‘Atual modelo de escola em Goiás e no Brasil está falido’
Diário da Manhã
Publicado em 8 de setembro de 2018 às 01:57 | Atualizado há 4 meses
- 1,6 milhão de jovens entre 15 e 17 anos – a idade esperada para o ensino médio – não estão estudando, informa a insistente pesquisadora do tema
- País é o quarto país com maior prática de bullying no mundo, pontua. Dados explosivos. O Nº1 no ranking da violência contra os professores, diz
- A repetência na 1ª série do ensino médio chegaria a 15,3%, destaca, em tom de indignação, a educadora de Goiás. Números de 2014 e de 2015, sublinha
Com 13 milhões de analfabetos, em um cenário escolar desolador, em que um em cada quatro alunos chega ao fim do ensino fundamental com pelo menos uma reprovação, além de 12,9% e 12,7% dos alunos matriculados na 1ª e 2ª série do Ensino Médio, respectivamente, que se evadiram da escola, segundo o Censo Escolar entre os anos de 2014 e 2015, o Brasil não pode ser o País do futuro. É o que diz Jacqueline Cunha, 53 anos, graduada em Pedagogia, mestre em Ciências da Educação e Doutora em Educação, com título em Portugal, Velho Mundo. Consultora da ONU, a Organização das Nações Unidas, para a Educação Pública, no devastado Timor Leste, com Xanana Gusmão, ela informa que o 9º ano do ensino fundamental tem, hoje, a terceira maior taxa de evasão, 7,7%, seguido pela 3ª série do ensino médio, com 6,8%.
– A evasão chega a 11,2% do total de alunos nessa etapa de ensino. Dados oficiais
A repetência na 1ª série do ensino médio atingiria 15,3%, destaca, em tom de indignação, a educadora goiana. Números de 2014 e de 2015, relata a pesquisadora. Alarmantes, pontua. O índice também é alto no 6º ano do ensino fundamental, com taxas de 14,4% de repetência, explica a professora das redes municipal e estadual de ensino, em Goiânia e em Goiás. Mais: a universalização da pré-escola, que deveria ter ocorrido até o ano passado, não foi executada, lamenta. A lei determinava, recorda-se. Os números traduzem uma trágica realidade social e educacional, sublinha. Vejam: 600.000 alunos de 4 e 5 anos estão fora da sala de aula, desabafa. Levantamentos científicos comprovam que quem entra na escola bem cedo, e recebe estímulos apropriados, se beneficiará por toda a vida escolar, dispara a estudiosa.
– 1,6 milhão de jovens entre 15 e 17 anos – a idade esperada para o ensino médio – não estão estudando.
Cult, gauche, chic e sensual, porém, uma mulher feminista, insubmissa, que fez a opção preferencial pelos mais pobres, a professora insiste que o percentual de repetência no país continua entre os mais altos do mundo. Um indicador inequívoco, fuzila. Retrato nu e cru do baixo nível das escolas brasileiras, atira. Os números confirmam que o Brasil está ainda muito longe do que propõe o Plano Nacional de Educação, metralha. A proposta original era de que 95% dos alunos deveriam concluir o ensino fundamental na idade adequada até 2024, afirma. Já 23%–quase um de cada quatro estudantes–que cursam o 9º ano em colégio público repetiram pelo menos uma vez ao longo de sua vida escolar. A diferença para as escolas particulares merece ser ressaltada pelo fosso que as separa: na rede privada, 7%, vocifera.
– O Brasil é o quarto país com maior prática de bullying no mundo.
Jacqueline Cunha aponta que 43% dos estudantes de 11 a 12 anos contam ter sido vítimas de violência física ou psicológica na escola pelo menos uma vez no mês anterior. A pesquisa é do Fundo das Nações Unidas para Infância [Unicef]. Além do bullying. O Brasil é o número um no ranking da violência contra os professores, frisa, alarmada. Pesquisa de campo realizada no ano de 2015, pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo [Apeoesp], ligada à Central Única dos Trabalhadores, a CUT, fundada em 1983, mostra que 44% dos docentes que atuavam no Estado relataram já ter sofrido algum tipo de agressão. Na lista das agressões que 84% dos professores afirmam já ter presenciado, 74% falam em agressão verbal, 60% em bullying, 53% em vandalismo e 52% em agressão física. Não podemos aceitar, afirma ela.
– Violência contra os professores: 12,5% dos entrevistados no Brasil denunciam ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos.
É o índice mais alto entre os 34 países pesquisados, ataca Jacqueline Cunha ao jornal Diário da Manhã. Da pesquisa global executada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico [OCDE], alerta. Com 100 mil professores e diretores de escolas, diz. Do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio [alunos de 11 a 16 anos], frisa. O levantamento estatístico coloca o Brasil, um país de dimensão continental, localizado na América do Sul, no topo de um ranking mundial de violência em escolas, sublinha. O levantamento traz dados de 2013, afirma A média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a Estônia, com 11%, e a Austrália com 9,7%. Pasmem! Na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice é zero. Uma nova rodada está em elaboração e os resultados devem ser divulgados apenas em 2019, crê.
– A violência atinge 42% dos alunos da rede pública.
O que é isso? 25% dos casos de agressão teriam sido seguidos de roubo e furto dentro da escola, pontua a mestre em Ciências da Educação e doutora em Educação. Os dados incluem violência verbal e agressão por meio digital, registra. A violência verbal ou física atingiu 42% dos alunos da rede pública nos últimos 12 meses. É o que revela uma pesquisa realizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais [Flacso], em parceria celebrada com o Ministério da Educação e a Organização dos Estados Interamericanos [OEI]. É a primeira edição da pesquisa que, entre janeiro e novembro de 2015, ouviu 6.709 estudantes, de 12 a 29 anos, em sete capitais brasileiras. Uma unidade escolar não poder ser lócus de violência, diz. Jamais, insiste. A escola deveria ser o espaço da educação da diversidade e tolerância, frisa.
– O atual modelo no Brasil e em Goiás de ensino e de escola está falido.
Renato Dias, 51 anos de idade, é graduado em Ciências Sociais, pela Universidade Federal de Goiás. Mais: pós-graduado em Políticas Públicas, pela mesma instituição de ensino superior, a UFG. Em tempo: com curso de Gestão da Qualidade, pela Fieg, Sebrae-GO e CNI. Além de jornalista pela Faculdade Alves de Faria, a Alfa. O repórter especial do jornal Diário da Manhã e colaborador do www.brasil247.com é também mestre em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica, a PUC de Goiás. É autor de 13 livros-reportagem, premiado por obras investigativas e reportagens
NÚMEROS
1,6 Mi de jovens fora da sala
4º País em agressão a professor
42% Alunos vítimas da violência
1º País do mundo em bullying
13 Milhões de analfabetos
11,2% Repetência na 1ª série