Bispo silencia padres que pedem voto
Redação DM
Publicado em 27 de setembro de 2018 às 01:00 | Atualizado há 7 anos
O arcebispo metropolitano de Goiânia, dom Washington Cruz, resolveu chamar seu rebanho à ordem. Daqui em diante, nada mais de padre ficar recomendando voto em Bolsonaro. Ou melhor, nada de recomendar voto em candidatos, sejam quem forem. A proibição do arcebispo soou como admoestação aos padres bolsonaristas porque só eles têm vindo a público pedir voto para Jair Bolsonaro, o candidato preferido por 11 entre 10 líderes do baixo protestantismo.
Dois padres católicos, submetidos à autoridade de dom Washington, andaram recomendando voto ao candidato do PSL até em redes socais. Um deles foi o padre Luiz Augusto, titular da Paróquia Santa Terezinha. E o outro é Cleidimar Moreira. O Diário da Manhã tentou conversar com os dois, por telefone. Não conseguiu. As ligações nunca eram completadas.
Pode-se especular que os dois padres bolsonaristas devem estar evitando a imprensa porque, na tradição do catolicismo, se Roma locuta, causa finita, como se diz em escorreito latim. Quando Roma fala, o assunto fica encerrado. O bispo metropolitano é representante direto do papa na diocese, isto é, a comarca católica.
Desde que o Imperador Constantino fundou a Igreja Católica Apostólica Romana em 325 depois de Cristo, durante o primeiro Concílio de Nicea, a organização assumiu a feição de comunidade dividida em clero e fiéis. O clero, por sua vez, se baseia em dois princípios organizacionais: hierárquica e disciplina, ou, em termos telológicos: obediência. Diante de uma ordem expressa do superior hierárquico, o clérigo subordinado deve guardar o mais obsequioso silêncio.
Em seu “Comunicado aos Presbíteros e ao Povo de Deus”, diz o chefe local dos católicos que “nos próximos dias, em que se aproxima o pleito eleitoral para escolha de novos representantes dos brasileiros para o exercício do poder público, redobremos as orações pela nossa pátria, mas também o cuidado com a utilização da nossa identidade de cristãos e membros da Igreja Católica para induzir o voto em algum candidato. A democracia prevê a livre manifestação, e o debate de ideias faz parte dessa dimensão. Por isso, é preciso cautela e cuidado com o uso da identidade católica em benefício de políticos e seus respectivos partidos”.
Esta primeira parte é uma exposição de motivos, uma justificação pragmática da ordem dada aos padres para não fazerem proselitismo eleitoral.
CONDUTA REPREENSÍVEL
“No caso dos padres”, diz o comunicado, “essa conduta é ainda mais repreensível, por ser incompatível com o ministério sacerdotal, que tem a missão de acolher todos os fiéis no seio da Igreja, representando o próprio Cristo. O posicionamento político partidário do padre, junto aos seus paroquianos e à sociedade em geral, pode causar danos irreparáveis à comunhão eclesial que buscamos em torno do Evangelho”.
Estabelecido assim o preceito, vem a advertência: os transgressores estarão sujeitos a punições interna corporis. “O Código de Direito Canônico é bem claro na orientação dos presbíteros sobre essa questão. O cânon 287, §1º diz: “Os clérigos sempre favoreçam de modo máximo a manutenção, entre os homens, da paz e da concórdia fundada na justiça”. Seguindo, no § 2, é enfático: “Não tenham parte ativa nos partidos políticos e na direção de associações sindicais, a não ser que, a juízo da competente autoridade eclesiástica, o exijam a defesa dos direitos da Igreja ou a promoção do bem comum”.
Por isso, arremata dom Washington: “em obediência a essas orientações, comunicamos que é absolutamente proibido aos presbíteros da Arquidiocese de Goiânia fazer campanha eleitoral para qualquer candidato, e quem o fizer receberá a devida pena canônica”.
Mais claro, só desenhando. “Neste período eleitoral, quando o País se volta para suas demandas e problemáticas, não percamos a esperança. Considerando a importância cívica das eleições, rezemos para que todos os eleitores assumam o exercício de seu direito e dever do voto, fugindo da omissão, do voto irresponsável ou do chamado voto útil, que não tem nada de consciente, ao privilegiar o candidato com mais chances de ganhar”, exorta o arcebispo.
Dom Washington diz ser indispensável ao eleitor estar atento às propostas de cada candidato ou candidata e ao programa do seu partido, como recomenda o cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele nos faz alerta: “É preciso saber como os candidatos pretendem responder concretamente aos problemas sofridos pela população, pois não bastam promessas ou discursos genéricos. É preciso considerar a atuação política passada de cada um”.
ÍNTEGRA DO DOCUMENTO
Comunicado aos Presbíteros e ao Povo de Deus
Nos próximos dias, em que se aproxima o pleito eleitoral para escolha de novos representantes dos brasileiros para o exercício do poder público, redobremos as orações pela nossa pátria, mas também o cuidado com a utilização da nossa identidade de cristãos e membros da Igreja Católica para induzir o voto em algum candidato. A democracia prevê a livre manifestação, e o debate de ideias faz parte dessa dimensão. Por isso, é preciso cautela e cuidado com o uso da identidade católica em benefício de políticos e seus respectivos partidos.
No caso dos padres, essa conduta é ainda mais repreensível, por ser incompatível com o ministério sacerdotal, que tem a missão de acolher todos os fiéis no seio da Igreja, representando o próprio Cristo. O posicionamento político partidário do padre, junto aos seus paroquianos e à sociedade em geral, pode causar danos irreparáveis à comunhão eclesial que buscamos em torno do Evangelho.
O Código de Direito Canônico é bem claro na orientação dos presbíteros sobre essa questão. O cânon 287, §1º diz: “Os clérigos sempre favoreçam de modo máximo a manutenção, entre os homens, da paz e da concórdia fundada na justiça”. Seguindo, no § 2, é enfático: “Não tenham parte ativa nos partidos políticos e na direção de associações sindicais, a não ser que, a juízo da competente autoridade eclesiástica, o exijam a defesa dos direitos da Igreja ou a promoção do bem comum”.
Em obediência a essas orientações, comunicamos que é absolutamente proibido aos presbíteros da Arquidiocese de Goiânia fazer campanha eleitoral para qualquer candidato, e quem o fizer receberá a devida pena canônica.
Neste período eleitoral, quando o país se volta para suas demandas e problemáticas, não percamos a esperança. Considerando a importância cívica das eleições, rezemos para que todos os eleitores assumam o exercício de seu direito e dever do voto, fugindo da omissão, do voto irresponsável ou do chamado voto útil, que não tem nada de consciente, ao privilegiar o candidato com mais chances de ganhar.
É indispensável ao eleitor estar atento às propostas de cada candidato ou candidata e ao programa do seu partido, como recomenda o cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília (DF) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele nos faz um alerta: “É preciso saber como os candidatos pretendem responder concretamente aos problemas sofridos pela população, pois não bastam promessas ou discursos genéricos. É preciso considerar a atuação política passada de cada um”.
O caminho de consciência e responsabilidade é o que devemos todos percorrer, em qualquer área da nossa vida de cristãos, iluminados pela força do Espírito Santo.
Dom Washington Cruz, CP–Arcebispo Metropolitano de Goiânia