia. Marielle Franco era a quinta vereadora mais bem votada no Rio de Janeiro, era militante negra e morreu à tiros queima de arquivo nas ruas da lapa.
Edson Luís desencadeou uma comoção entre quem percebia que o direito de existir estava sendo usurpado por forças que tentavam destruir nossa breve e ilusória democracia, não se enganem, as pessoas não sabiam (e algumas até hoje não sabem) que viviam em uma ditadura militar. Imagine como foi sentir os primeiros pingos da trovoada que seria encarar o AI-5 em pleno verão de 1968. Um ato em luto pela morte do estudante foi realizado um dia depois, marcharam diversas vertentes da esquerda-centro levando o caixão até a porta da Assembléia Legislativa Estadual do Rio de Janeiro (ALERJ). Ainda se vê os resquícios dos stencils “a bala mata a fome?”.
Marielle Franco era militante negra, feminista e defensora dos direitos humanos, vereadora pelo PSOL. No dia 19 de fevereiro o comandante do Exército, general Villas Bôas diz que os militares precisam de “garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade”. Em 28 de fevereiro Marielle tinha sido nomeada relatora da comissão que iria acompanhar a intervenção militar no rio, no dia 10 de março ela denunciou a violência policial em acari.
Entre a ALERJ–onde o corpo de Edson foi levado em marcha que levou 50 mil pessoas às ruas para protestar a morte do estudante e a Câmara Municipal no centro do Rio de Janeiro–onde o corpo de Marielle foi levado em protesto por cerca de 250.000 mil pessoas, são 800 metros. Entre a Guerra do Vietnã e a Guerra na Síria, as crescentes implantações distorcidas do comunismo e a imposição do laboratório neoliberal comandado por golpes por toda América Latina, entre o golpe de 1964 e o golpe de 2016, o que podemos esperar? Ainda estamos em março…
“Quando não será o Exército um valhacouto de torturadores?” disse o deputado Márcio Moreira Alves contra a ditadura em 68.
800 metros entre mortes que marcam o período de repressão escancarada. Quiçá um breve dia fecham-se os congressos e assemblEias, trocam os representantes de cargos públicos por marionetes da estrutura militar sob o pretexto de “segurança pública”, censuram os jornais e artistas, colocam reuniões políticas na ilegalidade, suspendem o habeas corpus… Talvez centralizem o poder nas mãos do próximo ‘presidente’. Só espero que o povo resista às mudanças impostas por uma intervenção militar.