Brasil infeliz
Diário da Manhã
Publicado em 5 de outubro de 2018 às 01:25 | Atualizado há 4 meses
A imagem que o mundo possui sobre o Brasil relacionada à felicidade dos brasileiros é equivocada. Caiu a fama de que o brasileiro é alegre, e o estigma da felicidade toma conta do país. Relatório da OMS aponta o Brasil como o país mais ansioso do mundo e mais deprimido da América Latina. Aproximadamente 11,5 milhões de brasileiros sofrem do distúrbio. Os principais fatores de risco que podem pesar no caso brasileiro incluem a situação econômica do país, os níveis de pobreza, desigualdade, desemprego, recessão e violência.
O Brasil é campeão mundial no índice de ansiedade, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por aqui, 9,3% da população manifesta sintomas da patologia e o sexo feminino é o que mais sente as consequências — 7,7% das mulheres são ansiosas. Quando se trata dos homens, a porcentagem cai para 3,6%.
Segundo dados recentes da OMS, a depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo. Em dez anos, de 2005 a 2015, esse número cresceu 18,4% em 2018. E esse total, que representa cerca de 5% da população mundial, só deve aumentar com o tempo, fazendo com que a doença se torne a segunda maior preocupação em termos de saúde pública no planeta.
Quando nos voltamos ao Brasil, temos 5,8% da população sofrendo de depressão, ou seja, um total de 11,5 milhões dos brasileiros. Ainda de acordo com a OMS, entre os países da América Latina, o Brasil é o campeão da doença.
Dentre os sintomas mais básicos estão a tristeza sem relação com a vida pessoal, culpabilização, perda de energia, alteração do sono e do apetite, entre outros.
Os traços da doença podem aparecer em qualquer fase da vida e quem sofre com a ansiedade sabe como é difícil realizar tarefas simples. Diante de situações como uma entrevista de emprego, quando estamos aguardando um resultado importante ou em momentos que antecedem uma prova, é normal que fiquemos ansiosos. Mas se esse sentimento persistir, passa a ser patológico.
Ainda de acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão será até 2020, o maior motivo de afastamento do trabalho no mundo. No Brasil, cerca de 5,8% da população tem a doença, o que faz do país o campeão de casos na América Latina. Dentre os sintomas mais básicos estão a tristeza sem relação com a vida pessoal, culpabilização, perda de energia, alteração do sono e do apetite, entre outros.
O especialista da OMS para saúde mental, Dan Chisholm, indicou que é difícil indicar um fator isolado para explicar a alta taxa de transtornos de ansiedade no Brasil e mesmo de casos de depressão. “Ao contrário de outras doenças, existem muitos fatores que atuam de forma conjunta para criar esse cenário”, explicou.
Em sua avaliação, os principais fatores de risco que podem pesar no caso brasileiro incluem a situação econômica do país, os níveis de pobreza, desigualdade, desemprego e recessão. É bom lembrar que o Brasil é o campeão mundial em desigualdade e concentração de renda. Além disso, existem fatores ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades.
DESAFIO
Os dados da OMS mostram que o problema é global. São 322 milhões de pessoas com depressão em todo o mundo – 4,4% da população e 18% a mais do que há dez anos. De acordo com a entidade, no Brasil, em 2015, eram 11,5 milhões com a doença e 18,6 milhões com transtorno de ansiedade.
Existem fatores socioeconômicos e ambientais, como a pobreza e a proximidade com casos de violência, cita Dan Chisholm, mas também há o potencial efeito das mídias sociais, que talvez estejam adicionando uma carga de pressão e ansiedade.
Quanto ao Brasil em particular, Chisholm cogita que o índice estaria relacionado à situação econômica: “Pode ter algo a ver com a recessão e problemas de desigualdade de renda”, afirma.
Atividades de controle de respiração, exercícios físicos, alteração para uma dieta mais saudável e mais regular, meditação, yoga, de forma geral, podem ajudar uma pessoa ansiosa”´Psicólogo Ricardo Borges
ENTREVISTA
O psicólogo Ricardo Borges, formado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC GO), e especialista em psicopatologia, elucida o assunto. Confira a entrevista:
DM: O que é ansiedade?
Ricardo Borges: Ansiedade é um fenômeno normal que serve para nos preparar para situações importantes, por exemplo, uma entrevista de emprego, um encontro importante, o primeiro dia de trabalho, o resultado de um exame médico.
DM: E a ansiedade como patologia?
Ricardo Borges: Diferentemente, ansiedade como transtorno, em vez de nos preparar, ela nos prejudica, nos paralisa, interfere inclusive nas atividades cotidianas e nem sempre antecede um evento importante. É caracterizada por uma preocupação excessiva, intensa e persistente, medo das situações, alterações fisiológicas como taquicardia, aumento da sudorese, tensão muscular, mal estar entre outros. Ambientes competitivos, comparação, auto-cobrança podem aumentar a probabilidade de ansiedade nas pessoas.
DM: Como percebe-se que está ansioso?
Ricardo Borges: Percebe-se pelos sintomas da própria ansiedade. Se o estado de angústia que estou sentindo me prejudica ou me paralisa nas atividade do dia a dia. Por exemplo: na hora de fazer uma prova de concurso, ao invés da ansiedade deixar o candidato mais preparado, ela atrapalha a ponto do candidato dizer: “fiquei muito ansioso e esqueci alguma coisa da prova.
Também há sintomas físicos que podemos observar como taquicardia, falta de fôlego, dores no corpo, dores tensionais, musculares, sudorese nas mãos, de modo que esses sintomas são perceptíveis. Também a preocupação excessiva, como aquela que não sai da nossa cabeça, acompanhada pelos sintomas acima colocados.
DM: Pode-se sofrer de ansiedade ocasionalmente?
Ricardo Borges: Geralmente a ansiedade é desencadeada por algum evento, principalmente aquela que não é patológica. A ansiedade que vem e desaparece não é patológica e só ocorre por causa de um evento. Por exemplo: uma pessoa que está prestes a se casar pode sentir ansiedade até em alto grau por causa das preparações do casamento. Após o evento, isso desaparece.
A patológica é aquela em que as pessoas dizem ter vindo do nada: “do nada eu comecei a me sentir assim”, explica. Geralmente a ansiedade é um estado onde as pessoas se sentem assim repetidamente, e que leva a pessoa a essas interferências no dia a dia, nas atividades, quando ela tem essa sensação recorrentemente e continuamente.
Uma pessoa pode sentir ansiedade episodicamente, quer dizer, ocasionalmente, ou seja, acontece e depois deixa de acontecer. Mas isso é muito raro. Mas a ansiedade patológica, uma vez instalada, tende a não desaparecer a curto prazo. É por isso que as pessoas procuram uma intervenção, seja medicamentosa ou psicoterapêutica, porque ela vai atrapalhando no dia a dia, e após um tempo, os prejuízos vão se acumulando e a pessoa percebe que precisa de ajuda.
DM: Como ajudar um ansioso? Como amenizar o problema?
Ricardo Borges: Atividades de controle de respiração, exercícios físicos, alteração para uma dieta mais saudável e mais regular, meditação, yoga, de forma geral, podem ajudar uma pessoa ansiosa. O próprio ansioso pode procurar por essas intervenções. Se isso não resolver, o aconselhável é procurar um especialista.