Sem evitar o assunto
Redação DM
Publicado em 11 de setembro de 2018 às 22:12 | Atualizado há 6 meses
Neste mês, em que acontece diversas ações em prol do Setembro Amarelo, campanha mundial de prevenção ao suicídio, haverá uma proposta interessante para discutir o tema no mundo audiovisual. Após receber três prêmios no Festival de Gramado, incluindo o de Melhor Filme, pelo longa Ferrrugem, o diretor Aly Muritiba estará em Goiânia hoje e amanhã para o lançamento do filme, debates e cursos. Na maioria dos eventos, o cineasta irá abordar temas pertinentes e pouco abordados, levando em conta que Conforme o Centro de Valorização da Vida (CVV), principal ONG no País a prevenir o suicídio, a cada 45 minutos, um brasileiro tira a própria vida: o auto-extermínio no universo adolescente, que cada vez mais está ligado à exposição e mal uso das redes sociais.
Hoje, por exemplo, juntamente com o ator Giovani de Lorenzi, que na produção dá vida a René – um dos protagonistas do longa – e da psicóloga Karla Cerávolo, após sessão de Ferrugem, o diretor comandará um debate no Lumière Bougainville, no Shopping Bougainville, às 19 horas.
Já amanhã, durante a programação da Rodada de Estudos Audiovisuais (2ª Reu), Muritiba – após a exibição do filme no Centro Cultural UFG (CCON) – também vai conversar com o público. E na sexta-feira (14), no mesmo evento, ministra o curso Direção de Longas e Séries de TV: semelhanças e diferenças.
Os assuntos que o diretor irá debater junto ao público estão presentes na produção que aborda o cyberbullying, sexting, suicídio na adolescência e bullying na escola. Ou seja, temas que já foram motivos reais de auto-extermínuo e mostram como o mal uso das redes sociais pode ser destrutivo, principalmente no universo do jovem, carente por auto-afirmação. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte no planeta entre jovens de 15 e 29 anos – a primeira é a violência.
De acordo com diretor, Ferrugem, que já foi professor e é pai de um adolescente, a ideia do longa nasceu após o seu primeiro filme Para Minha Amada Morta, que aborda como uma câmera VHS pode causar consequências perigosas na vida de quem assiste. A ideia era investigar mais profundamente o tema, mas centrado no mundo adolescente.
“Me pus a pensar acerca das redes sociais. Uma comunidade do prazer e da felicidade baseada nas aparências, um universo habitado por autoimagens e promessas de prazer eterno, e de como isto acaba submetendo a todos. Mas aos jovens em especial, a uma superexposição que gera confusão de limites entre as esferas públicas e privadas que muitas vezes pode ser fatal. Foi este o ponto de partida para a escrita de Ferrugem, uma história sobre medo, insegurança, crescimento e misoginia”, explica o diretor.
Livremente inspirado em casos reais que habitam os noticiários, Mutiriba aborda em Ferrugem a história da adolescente, Tati (Tifanny Dopke), que gosta de compartilhar seus melhores momentos no Instagram e Facebook. Porém, na produção, teve a vida virada do avesso quando imagens íntimas dela são postadas em um grupo de whatsApp do colégio.
A consequência do ato de má fé é destruidor no longa e o filme, mas o fato de ser dividido em duas partes é um diferencial em produções como essa. Pois conta a história de Tati e depois de René, seu namorado, que é supostamente o autor do crime digital.
RECONHECIDO
Após fazer sua estreia mundial na mostra competitiva World Cinema, do Festival de Sundance 2018 e ser exibido em diversos festivais ao redor do mundo como o 20th Taipei Film Festival (Taiwan), o 20th SEOUL International Women’s Film Festival (Coreia do Sul), o 48th Edition of the Giffoni Film Festival (Itália).
O longa recebeu três prêmios no Festival de Cinema de Gramado: melhor roteiro, melhor som e melhor filme. Este mês ele será exibido no San Sebastian International Film Festival, na Espanha, dentro da programação da mostra competitiva Horizontes Latinos ao lado de outras grandes produções.
Ferrugem é uma produção da Grafo Audiovisual, em coprodução com a Globo Filmes, tem Fernando Meirelles e Guel Arraes como produtores associados, George Moura como supervisor de roteiro e será distribuído no Brasil pela Olhar Distribuição.
Uma curiosidade do filme é que para seu cartaz oficial,foram feitas seis versões com o elenco principal do longa. As peças chamam atenção para as possíveis consequências do compartilhamento de imagens íntimas. A campanha de marketing do filme através de diversas ações online e offline.
O DIRETOR
Roteirista, produtor e diretor cinematográfico, Aly Muritiba já dirigiu nove curtas-metragens, um documentário de longa-metragem, dois longas-metragens de ficção e quatro séries para TV com os quais já conquistou mais de 150 prêmios em festivais de cinema. Suas principais realizações são os curtas A Fábrica (vencedor de mais 60 prêmios em festivais nacionais e internacionais, OSCAR shortlisted 2013), Pátio (vencedor do É Tudo Verdade e selecionado para a Semana da Crítica do Festival de Cannes), A Gente (longa vencedor do DOK Leipzig 2013) e Tarântula (curta selecionado no Festival de Veneza em 2015).
Seu longa-metragem Para minha amada morta ganhou o Global Filmmaking Award do Sundance Institute 2013 e em 2015 ganhou sete prêmios no Festival de Brasília, incluindo o de melhor diretor, além de ter estado em festivais como San Sebastian, Amiens Int’l FF, e Havana.
Recentemente Muritiba escreveu e dirigiu alguns episódios da 2ª temporada de Carcereiros (Globo) e acabou de filmar, ao lado de Sérgio Machado, a série Os Irmãos Freitas (Space), ambas produzidas pela Gullane.
Além de realizador, Aly Muritiba é diretor e produtor do Olhar de Cinema, Festival Internacional de Curitiba.
A CAMPANHA
O mês de setembro foi escolhido para a campanha de prevenção contra o suicídio porque, internacionalmente, a data de 10 de setembro celebra o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, por iniciativa da International Association for Suicide Prevention. Para chamar atenção do público, a campanha incentiva a iluminação de monumentos históricos, pontos turísticos, espaços públicos e privados no Brasil inteiro. Em 2017, a ABP e o CFM criaram as Diretrizes para Participação e Divulgação do Setembro Amarelo que orienta toda a sociedade sobre a participação na campanha.