O autoengano do governador José Eliton
Diário da Manhã
Publicado em 17 de setembro de 2018 às 22:55 | Atualizado há 7 anos
Conheci superficialmente o governador José Eliton quando, recém-empossado presidente da falecida Celg, saiu ele, de sala em sala, cumprimentando os funcionários da empresa que iria dirigir. De repente, da porta aberta de minha sala, dentre um dos guarda-costas dele, surgiu o então presidente da Celg com a mão estendida a cumprimentar-me. Respondi ao cumprimento, e ele logo se foi.
Lá no meu mundinho celgueano, pude observar uma cena que se repetia há mais 30 anos quando um novo presidente chegava para dirigir a casa. Lá vinham os aduladores de sempre a apresentar a coisa de sempre, a joia da coroa chamada Planejamento Estratégico. Entrava e saía presidente e lá estavam eles vendendo gato por lebre, com isso, procurando ganhar espaço com os novos donos do poder.
José Eliton, sem se atentar para os ditames da boa gestão, gostou do que viu e saiu por aí a divulgar o tal plano estratégico concebido por consultores e por uma meia dúzia de funcionários completamente desprovidos não só de competência, como de algo fundamental para elaboração de trabalhos dessa natureza: a imaginação.
A coisa mais se parecia com aquela peça teatral do famoso dramaturgo irlandês, Samuel Beckett “Esperando Godot”. Os personagens dessa peça esperavam por um Godot que nunca vinha. Tal como a peça de Samuel Beckett a Celg esperava, esperava por um plano estratégico que se materializasse concretamente em boas ações de gestão. Por mais de 18 anos, tudo não passou de blá, blá, blá e só blá, blá. Coisas assim só foram possíveis de acontecer porque a empresa nunca cobrou resultados.
Veio a privatização. O fim da estatal Celg era o começo da privatizada Enel. Uma nova realidade induzia nova forma de agir. Resultado: a Enel privatizada levou não mais do que seis meses para implantar algo que, em mais de 18 anos, a Celg não implantou: o planejamento estratégico.
Quem é do ramo pode constatar que o tal planejamento estratégico concebido pelos tais “consultores” apresentava erros grosseiros de metodologia. E mais: contratos de consultoria com prazos preestabelecidos para durar meses se estendiam por anos ante as sucessivas renovações.
Posto isso, vale a seguinte indagação: a quem interessava essas eternas consultorias? Provavelmente, aos consultores e a quem os contratou. Estou certo que a empresa não obteve praticamente nenhum ganho de gestão com esses “gênios” vindos de fora que estavam aqui mais para induzir o nosso complexo terceiro mundista de vira-lata? E lógico: faturar com isso.
O professor Eduardo Gianetti da Fonseca define, em seus escritos, o autoengano como sendo a capacidade que tem a pessoa de “iludir-se a si própria”. Quem comete autoengano acredita numa realidade que se mostra ser fantasia. Os aduladores tão repletos de charme neste país de charmosos convenceram José Eliton naquilo que era pura ilusão, puro autoengano.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outra obras, de Uma Falência Mais do que Anunciada. O Caso da Celg. E-mail: salatielcorreia1@hotmail.com)