Opinião

Perspectiva do emprego 2018/2019

Diário da Manhã

Publicado em 18 de outubro de 2018 às 23:59 | Atualizado há 7 anos

Com as di­ver­sas ino­va­ções tec­no­ló­gi­cas, o sis­te­ma pro­du­ti­vo, a ge­ra­ção de ener­gia, a co­mu­ni­ca­ção e o tran­spor­te têm se mo­di­fi­ca­do in­ten­sa­men­te, fa­ci­li­tan­do a ar­ti­cu­la­ção das ca­dei­as pro­du­ti­vas glo­bais e a es­tru­tu­ra­ção de uma no­va di­vi­são in­ter­na­ci­o­nal do tra­ba­lho. O sis­te­ma fi­nan­cei­ro com­pra em­pre­sas e pa­tri­mô­ni­os na­tu­ra­is, am­plia for­mas de ge­rar lu­cro e de acu­mu­lar e con­cen­trar ren­da e ri­que­za. Es­se pro­ces­so exi­ge a pros­pec­ção so­bre o que se­rá o fu­tu­ro do tra­ba­lho e do em­pre­go.

Um bom pon­to de par­ti­da é en­ten­der a si­tu­a­ção da di­nâ­mi­ca eco­nô­mi­ca e re­gu­la­tó­ria do mer­ca­do de tra­ba­lho, o que es­tá acon­te­cen­do e qua­is as pers­pec­ti­vas pa­ra o em­pre­go. A OIT (Or­ga­ni­za­ção In­ter­na­ci­o­nal do Tra­ba­lho) dis­po­ni­bi­li­zou du­as im­por­tan­tes pu­bli­ca­ções: Pers­pec­ti­vas So­ci­a­les y del Em­pleo en el Mun­do – ten­den­cias 2018 (OIT, Ge­ne­bra, 2018) e Pa­no­ra­ma La­bo­ral 2017 Amé­ri­ca La­ti­na y Ca­ri­be (OIT, Li­ma, 2017). Es­ses do­cu­men­tos reú­nem in­for­ma­ções e aná­li­ses pre­ci­o­sas.

A for­ça de tra­ba­lho mun­di­al é da or­dem de 3,3 bi­lhões de pes­so­as, das qua­is mais de 190 mi­lhões es­tão de­sem­pre­ga­das. Au­men­ta o con­tin­gen­te dos de­sa­len­ta­dos, pes­so­as que de­sis­tem de pro­cu­rar em­pre­gos.

A Amé­ri­ca La­ti­na e o Ca­ri­be reú­nem uma for­ça de tra­ba­lho de 300 mi­lhões de pes­so­as, com 20 mi­lhões de de­sem­pre­ga­dos e qua­se 36% dos ocu­pa­dos em em­pre­gos vul­ne­rá­veis.

A OIT es­ti­ma que 42% dos em­pre­gos no mun­do são des­pro­te­gi­dos, nú­me­ro que cres­ce des­de 2012. Há, por­tan­to, um fe­nô­me­no es­tru­tu­ral de au­men­to dos em­pre­gos vul­ne­rá­veis (tra­ba­lha­do­res por con­ta pró­pria, tra­ba­lha­do­res fa­mi­lia­res au­xi­li­a­res e as­sa­la­ri­a­dos sem re­gis­tro) em um con­tex­to de al­tas ta­xas de de­sem­pre­go de lon­ga du­ra­ção. Nos paí­ses emer­gen­tes, os em­pre­gos vul­ne­rá­veis atin­gem 76% das ocu­pa­ções.

Cer­ca de 300 mi­lhões de tra­ba­lha­do­res re­ce­bem sa­lá­ri­os in­fe­rio­res a 1,90 dó­lar por dia. Nos paí­ses em de­sen­vol­vi­men­to, a for­ça de tra­ba­lho em si­tu­a­ção de ex­tre­ma po­bre­za ul­tra­pas­sa 114 mi­lhões de pes­so­as, o que equi­va­le a 40% de to­dos aque­les que es­tão em­pre­ga­dos nes­sas re­gi­ões. A po­bre­za mo­de­ra­da (si­tu­a­ção na qual es­tá quem re­ce­be en­tre 1,9 e 3,1 dó­la­res por dia) atin­ge 430 mi­lhões de tra­ba­lha­do­res.

São imen­sas as de­si­gual­da­des de gê­ne­ro: as mu­lhe­res ga­nham me­nos e ocu­pam a mai­o­ria dos em­pre­gos vul­ne­rá­veis. Os jo­vens en­fren­tam res­tri­ções pa­ra o aces­so a um pos­to de tra­ba­lho pre­cá­rio e con­vi­vem com ta­xas de de­sem­pre­go três ve­zes su­pe­ri­o­res às dos adul­tos.

O em­pre­go ru­ral já não é mais sub­sti­tu­í­do pe­lo in­dus­tri­al e ur­ba­no. A ocu­pa­ção ru­ral é eli­mi­na­da e ago­ra su­pri­da por um pos­to no seg­men­to dos ser­vi­ços, a mai­o­ria de bai­xa qua­li­da­de, pre­cá­ria e vul­ne­rá­vel, com pe­que­nos sa­lá­ri­os. En­quan­to is­so, o em­pre­go in­dus­tri­al en­tra em de­clí­nio. A de­sin­dus­tri­a­li­za­ção pre­co­ce dos paí­ses emer­gen­tes com­pro­me­te o de­sa­fio de al­çar e em­pa­re­lhar o de­sen­vol­vi­men­to pro­du­ti­vo des­sas na­ções ao das de­sen­vol­vi­das.

O cres­ci­men­to eco­nô­mi­co es­tá anê­mi­co, com bai­xo in­ves­ti­men­to pri­va­do, es­cas­sez de de­man­da (bai­xos sa­lá­ri­os, em­pre­gos pre­cá­rios e in­se­gu­ros etc.), de­si­gual­da­de cres­cen­te de ren­da e ri­que­za, o que es­te­ri­li­za ain­da mais a de­man­da.

O pro­ces­so ci­vi­li­za­tó­rio a par­tir do em­pre­go re­gri­de. Mon­tam-se ar­ma­di­lhas e os con­fli­tos vão au­men­tar. Tem­pos de tem­pes­ta­des

 

(Cle­men­te Ganz Lú­cio, so­ci­ó­lo­go, di­re­tor téc­ni­co do Dieese, mem­bro do CDES – Con­se­lho de De­sen­vol­vi­men­to Eco­nô­mi­co e So­ci­al e do Gru­po Rein­dus­tri­a­li­za­ção)

 

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