Opinião

Onda da direita

Redação DM

Publicado em 18 de outubro de 2018 às 23:56 | Atualizado há 7 anos

O can­di­da­to à vi­ce-pre­si­dên­cia na cha­pa de Ja­ir Bol­so­na­ro é o ge­ne­ral An­tô­nio Ha­mil­ton Mar­tins Mou­rão, lí­di­mo re­pre­sen­tan­te do gol­pis­mo mi­li­tar. Um ami­go me afir­mou ser es­se ge­ne­ral so­bri­nho de Olím­pio Mou­rão Fi­lho, prin­ci­pal de­fla­gra­dor do gol­pe de 64. Já pes­qui­sei no ob­je­ti­vo de ve­ri­fi­car ser ver­da­dei­ra a in­for­ma­ção des­se pa­ren­tes­co mas até o mo­men­to não con­se­gui ob­tê-la. O de que não res­ta dú­vi­da é que se tra­ta de um an­ti­de­mo­cra­ta dos mais ra­di­cais. Ile­tra­do, agres­si­vo nas su­as for­mu­la­ções, Ha­mil­ton Mou­rão é bem o sím­bo­lo do di­rei­tis­mo re­tró­ga­do e be­li­ge­ran­te que ca­rac­te­ri­za ide­o­lo­gi­ca­men­te o sis­te­ma re­pre­sen­ta­ti­vo da can­di­da­tu­ra de Ja­ir Bol­so­na­ro. Há pou­cos di­as ele, Mou­rão, ma­ni­fes­tou-se con­trá­rio ao dé­ci­mo ter­cei­ro sa­lá­rio dos tra­ba­lha­do­res bra­si­lei­ros. Dis­se que é um dos fa­to­res das di­fi­cul­da­des eco­nô­mi­co-fi­nan­cei­ras da so­ci­e­da­de bra­si­lei­ra. A re­per­cus­são foi tão ne­ga­ti­va, ape­sar do si­lên­cio da im­pren­sa bol­so­na­ris­ta, que o can­di­da­to à pre­si­dên­cia se viu com­pe­li­do a cen­su­rar pu­bli­ca­men­te a de­cla­ra­ção do com­pa­nhei­ro de cha­pa. Pou­co de­pois Mou­rão fez uma de­cla­ra­ção ra­cis­ta ao afir­mar ser bo­ni­to o seu ne­to “exem­plo de bran­que­a­men­to da ra­ça”.

No dia se­guin­te aos re­sul­ta­dos do pri­mei­ro tur­no as­si­na­la­va a Fo­lha de São Pau­lo que eles tra­du­zi­am a on­da da di­rei­ta. Ab­so­lu­ta­men­te ver­da­dei­ro. Em São Pau­lo uma ad­vo­ga­da que apa­re­ceu mui­to nas trans­mis­sões dos tra­ba­lhos da Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos na oca­si­ão do im­pe­achment che­gou a qua­se dois mi­lhões de vo­tos co­mo can­di­da­ta a de­pu­ta­da fe­de­ral, co­mo can­di­da­ta do es­que­ma bol­so­na­ris­ta. Um fi­lho de Ja­ir Bol­so­na­ro, Flá­vio, ob­te­ve cer­ca de 4 mi­lhões de vo­tos pa­ra se­na­dor no Rio de Ja­nei­ro, sem que ja­mais te­nha fei­to qual­quer coi­sa pa­ra me­re­cer tal con­sa­gra­ção. Ou­tro fi­lho de­le, Eduar­do, al­can­çou 1,8 mi­lhão de vo­tos pa­ra de­pu­ta­do fe­de­ral por São Pau­lo. No seu cur­rí­cu­lo não há uma só re­a­li­za­ção pa­ra jus­ti­fi­car sua elei­ção.

A fa­mí­lia Bol­so­na­ro é tris­te exem­plo de fi­si­o­lo­gis­mo. O pró­prio Ja­ir é de­pu­ta­do fe­de­ral há 28 anos, sem a mí­ni­ma pres­ta­ção de ser­vi­ços à co­le­ti­vi­da­de. Pe­lo con­trá­rio sua atu­a­ção de de­pu­ta­do fe­de­ral é as­si­na­la­da por po­si­ções con­trá­ri­as a pro­je­tos de in­te­res­se so­ci­al e de aper­fei­ço­a­men­to de­mo­crá­ti­co. Em di­ver­sas oca­si­ões che­gou-se a co­gi­tar na Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos da cas­sa­ção do seu man­da­to em con­se­quên­cia de pro­pos­tas ora ra­cis­tas, ora an­ti­de­mo­crá­ti­cas. Hou­ve co­le­gas par­la­men­ta­res que che­ga­ram a qua­li­fi­ca-lo de fas­cis­ta. Um ir­mão de­le, Re­na­to, foi exo­ne­ra­do da As­sem­bleia Le­gis­la­ti­va de São Pau­lo, por ab­so­lu­ta ir­res­pon­sa­bi­li­da­de fun­cio­nal, pois em três anos de exer­cí­cio de um car­go na­que­la Ca­sa ja­mais com­pa­re­ceu a ser­vi­ço, em­bo­ra ti­ves­se sa­lá­rio de 17 mil men­sais. Tal ir­res­pon­sa­bi­li­da­de foi de­nun­ci­a­da por um ca­nal de te­le­vi­são o que pro­vo­cou no mes­mo dia da de­nún­cia a sua exo­ne­ra­ção.

É im­pres­sio­nan­te, co­mo se vê co­mo as clas­ses do­mi­nan­tes ado­ta­ram uma can­di­da­tu­ra que é uma ne­ga­ção dos va­lo­res éti­cos, in­te­lec­tu­ais, cul­tu­ra­is e mo­ra­is ine­ren­tes ao exer­cí­cio da su­pre­ma di­re­ção do pa­ís.

 

(Eu­ri­co Bar­bo­sa, es­cri­tor, mem­bro da AGL e da As­so­cia­ção Na­ci­o­nal de Es­cri­to­res, ad­vo­ga­do, jor­na­lis­ta e es­cre­ve nes­te jor­nal à sex­tas-fei­ras. E-mail: eu­ri­co_bar­bo­sa@hot­mail.com)


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