Opinião

O efeito Bolsonaro

Redação DM

Publicado em 23 de outubro de 2018 às 03:09 | Atualizado há 7 anos

Ami­go, fa­ça­mos uma aná­li­se bem sim­ples, eu di­ria ter­ra-a-ter­ra, sem fi­lo­so­far, so­fis­mar ou qual­quer ou­tro ar­ti­fí­cio que en­ga­ne a nós pró­prios. Na­da há de ci­en­tí­fi­co o que pe­gou ve­lhos po­lí­ti­cos (di­go, ex­pe­ri­en­tes por­que não tem na­da a ver com ida­de) de cal­ças nas mãos.

An­tes de con­ti­nu­ar, du­as bur­ri­ces po­lí­ti­cas que cres­ce­ram aos olhos de to­dos, mas que a mi­o­pia de quem es­tá no po­der não per­mi­te vi­são lú­ci­da (é que po­der é igual ál­co­ol -em­bri­a­ga): uma, os gran­des pa­ri­dos ig­no­ra­rem ou não le­va­rem na de­vi­da con­ta, den­tro das du­as ca­sas do Con­gres­so Na­ci­o­nal, o de­no­mi­na­do bai­xo cle­ro, on­de ovos de ser­pen­te são cho­ca­dos. Ou­tra, a to­li­ce de de­fen­de­rem um plu­ri­par­ti­da­ris­mo, ver­da­dei­ra en­xur­ra­da de par­ti­dos na­ni­cos, mui­tos, sem ne­nhu­ma re­pre­sen­ta­ção, mas que ser­vem pa­ra aga­sa­lhar as aber­ra­ções elei­to­ra­is. Es­que­ce­ram que Eduar­do Cu­nha e Se­ve­ri­no Ca­val­can­ti são cri­as do bai­xo cle­ro; e Col­lor de Mel­lo de um par­ti­do que só ti­nha a si­gla.

O jei­to tos­co que o ca­pi­tão re­for­ma­do Bol­so­na­ro nun­ca ne­gou ter ar­re­ga­nhou-lhe as por­tas pa­ra en­trar nas gra­ças de boa par­te do po­vo, que tam­bém tem a mes­ma lin­gua­gem: que­rer o ca­dá­ver dos úl­ti­mos go­ver­nos, aos ber­ros.

Não é de ago­ra o rom­pan­te do ca­pi­tão re­for­ma­do. Nem a de se di­zer que ele é um opor­tu­nis­ta que pas­sou a ado­tar es­se jei­tão co­mo es­tra­té­gia po­lí­ti­ca. Não, cla­ro que não. Ele es­tá, e sem­pre es­te­ve, na­que­la fai­xa da po­pu­la­ção que acre­di­ta no ex­tre­mo, na es­fo­la­da, na for­ça bru­ta. Um ni­cho, que, em­bo­ra equi­vo­ca­do e ali­men­ta­do, por to­tal inér­cia e ações ne­ga­ti­vas do fa­li­do po­der pú­bli­co, cres­ce a ca­da mo­men­to.

Nas bar­bas dos ca­ci­ques po­lí­ti­cos ga­nhou cor­po, sem que es­tes per­ce­bes­sem ou le­vas­sem a sé­rio, o “mi­to”. O en­ter­ro co­le­ti­vo dos gran­des par­ti­dos po­lí­ti­cos acon­te­ceu após se­rem al­ve­ja­dos pe­las ba­las saí­das de du­as mãos en­ce­nan­do ar­mas apon­ta­das por um sim­ples ca­pi­tão re­for­ma­do.

É, ami­go, de­mo­cra­cia tem dis­so tam­bém.

 

(Iram Sa­rai­va, mi­nis­tro emé­ri­to do Tri­bu­nal de Con­tas da Uni­ão)


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