Uma análise psicológica da violência contra a mulher – Parte II
Diário da Manhã
Publicado em 2 de setembro de 2018 às 00:28 | Atualizado há 7 anos
Retomando o nosso artigo anterior (24/08/18), embora compreendemos que o mundo atual se faz violento, não podemos negar que outrora a violência era considerada “normal”, pois desde os primórdios o Homem vivia na Sombra e lutava contra a natureza e seus semelhantes para sobreviver, entretanto centenas de anos se passaram e pouco vemos de evolução emocional e espiritual do ser que considerado racional. Dominado ainda pelo seu Ego inflado o homem se tornou o lobo do próprio homem.
Como colocou com muita propriedade, Humberto Roldem em seu livro: “O Sermão da montanha”: pouco adianta tentar acabar com as guerras entre povos, nações, famílias, etc, enquanto o homem não abolir a guerra interna entre o Eu de sua humana personalidade e o Eu de sua divina espiritualidade, pois toda violência externa nada mais é do que a violência interna que é projetada para o mundo externo – (Projeção – Freud).
Grande parte dos homens na faixa etária entre 40 e 60 anos, tiveram uma criação rígida e castradora, onde o homem tinha que ser “macho” negando seus sentimentos e emoções. A violência continua latente em cada ser que não se permitiu evoluir espiritualmente.
Durante algum tempo venho me perguntando porque os homens ou a maioria deles não fazem psicoterapia? Será que eles não têm “problemas”? Qual seria o motivo de pouco vermos textos e artigos sobre a Psicologia do Homem? O homem tem evoluído na mesma proporção das mulheres?
Foi mais ou menos com base à estas perguntas e tantas outras que vejo hoje o machismo se tornar cada dia mais em evidência. Os machistas (homens e mulheres) quase sempre possui um traço de personalidade bastante diferenciado dos demais. Um desses traços é a possessividade anelada à arrogância e prepotência.
Muitas pessoas com algum comprometimento enfermiço em sua personalidade distorce a realidade e não consegue, a priori, ouvir um não como determinante de um fim de relacionamento.
Carl Gustavo Jung, nos presenteou com um profundo estudo sobre o inconsciente coletivo. Hoje, bem mais do que ontem, temos esse inconsciente coletivo “jogado” sobre todos nós através dos meios de comunicações atuais (globalização via on line) que por invigilância, da maioria de nós, nos deixamos ser arrastados pelo modismo e uma realidade alienante sob o disfarce de estarmos todos em sintonia ou “ligados”. Entretanto esquecemos de filtrar essas informações para que possamos utilizar as ideias edificantes e deixamos nos levar pelas escorias e escuridão de nossa alma: A Sombra!
É através desse inconsciente coletivo que, muitas vezes, perdemos o nosso referencial da individuação e deixamos nos levar pelas energias negativas que pairam no universo coletivo. Os próprios telejornais (a maioria sensacionalista e que disputa audiência com as outras emissoras) se tornam um grande propagador desse inconsciente coletivo ao levar uma noticia sobre a violência contra a mulher, muitas vezes, um mesmo fato é levado aos lares mais de dez vezes num mesmo dia ou se repete durante uma ou duas semanas.
Sabemos também que a TV e seus programas foram feitos para pessoas instruídas e com discernimento sobre o que se deve e o que não se deve, porém, vivemos num País de mais de sessenta por cento de “analfabetos” fingindo ser “intelectuais” e “cultuadores” das noticiais negativas. As noticias negativas são muitos mais divulgadas e comentadas do que notícias edificantes. O mal e as tragédias dão mais lucros e ibope do que o bem e notícias alegres e voltadas para a felicidade.
Importante comentar que a violência contra mulher não se dá apenas na classe que denominamos baixa, temos visto pessoas de nível socioeconômico alto cometendo os mesmos delitos. Assim percebemos que não se trata apenas destes fatores (socioeconômicos), mas principalmente pela imaturidade emocional ou espiritual.
Como é sabido por todos nós a violência no lar vem desde os primórdios. Pela inexistência da mídia e a submissão declarada da mulher na sociedade a maioria desses crimes não vieram à público. Como também tenho atendido mulheres que foram molestadas na infância e/ou adolescência e simplesmente fora ignorada pelos pais e familiares, transferindo a vítima em algoz.
O feminicídio é um dos tipos mais graves de homicídio, porque corresponde ao ato de tirar a vida de mulheres por motivos quase sempre fúteis (como o fato da vítima recusar-se a ser estuprada ou continuar um relacionamento já falido). E o feminicídio conjugal (antes denominado “crime passional”) é considerado ainda o pior dos feminicídios, porque não raro se sustenta com desculpas moralistas.
O aspecto mais surreal é que o feminicida conjugal ainda se beneficia com a blindagem da sociedade e dos valores moralistas ainda fundamentados no machismo. A “legítima defesa da honra” é a desculpa mais conhecida e custou a vida de milhares de mulheres durante muitas décadas.
A raiz disso é que a sociedade brasileira defende a união de pessoas sem afinidade. Sobretudo quando padrões machistas, como o homem valorizado pelo poder do dinheiro ou pela força física, estão em jogo. Ideologicamente as mulheres são induzidas, pela mídia e pelo mercado, a desejar esse padrão masculino, mas não raro pagam com a vida quando percebem que esse tipo não vale a pena.
A maioria dos homens esconde suas fraquezas e imaturidade psicoemocional no fanatismo com o futebol, uso exagerado do álcool, uso de drogas e até mesmo no excesso de trabalho.
No machismo, o homem é considerado o sujeito e a mulher tem um valor praticamente decorativo, sendo um misto de troféu, animal doméstico e reprodutora de filho. Por outro lado, o homem, tomado de vaidade, esquece de amar realmente sua mulher, e quando ela reclama da falta de amor e decide se separar, neste caso ela corre o risco de ser morta por “traição”, apenas porque quer o divórcio.
Finalmente, a história continua produzindo homens “fracos” e “frágeis” diante da vida que exige homens “fortes” e “maduros”, pois vemos crianças que dominam os computadores e a tecnologia; mas são emocionalmente imaturos e, com certeza, terão dificuldades de enfrentar o mundo no amanhã.
Vivemos hoje essa inversão de valores e de papeis que nos levam a questionar quem são os pais e quem são os filhos.
Temos hoje pais imaturos e infantis querendo criar filhos adultos, coisa impossível.
Os pais vêm perdendo há mais uma década o controle da situação. Pelo uso abusivo da liberdade não se sabe mais quem são os pais e quem são os filhos. Comentam até mesmo alguns profissionais, do comportamento humano, desatentos, que os pais têm que serem amigos dos filhos e não discordo disso; porém, com os devidos limites.
A falta de limites é a principal causa da violência familiar atual, que se inicia nos lares e se estendem para fora dos mesmos nos diversos pontos da sociedade. Quando uma criança de onze ou doze anos inicia um namoro e recebe a aprovação dos pais, não podemos esperar outra consequência a não ser algum tipo de violência, inicialmente, psicológica e depois física. Infelizmente os lares saíram de um extremo de uma educação extremamente rígida para outro extremo a educação “do tudo pode” e “tudo é permitido”, para não criar traumas dizem até mesmo alguns profissionais do comportamento que também precisam rever seus conceitos sobre liberdade e limites.
(José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, artista plástico, prof. Educação Física, especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e palestrante. Watsapp – 984719412 – Cons. 3645-4010 e 4020 Email: rabelojosegeraldo@yahoo.com.br e rabelojosegeraldo740@gmail)