Fake News, o mal da década
Diário da Manhã
Publicado em 14 de outubro de 2018 às 02:41 | Atualizado há 4 meses
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Doutor da UFG, Luiz Signates frisa que noção é associada ao conteúdo, à ausência do valor de verdade de uma notícia, isto é, à desconexão com os fatos
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Historiador Romualdo Pessoa afirma que a mentira e o boato sempre fizeram parte do jogo político. Diferencial é a rapidez com que notícias falsas se espalham
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Fernando Santos diagnostica subproduto dos baixos índices escolarização, da concentração monopolizada da informação e da massificação do consumo de mídias
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Peruano, Carlos Ugo Santander aponta indústria que possui a finalidade de distorcer a vontade popular, promover a desinformação e procurar induzir eleitor ao erro
Adélio Bispo, portador de transtornos psiquiátricos, como aponta laudo médico, o homem que esfaqueou o deputado federal Jair Bolsonaro [PSL], em Juiz de Fora [MG], dia 7 de setembro, assessora a ex-presidente da República Dilma Rousseff. É o que diz post no Twitter @pastor Malafaia. O pastor Silas Malafaia, com, à época, 3.512 curtidas. Já o deputado federal Alberto Fraga, do Democratas, do Distrito Federal, informou que Marielle Franco, mito da esquerda, teria engravidado de Marcinho VP, era consumidora de maconha e foi eleita pela facção criminosa com forte inserção no Rio de Janeiro, o Comando Vermelho [CV]. A mensagem saiu no Twitter do parlamentar. A série da Netflix ‘O mecanismo’, sob a direção de José Padilha, mostra que o Escândalo do Banestado– esquema que envolvia o envio de remessas de dinheiro ilegal para o exterior -, teria ocorrido em 2003. Sob Luiz Inácio Lula da Silva [PT]. As informações constituem Fake News. Na tradução literal, Notícias Falsas. Em 2018: ano eleitoral
– Fake News é o mal da década.
A mentira sempre existiu, a diferença é que não existia a internet, diz Carlos Willian Leite. A internet não é a inventora, mas é o vetor, explic a o maior especialista em redes sociais no Centro-Oeste. As redes sociais se tornaram o tamborete do ódio, pontua o pesquisador. Moral e verdade são sel e t i vas, sublinha o operador da internet. Plataformas como Facebook, Twitter e, sobretudo o Whatsapp, constituem os maiores vetores de replicação de boatos, mentiras e incitação ao ódio, insiste o poeta e escritor, membro do Conselho Estadual de Cultura. Quando uma mentira é compartilhada por alguém que conhecemos temos a falsa impressão de que isso é suficiente para legitimá-la, destaca. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo, a USP, mostrou que mais de 30% do que se compartilha em redes sociais seriam mentiras. Existe, sim, uma relação próxima entre Fake News e Pós-Verdade, frisa. Fatos objetivos são deixados de lado em detrimento de crenças pessoais, um caminho à barbárie, atira ele, indignado.
– Fake News é o nome que se dá à disseminação via internet do antigo fenômeno da mentira.
Da invenção de fatos inexistentes, porém verossímeis, que prosperam, especialmente, em períodos eleitorais. A análise é do doutor em Comunicação da Universidade Federal de Goiás [UFG] e proprietário de um Instituto de Pesquisa de Opinião Pública, no Estado, Luiz Signates.
Ela possui relação, sim, com a Pós-Verdade, acredita. É a impressão de verdade que uma ideia recebe pelo simples fato de circular em quantidade e de forma veloz, sublinha. Ganha notoriedade pela generalização ou pela onipresença simbólica decorrente da circulação comunicacional, atira. A semelhança é que ambos os conceitos referem-se à questão da verdade, operando seu negativo, avalia. Mas, não são um sinônimo do outro, dispara. A diferença é que a noção de Fake News é associada ao conteúdo, à ausência do valor de verdade de uma notícia, isto é, à desconexão com fatos ou com a verdade propriamente dita, e a Pós-Verdade está relacionada à forma, ao modo de circulação da informação, ou seja, à comunicação ou à circulação simbólica, informa com exclusividade ao jornal Diário da Manhã.
– Fake News é a notícia falsa. Pós-Verdade é a realização do conceito expressado por Goebbels, o ministro da comunicação de Adolf Hitler: “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”.
Doutor do IESA, da UFG, Romualdo Pessoa Campos Filho estabelece uma relação dialética entre Fake News e Pós-Verdade. Em tempos de informações rápidas, fuzila. A notícia sequer é lida, metralha. Internautas se orientam pelo título ou pela confiança em quem enviou uma informação, ataca. Que muitas vezes é falsa, reclama. O desconhecimento da realidade, até pela sua complexidade, leva as pessoas a não apurar a mensagem, desabafa. Desde que o título se adeque ao seu pensamento e à defesa daquilo no qual o leitor crê, afirma. As Fake News compõem instrumentos que consolidam o que denominamos de Pós-Verdade. Uma Era onde o leitor acredita somente no que lhe interessa, vocifera. Mais: o contraditório é negado, e até mesmo considerado falso, mesmo que seja este o elemento verdadeiro na história, frisa. A mentira e o boato, porém, sempre fizeram parte do jogo político, observa o pensador de linhagem marxista. O diferencial é a rapidez com que as notícias falsas se espalham, sublinha.
– As redes sociais, a internet, se constituíram em elementos que disseminam banalidades, informações, potencializam maldades.
Professor da UFG, Fernando Santos é taxativo. Notícias falsas sempre foram difundidas nos meios de comunicação e mesmo em veículos que gozavam de credibilidade. Com o advento de novos meios informatizados de difusão e comunicação, as redes sociais, obtiveram um novo significado e agilidade no processo de comunicação social, relata. A ampliação do acesso às novas mídias [celulares e smartphones, palmtops e tablets gerou, também, novas fontes de informações, confidencia. Existe uma concentração dos meios de comunicação e suas agências nas mãos de clãs familiares e regionais, avalia. Um verdadeiro monopólio dos meios de comunicação e informação, fuzila. Os maiores produtores de notícias, explica. As chamadas Fake News estão hoje inseridas nesse contexto de perda de confiança nos monopólios e agências de notícias, com a utilização de novas mídias e abandono dos jornais e tablóides em papel e ainda, a velocidade da internet, com as suas demandas por informação, diz.
– Informações resumidas e fugazes que criam novos conceitos para a comunicação.
Fernando Santos lembra que as Fake News são subproduto de baixos índices escolarização, no Brasil, de Norte a Sul, da elevada concentração monopolizada da informação e da massificação do consumo de mídias eletrônicas. Da não democratização dos meios de comunicação, aponta. O que agrava ainda mais a difusão de informações falsa sem checagem das fontes, por exemplo, registra o estudioso do tema. A velocidade da informação e a produção de notícias falsas geram concepções invertidas da realidade, que, em muitos casos, nem sempre são aferidas ou desmentidas, insiste o docente da Universidade Federal de Goiás. O que conhecemos como Pós-Verdade está ligado com essa geração e disseminação de informações falsas que omitem seu lastro e que em tempos de crise econômica e social podem se transformar em novos meios de manipulação da opinião pública, diz. A manipulação já tem surtido efeitos negativos nos últimos processos eleitorais, metralha.
– Nas eleições de 2018 parece que não será diferente, relata.
Graduado no Peru, mestre no México e com doutorado no Brasil, o professor de Ciências Sociais Comparadas da Universidade Federal de Goiás, Carlos Ugo Santander afirma que as Fake News representam uma indústria, de alta voltagem, que possui a estratégica de distorcer a vontade popular. Assim como promover, em larga escala, em um País de dimensões continentais, a desinformação, explica. Além de procurar induzir, em elevada escala, o eleitor ao erro, dispara. Com a finalidade de submeter os seus objetivos particulares, reclama. Que de outra forma não seria possível, avalia. O que pode, inclusive, alterar os valores políticos, sociais e culturais, destaca o pesquisador. Um Homem Gauche. “A Pós-Verdade refere-se a fatos objetivos com baixa influencia em moldar a opinião pública os quais podem ser modificados para apelos à emoção e crenças pessoais com objetivo de redefinir a realidade”.
– As Fake News estão presentes, com maior incidência, no APP WhatsApp. Em grupos.
É o que observa a jornalista, diretora do Sindjor de Goiás, Denise Rasmussem. Isso se dá pela falta de controle que o aplicativo proporciona, explica. É quase uma “terra sem lei”, lamenta. A identificação de quem iniciou a publicação da Fake News é difíc i l de ser descoberta, relata. Se não há controle eficiente, obviamente ocorrerá a proliferação de informações falsas, insiste.
O período eleitoral propicia esse aumento no número de fake News, admite a ‘periodista’. A criação das informações falsas, o seu respectivo compartilhamento de forma indiscriminada, estariam ligadas aos sentimentos e concepções dos homens e das mulheres, acredita. O que mantém relação com a Pós-Verdade, analisa ela. Não há uma preocupação racional em saber se aquilo que ela leu na Internet é ou não verdade, pontua. Se atende os seus anseios pessoais já é suficiente, desabafa. O que potencializa o compartilhamento das Fake News é o sentimento que o eleitor, o internauta, carrega em si, de desespero, tristeza e ódio pelo País, diz.
– Fake News é uma forma sorrateira de disseminar falácias, manipular pessoas com informações mentirosas que traduzem o desejo de destruir ou desconstruir uma pessoa, uma marca.
Um combate, sem regras, amoral, à uma proposta, um projeto, um candidato ou candidata, afirma a historiadora Ana Rita de Castro. Fake News é uma forma de confundir pessoas que possuem condições limitadas de informações e reduzida leitura de livros e conhecimentos nas múltiplas áreas de de História, Sociologia, Filosofia e Economia, frisa. 2018 traz uma avalanche, um tsunami de notícias falsas, lamenta. Fake News não tem relação com a verdade, resume. Cineasta, um papa-prêmios, Ângelo Lima limita-se a dizer que quem acredita em Fake News é um Fake. Jornalista e biógrafa, Betty Almeida, de Brasília, a Capital da República, recorda-se que as Fake News, trotes, sites falsos, falsos depoimentos, tornaram -se, desde o primeiro turno das eleiçõesde outubro de 2018, o principal instrumento de campanha do candidato fascista, o deputado federal Jair Bolsonaro [PSL], ataca. Com um efeito nefasto, vistos por milhões de pessoas, que acreditam, e até chegar um desmentido, já houve muito estrago, diz.
Sindicalista, a professora Ailma Maria denuncia a invasão, na internet, das Fake News. Com a tecnologia da comunicação virtual e o bombardeio de informações, o Brasil é idiotizado, reclama. Atordoados, por vezes, colocamos em dúvida, até mesmo o que é fato, admite. Professor de História, um marxista em sua versão trotskista de tintura morenista, um seguidor das ideias do argentino Nahuel Moreno, morto em 1987, Frederico Frazão revela que as Fake News cumprem, sim, um papel tático. Apesar disso, o seu idealizador deve responder judicialmente, afirma o historiador. Jornalista e poeta, Helverton Baiano insiste. Fake News é uma aberração que o mau-caratismo inventou para confundir as pessoas mais incautas, frisa. Quando alguém me manda uma postagem, que vejo sem lógica, vou pesquisar, conta. Encontrando a correção, devolvo a postagem informando que é mentira, destaca. Até agora, obtive sucesso, comemora. “Mas virou um despautério de notícia falsa, de malandragem e de má fé, que não está fácil pra ninguém. Para mim, quem faz Fake News é ladrão do bom senso”
– Fake News… Uma forma moderna e mais destruidora da velha fofoca!
Especialista em Informática, Julian Melgaço, admite a relação com a Pós-Verdade. Diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Goiás, Luiz Cláudio, servidor da Agência Brasil Central, a ABC, Luiz Cláudio revela que as Fakes News ocuparam, hoje, um espaço na vida do leitor preguiçoso, que lê o conteúdo, toma-o por verdade absoluta e não se preocupa em verificar a autenticidade dos fatos ali narrados, vocifera. Pós-verdade? A relação entre mentira e verdade está sob uma linha tênue de como é tratada a notícia, atira. O velho historiador adepto das ideias de Karl Marx e Friedrich Engels, Reinaldo Pantaleão resume-a. “É a nova modalidade da ação tecnológica da mentira, da provocação barata. O mais grave um viés que destrói o verdadeiro papel da informação e da análise. As grandes potências impondo os seus domínios”, metralha. Advogado, Sebastião Ferreira Leite afirma que o maior problema em 2018 são as Fake News patrocinadas por agentes do Estado. “Qualquer operação judicial do Judiciário, MP e PF compromete a lisura do pleito e deslegitima o livre exercício do sufrágio.”
Márcio Bittencourt, graduado em Direito e presidente do Sindsemp, avalia que a internet permitiu uma enorme liberdade e uma rapidez de acesso à informação, porém potencializou a proliferação de mensagens falsas ou equivocadas fazendo surgir as Fake News ou notícias falsas. Um prato cheio para manipuladores, resume. Para influenciar as tomadas de decisões e de rumo da sociedade, diagnostica. O exemplo clássico recente foram as últimas eleições nos EUA, conta. Feminista, Amelinha Teles frisa que as Fake News constituem a Política do Esquecimento, da antihistória, a falta de perspectiva política. É o caos, frisa. Professor de História, em São Paulo, e membro do Combate Pelo Socialismo, trotskista, Heitor Cláudio vê as Fake News com conduta de falta de ética. Ou tem ou não tem, crê. Cristiano Leobas, jornalista conceituado em Goiás, insiste que Fake News é notícia falsa. Elas sempre existiram na forma de boatos, lembra. Obtiveram, paradoxalmente, aura de realidade no universo virtual, resume. Antes, você só ouvia um boato. Agora, você vê, ouve, acompanha o vídeo. É mais concreto do que palavras soltas ao vento, pontua. “As pessoas confundem a verdade com aquilo que gostariam que fosse verdade, como se uma mentira dita mil vezes se tornasse real.”