Divergente e vinho
Diário da Manhã
Publicado em 18 de outubro de 2018 às 03:11 | Atualizado há 4 meses
Esta semana terminei de ler o livro Divergente, da Veronica Roth. No livro, a população de Chicago é dividida em cinco facções, de acordo com as características que acreditam ser as mais essenciais para um ser humano. São elas: abnegação, amizade, audácia, franqueza e erudição.
O que mais achei interessante foi o fato de que, após o término do livro, tinham mais 50 páginas de “bônus”! Uma entrevista com a autora, uma playlist para escutar enquanto lemos o livro, algumas perguntas sobre o livro, o manifesto de cada uma das facções e um teste para sabermos em que facção cairíamos!
Eu sou uma divergente. Seria igualmente amizade e franqueza (respondi três de cada uma), e um pouquinho de erudição. Dentre elas, acredito que escolheria a amizade, com suas vidas alegres e roupas coloridas!
Sentada em meu sofá liguei a playlist e fui me encantando com cada página, como se a autora escrevesse para mim. Ia passando cada página sentindo o meu sofá como um divã. Fazia tempo que não lia um livro tão bom.
CASA DE DOM INÁCIO
Escrevendo “Prazeres à Mesa” na Casa de Dom Inácio, em Abadiânia, no seu belo jardim, me vi de repente com vontade de falar sobre a vida e o amor. Dia 26 de outubro é meu aniversário e minha sensibilidade está à flor da pele. Aqui escrevendo para vocês esperando o pôr do sol, por um segundo ele aparece, senti uma alegria enorme. Me deu uma vontade de viver ainda mais, com muito mais intensidade e comemorar a data do meu nascimento com muita luz. O pôr do sol me inspira o desejo de partir para um oeste tão distante e belo quanto aquele onde o sol sumiu. A sua beleza é a razão pela qual vivemos.
Sou poeta e o que mais gosto é estar em silêncio – um silêncio repleto de sabedoria e de espírito… este impoluível silêncio em que escrevo e em que vocês, meus leitores, me leem. Me lembrei de uma frase do Friedrich Nietzsche: “A melhor cura para o amor é ainda aquele remédio eterno: amor retribuído.”
Isso aí! Qualquer forma de amor tem que ser retribuído. Segundo a escritora Martha Medeiros: “Solidão não se cura com o amor dos outros. Se cura com amor próprio.”
Fazer aniversário já madura é olhar para trás com gratidão e para frente com fé! Então, cada vez mais estou soltando as amarras. Afastando-me do porto seguro. Agarrando o vento em suas velas. Explorando. Sonhando. Descobrindo e sendo divergente!
GRUPO DIVERGENTE
Faço parte de um grupo de 12 mulheres todas divergentes. E por que nos intitulamos assim? Porque encontramos alegria e realização em fazer com que os outros fiquem felizes, seguros e saudáveis. Acreditamos que o mundo seria melhor em um lugar em que o egoísmo não fosse tão difundido.
Nos sentimos em paz quando as pessoas em volta se dão bem. Gostamos de música e artes, e sorrimos com facilidade. Nosso objetivo é encontrar o tanto de felicidade quanto possível. Somos honestas e francas com todos, independentemente de quão difícil isso possa ser e não importando em quais problemas isso pode nos levar. Preferimos ouvir a verdade, mesmo que ela machuque.
Acreditamos que se todos fossem honestos e francos, o mundo seria muito melhor. Amamos uma dose de adrenalina e não deixamos que os outros ditem nosso comportamento. Fazemos o que acreditamos ser o certo, independente da dificuldade ou de quão assustador seja. Acreditamos que o mundo seria melhor se as pessoas não estivessem com medo de fazer o que é necessário para que as coisas deem certo.
Adoramos aprender coisas novas e tentamos entender como tudo funciona. Tendemos a tomar decisões baseadas na lógica, e também no instinto ou nas emoções. Acreditamos que o mundo seria melhor se todos fossem bem educados e devotados a aprender a arte de amar.
VINHO E ESSÊNCIA
Meus leitores, ultimamente, minha visão é poética diante da vida. Assim vejo o vinho em cada taça. Às vezes nervoso e pungente, às vezes o sinto refrescante. Consequentemente, não é possível simplesmente dizer que tenho mais ou menos sensibilidade sensorial. Não há discussões sobre o valor de um vinho ou de uma vida, são simplesmente diferenças sensoriais emotivas.
Posso tentar e até mesmo conseguir mudar sensibilidades apreciativas e seu julgamento subsequente sobre o que é esteticamente importante num determinado vinho ou no estilo da vida. Acredito que você tenha que prestar mais atenção à sedosidade da textura de um vinho, porque, segundo meus padrões, às vezes ele pode ter uma boa pontuação sem uma qualidade texturial. Mas, por outro lado, simplesmente não há espaço para argumentação quando se trata de um vinho duro e uma pessoa dura – são sensibilidades parecidas.
Os padrões clássicos de vinhos sofisticados têm uma elegância tradicional e o que os contestam como sendo limitados são ultrapassados. A razão fundamental deste conflito tem sido a emergência de se adaptar à sociedade. Interessante isso, é que caminhamos numa busca de nos mostrar e ser aceitos no social mesmo sendo infeliz. Se quiser escolher uma boa garrafa precisa adquirir um pouco de conhecimento necessário para navegar pelas complexidades do mercado e da vida.
Outros sentidos, como o tato e a visão, também são combinados nesse ponto para criar uma sensação unificada de união que é então concentrada na boca através do paladar. Sentimos a mesma coisa através do olhar, do toque, do beijo. Vinho também pode ser divergente!
FIM
Como divergente sou corajosa, destemida e livre. Algumas pessoas chamam de audácia de loucos. Bem, eu sou. Há poder no sacrifício de si mesmo. Este jardim da Casa de Dom Inácio me ensinou tudo sobre o sacrifício real. Que deve ser feito de amor… que deve ser feito a partir da necessidade, não sem antes esgotar todas as outras opções. Que deve ser feito pelas pessoas que precisam de sua força, porque muitos não têm força suficiente. Assim, o conhecimento em si não é mau. Feliz aniversário para mim sendo divergente e com vinho complexo.
CAÇAROLAS E VINHOS DA SEMANA
Quase ninguém discorda que uma das melhores coisas da vida é viajar. Se a viagem incluir um roteiro gastronômico, melhor ainda. Quem nunca fez uma lista de bares, restaurantes e feiras para conhecer em um destino de férias, não sabe o que está perdendo.
Uma das capitais do vinho na América do Sul, Mendoza, na Argentina, une o útil ao agradável: vinhos, azeites e restaurantes com bom custo benefício. Ali é possível conhecer um dos restaurantes de Francis Mallmann (se você ainda não viu o episódio dele na série Chef’s Table, corra!) e visitar algumas das melhores vinícolas do país, como Rutini e Salentein.
É claro que ninguém precisa ir longe para comer e beber bem. No Rio de Janeiro existem bons restaurantes e estão cheios de novidades para a temporada. Petrópolis, Itaipava, Araras e o Vale do Cuiabá têm cerveja, truta, comida alemã e um número cada vez maior de chefs cozinhando por lá.
BIENNA
Em Goiânia a cidade está surpreendendo na arte da gastronomia. Excelentes restaurantes estão abrindo constantemente. Estive recentemente no restaurante Bienna, de carnes exóticas. O cardápio da casa conta com 48 tipos de carnes e cortes, incluindo as exóticas – como jacaré, rã, pato, coelho e javali –, além de verdadeiros objetos de desejo, como a picanha, fraldinha, maminha, costela, tudo da linha Super Premium Nelore. Raridades no menu goianiense, como Wagyui (carne da raça japonesa também conhecida como Kobe Beef e considerada a melhor carne do mundo). Peixes, frutos do mar e cortes suínos também ganharam espaço num cardápio e fazem do Bienna o restaurante com maior variedade de carnes do Brasil. As carnes são servidas no sistema à la carte. Estive lá alguns dias atrás, e fui muito infeliz. A maioria dos meus pedidos foi recusada por falta de produto. Tive que escolher o que tinha na casa. Bife ancho com acompanhamento de risoto e batatas. A carne estava boa, mas os acompanhamentos muito ruins. O atendimento sofrível, falta treinamento na equipe, a carta de vinhos incompleta, pois estavam faltando muitos produtos na adega. Mas é compreensível, pois a casa tem poucos dias que está em funcionamento.
VINHO LIDIO CARRARO
Totalmente repaginada, a linha Faces, que brindou eventos mundiais – como a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016 –, conquista o mundo. A viagem começa pelo Chile e prevê ações em outros países da América Latina, mas a proposta a médio e longo prazos é conquistar outros continentes. Com foco na exportação, a Lidio Carraro Vinícola Boutique aposta no projeto como forma de inaugurar sua filosofia purista em outros terroirs do planeta.
O projeto de internacionalização começa com o Faces de Chile. São dois rótulos: Faces Cabernet Sauvignon e Faces Sauvignon Blanc, com uvas cultivadas às margens do rio Maule, província de Talca, no coração do Vale do Maule, seguindo o método Purista da Lidio Carraro, ou seja, com a aplicação da ideologia de empregar a mínima intervenção para maximizar a expressão natural do vinho, neste caso em terroir chileno.