Opinião

De onde vem a inspiração?

Redação DM

Publicado em 15 de setembro de 2018 às 22:39 | Atualizado há 7 anos

A ins­pi­ra­ção tem asas, ela  atin­ge o mais al­to li­mi­te do es­pa­ço ili­mi­ta­do de pa­la­vras in­fi­ni­tas, a ins­pi­ra­ção nos faz vo­ar por meio de um  voo lin­guís­ti­co até o ápi­ce da lin­gua­gem te­ó­ri­ca, prá­ti­ca, fi­gu­ra­da, fan­ta­sio­sa, mís­ti­ca e re­al, a ins­pi­ra­ção  nos faz abra­çar o ver­bo en­tre­la­ça­do no ver­so, a ins­pi­ra­ção  nos faz be­ber em fon­tes se­mân­ti­cas de sig­nos sig­ni­fi­can­tes e nos faz en­xer­gar os sig­ni­fi­ca­dos va­ri­á­veis da po­e­sia pri­má­ria, a ins­pi­ra­ção ha­bi­ta no re­côn­di­to do na­da de on­de pro­vém o tu­do.  A ins­pi­ra­ção é a fle­cha que atin­ge al­vos in­cer­tos na cer­te­za dos acer­tos iner­ran­tes e ve­ros­sí­meis, a ins­pi­ra­ção é a bus­ca pe­lo inex­pli­cá­vel no po­e­ma que se ex­pli­ca por en­tre­li­nhas, a ins­pi­ra­ção é o meio pe­lo qual a mú­si­ca se ex­pri­me, o ver­so se re­a­li­za,  e a  ri­ma se con­cre­ti­za, a ins­pi­ra­ção é a es­pe­ran­ça  dos amo­res in­con­ti­dos e ir­re­a­li­zá­veis mas sem­pre bus­ca­dos.

A ins­pi­ra­ção é o gi­ras­sol que bro­ta do meio li­xo, é a flor so­li­tá­ria que de­sa­bro­chou por en­tre o con­cre­to anô­ni­mo da rua mo­vi­men­ta­da, a ins­pi­ra­ção é a ima­gem da ja­ne­la que nos tran­spor­tam pa­ra além de pré­di­os, de bu­zi­nas, de vo­zes e de fu­ma­ças e nos le­vam ao in­fi­ni­to de nu­vens ins­pi­ra­do­ras de po­e­mas flu­tu­an­tes. A ins­pi­ra­ção é o  si­lên­cio da al­ma que nun­ca se ca­la, pois, es­tá sem­pre di­tan­do ao po­e­ta as con­tra­di­ções de di­a­lé­ti­cas ab­sor­tas que se trans­for­mam em le­tras na fo­lha vir­gem. A ins­pi­ra­ção é o po­e­ma al­heio que se tor­na em po­e­ma iné­di­to, a ins­pi­ra­ção es­tá além do pen­sa­men­to ta­ci­tur­no e aquém do pen­sa­men­to le­vi­a­no, a ins­pi­ra­ção es­tá no êx­ta­se ex­ci­tan­te do pra­zer in­ter­mi­ná­vel , a ins­pi­ra­ção é o qua­dro trans­for­ma­do na  ima­gem que fa­la e que nos en­can­tam,  a ins­pi­ra­ção é o ga­to so­li­tá­rio no te­lha­do do vi­zi­nho, é o cão que co­chi­la pre­gui­ço­so  en­tre um abrir e fe­char  de olhos.

A ins­pi­ra­ção é o pa­rir de idei­as na mai­êu­ti­ca cons­tan­te que bus­ca a pa­la­vra in­di­zí­vel, a ins­pi­ra­ção é o ron­co da ge­la­dei­ra que que­bra o si­lên­cio da ca­sa, é a in­sô­nia ne­ces­sá­ria pa­ra tra­zer o po­e­ma ala­do.  A ins­pi­ra­ção é a fal­ta de ins­pi­ra­ção que nos le­va a bus­car a ins­pi­ra­ção…

 

(Gio­va­ni Ri­bei­ro Al­ves, fi­ló­so­fo, es­cri­tor, po­e­ta e ar­ti­cu­lis­ta do Di­á­rio da Ma­nhã)


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