Por que há mulheres tão contrárias a Bolsonaro e outras tão a favor?
Diário da Manhã
Publicado em 15 de outubro de 2018 às 23:16 | Atualizado há 7 anos
Freud, o psiquiatra-psicanalista austríaco, já dizia que, às mulheres, falta-lhes algo, o que a psicanálise descreve como “Inveja do Pênis” decorrente de um “Complexo de Castração”. Como judeu que era, talvez estivesse influenciado pelas páginas Bíblicas, quando estas dizem que a mulher é um ser complementar, feito da costela de Adão. O mundo, como o conhecemos até hoje, tem fundamentos basicamente materiais: riqueza, força, engenharia, tecnologia, domínio, controle, ciência. Não são fundamentos “espirituais”, por exemplo, amor, compaixão, renúncia, caridade, compartilhamento. Por causa da força física, da destreza para a caça, estratégia e a guerra, o sexo masculino, evolutivamente, darwinianamente, desenvolveu mais as capacidades lógico-matemáticas do que as mulheres, e estas capacidades materiais-cognitivas dominam o planeta. Já o sexo feminino, que ficava nas cavernas enquanto os homens caçavam e guerreavam, conversavam mais com as outras mulheres, renunciavam à si mesmas em prol dos filhos pequenos, cuidavam deles, tinham medo da truculência dos homens.
Vivemos na “matéria”, e quem lida com ela tem muito mais força, riquezas, domínios, glórias, poderes, “alegrias”, do que quem vivem no mundo do “espírito”. Em medicina, por exemplo, isso fica bem claro : eu, assim como grande parte das mulheres médicas, somos “clínicos”, somos “psiquiatras”, apenas “conversamos”, “dialogamos”, “nos relacionamos”, ou seja, não cortamos, não fazemos exames, não tomamos atitudes heróicas, violentas, rápidas, ousadas, valorizadas, caras, técnicas. O clínico, o psiquiatra, por exemplo, é um “dominado”, um “submisso”, face ao neurocirurgião. O que este fala, o que este faz, tem muito mais prerrogativas do que nós, os “dominados”, os “espiritualizados”, fazemos. Se eu fosse dar vazão à meu sentimento de “submissão”, deveria impedir , com todas minhas forças, um neurocirurgião operar um tumor cerebral que esteja causando “esquizofrenia” num paciente.
Apesar destas diferenças biológicas, tanto o homem tem , em seu equipamento físico ( e consequentemente psicológico ) , algumas características “femininas”, quanto as mulheres têm também algumas masculinas. Isso gera alguns problemas, como já descrevia o psiquiatra alemão E. Kretschmer, entre os quais , o problema do paradoxo “astênicoestênico” : pessoas que têm um equipamento psicobiológico “fraco”, “astênico”, (ou seja, inadequado para determinadas funções) mas que têm uma vontade “forte”, estênica ( ou seja, que queria ter acesso ao domínio daquelas funções ). Seguindo o exemplo acima, sendo eu um psiquiatra, um clínico ( e não um poderoso cirurgião ), sou um “astênico”, um “fraco”, perante o mundo material. No entanto, se eu for um “revoltado”, tiver uma vontade muito “forte”, um ressentido, um “complexado”, irei me revoltar contra as cirurgias neurológicas feitas pelos meus dominadores. Não há escolha: ou “submissão à matéria”, ou “revolta contra o mundo másculo”.
Quando Freud falava da “bissexualidade inerente ao ser humano”, tentava mostrar mais ou menos o que estou dizendo : há homens que terão tendências psicobiológicas “espirituais” e há mulheres que terão tendências psicobiológicas “materiais”. Isso é natural e normal. O que está acontecendo hoje é que há um grupo de pessoas, do lado “material do mundo” (ou seja, quase que exclusivamente homens, p.ex., Soros, Lula, José Dirceu, Macron, Marx, Maquiavel, Lênin, etc) que sacou isto e insufla a “estenia” (a “força material”) na mente daquelas mulheres que não estão muito à vontade na posição estritamente espiritual dentro do mundo. Sentem-se muito incomodadas do domínio que os homens exercem sobre o mundo material, justamente porque não têm dentro de si uma força e um prazer suficiente dentro do mundo “feminino-espiritual”.
Estas mulheres estão em Guerra Aberta contra o “Domínio Masculino”, contra a “Autoridade Masculina” – e todos os seus derivados : empresas capitalistas, moralidade, religião ( “Deus é Pai”, não “Mãe”), ciência, iniciativas individualizadas, decisões autocráticasmonocráticas, homens forteslíderesassertivosprovedorescontroladores. Por isso elas têm um culto pelo “coletivo”, pelo Estado, pelo Socialismo, pelas “decisões conversadas, democráticas, majoritárias, comunitárias”. Os homens-dominadores que manipulam o Estado (os diretores do PT, por exemplo), ou que manipulam o Mercado Financeiro – que , por sua vez também vive do Estado ( p.ex., Soros, banqueiros, financistas da Bolsa, operadores de juros, fusões, privatizações, etc) – estimulam esta “estenia” (força, indignação, vontade férrea) daquelas mulheres – ou homens afeminados – que , no seu fundo biológico, se sentem “astênicas”, “fracas”, “diminuídas”, “submetidas”.
Esta raiva estênica faz com que elas projetem sobre os “homens dominadores” a imagem de “puta” que eles têm delas : valorização carnal, sem valorização afetiva, sem levar em conta que a mulher pode querer estar bonita – instintivamente- sem por isto estar “disponível” ou “à caça”, etc. Elas , auto-denominando-se de “putas”, fazendo coisas escatológicas, peladas, urinando, defecando, abominando crucifixos, etc, estão introjetando em si mesmas as imagens que elas acham que “todos” os homens têm delas. Provavelmente , muitas delas não tiveram experiências adequadas com homens gentis, espiritualizados, amorosos, cuidadores, sacrificiadores, renunciadores, sejam eles pais, maridos, amantes, patrões. Ou , então, até tiveram estas experiências “edipinianas” edificantes, mas sua energia “estênica” é tão forte que elas se sentem dominadas , submetidas e diminuídas mesmo assim.
Ao denominarem-se “putas”, também estão a dizer que não renegam sua sexualidade feminina, mas querem exercê-la de um modo puramente libertário, moderno, livre, independente, ou seja, sem vinculações com “domínios ou posses” , “compromissos ou sacrifícios”, em prol de algum homem, ou em prol da “prisão de uma família, prisão de um lar”, prisão de uma maternidade renunciativa e sacrificial, já que muitos homens se aproveitam da maternidade e do casamento para aumentarem o “domínio em cima delas”. Sendo “agressivas” em suas manifestações, querem demonstrar a “agressividade de que se sentem vítimas pelos dominadores homens”. Ou então, no caso de outras, demonstrar uma raiva inconsciente de si mesmas por gostarem de serem “dominadas” ou “passivizadas” durante o ato sexual, já que este é um protótipo, uma caricatura, da atividadeassertividade masculina face à passividadereceptividade feminina. A raiva de si mesmas pode aumentar o “mal-estar dentro da própria pele”, fazendo-se aumentar os ataques , em virulência, frequência e força.
Sendo “putas”, a sexualidade pode ser exercida sem o compromisso da fidelidade, maternidade, sacrifícios e renúncias da vida familiar e conjugal. Por exemplo, ao terem de “renunciarsacrificar” às carreiras durante a gestação, maternidade, se “revoltam” por verem que os homens têm “melhores carreiras, salários, poder, glamour, domínio” do que elas. O mundo operativomaterial de hoje exige que a mulher seja executivaoperatóriamaterial, e elas não têm a “espiritualidade biológica” suficiente para gostar mais de ser mãe do que de sua carreira.
Esta revolta é projetada , mais uma vez, não sobre a Sociedade que fez assim, não sobre a sua própria biologia que exige isso, não sobre os “líderes do feminismoesquerdismoestatismo” que as manipulam, mas sim sobre alguns homens “escolhidos” para serem o “padrão-déspota” a ser atacado. Muitos são escolhidos porque são escrotos mesmo, mas outros são escolhidos apenas porque despertam nela um “ranço de masculinidade”. Basta lhes parecer masculino, viril, assertivo, seguro, firme, controlado, disciplinado, moral, objetivo, lógico, racional, científico, religioso, empreendedor, líder, para despertar-lhes as maiores iras inconscientes ( a ira é consciente, sua motivação é que não é ).
No atual momento político (votação do “homem-dominador Bolsonaro” para Presidente do Brasil) é importante que os “homens-dominadores-do-feminismo” criem e estimulem o fenômeno do “Ele#Não”, pois é importante que as mulheres pensem que todos os avanços civilizatórios que conseguiram no Mundo Material será perdido ou revertido peloa “Revolta dos Machos”. Elas sentem que muitos homens já estão incomodados com tantos ataques emasculatórioscastradores sobre eles; sentem que muitos homens as estão “desprezando” ou “abandonando” mais ainda porque não se sentem bem com a virulência “masculina” que elas têm demonstrado face à eles; e quanto mais são abandonadasdesprezadas pelos homens, mais masculinizadas-virilizadas se tornam, perdendo assim uma assimetria sexual que poderiam acalmá-las ou satisfazê-las de outro modo .
Sem a satisfação da complementariedade sexual, tornam-se enamoradas de si mesmas ( Freud diria que a libido volta-se sobre o próprio Ego ), e isto aumenta seu narcisismo e seu Ideal de Ego Megalomaníaco ( “sou enamorada de minha própria força”, “sou enamorada de meu próprio poder”, “adoro minha capacidade viril de atuação sobre o Mundo Material”, “não vou perder mais este prazer por nada”, “sacrifíciosrenúncias de maternidade, passividadereceptividade sexual, nada disso vale mais do que o gozo da força que eu experimento no Mundo Material). Lutarão com unhas e dentes para não perderem mais a “força” que conseguiram e podem conseguir no Mundo Material. Deixaram o Mundo Espiritual para sempre e a ele não mais voltarão. De agora em diante, só irão para “frente”, rumo a auto-destruição fratricida e intestina no Campo Material, rumo à uma temível hetero-destruição do próprio Mundo.
(Marcelo Caixeta ,psiquiatra (psychological.medici[email protected]))