História de Yoñlu ganha adaptação para o cinema
Diário da Manhã
Publicado em 28 de outubro de 2016 às 01:21 | Atualizado há 4 mesesVinicius Gageiro Marques era o nome de registro de Yoñlu, um garoto de 16 anos que vivia em Porto Alegre. Ele possuía um pequeno estúdio caseiro em casa, através do qual registrou sozinho cerca de 60 canções de autoria própria. Ele cantava, tocava guitarra, teclado e adicionava arranjos produzidos em um programa de computador. Sua música e sua história ficaram conhecidas em 2006, quando ele tirou a própria vida com o auxílio de usuários de um fórum internacional. Estes apontaram Yoñlu sobre o método menos doloroso e as maneiras mais eficientes de executá-lo. O caso levantou várias discussões sobre a livre troca de informações de tal teor na internet. Sua música, por outro lado, já foi lançada por selos internacionais e atualmente repercute em várias partes do mundo.
Em agosto deste ano foram rodadas as primeiras imagens do filme Yoñlu, nas cidades de Porto Alegre e Viamão. O longa-metragem conta com direção de Hique Montanari e produção de Luciana Tomasi, e tem previsão de lançamento para 2017. O ator Thalles Cabral ficou encarregado de dar vida ao músico. O jovem era filho de dois professores universitários, sendo sua mãe uma profissional da área da psicologia. Yoñlu era um prodígio. Segundo Viviane Mendes, do site Domicílio Literário, ele foi alfabetizado em francês (enquanto sua mãe fazia doutorado em Paris) e também falava e escrevia em inglês com facilidade, além de ter sido introduzido à literatura de Franz Kafka com apenas 12 anos. Desde os oito anos teve acompanhamento médico por conta de depressão.
Era fã de artistas como Beatles, Vítor Ramal, Radiohead, Billie Holiday, R.E.M., The Strokes, Tom Waits, Flaming Lips, Jeff Buckley, Air, Beastie Boys, Caetano Veloso, João Gilberto, e uma pitada de cada um desses elementos pode ser identificada em suas composições. Ele também gostava de desenhar e fotografar. Sua obra foi apresentada ao grande público pela primeira vez em 2008, em uma coletânea com 23 músicas lançada pela gravadora Allegro, com sede em Goiânia. No ano seguinte, um disco com 14 canções foi lançado pelo selo Luaka Bop (do músico David Byrne, com sede em Nova Iorque) sob o título A society in which no tear is shed is inconceivably mediocre (Uma sociedade na qual não se derrama lágrimas é inconcebivelmente medíocre, em português).
O caso
“Não entre. Concentrações letais de monóxido de carbono”. Foi essa frase que os pais de Yoñlu encontraram pregada na porta de seu quarto no dia 26 de julho de 2006. O suicídio dele foi arquitetado minuciosamente. Na época de sua morte estava sob internação domiciliar há dois meses por conta de depressão. Para conseguir ficar sozinho em casa, longe da vigilância dos pais (que já conheciam a inclinação ao suicídio de Yoñlu), o jovem pediu aos pais para que saíssem, inventando que ele iria promover em sua casa um churrasco com amigos e com uma “guria” que ele gostava. Eles saíram de casa por volta das 11 da manhã. Por volta das 12h, Yoñlu ligou aos pais para comunicar que todos já haviam chegado, para que eles não se preocupassem.
Às 14h, o jovem deixou a seguinte postagem em um fórum virtual em inglês: “Estou fazendo esse método CO (suicídio por inalação de monóxido de carbono) neste momento e tenho duas grelhas queimando no banheiro. Aqui está a foto. Alguém pode me dizer se há carvão suficiente e quando eu posso entrar no banheiro e me deitar? Por favor, por favor, me ajudem! Eu não tenho muito tempo”. Às 14h42, alguém responde: “Como você está se virando? Espero que você consiga o que quer. Talvez você volte daqui a pouco tossindo”. Minutos depois, Yoñlu escreve: “Ah, meu Deus. Eu não consigo suportar o calor, está tremendamente quente naquele banheiro. O que eu devo vestir para se tornar mais suportável? O que eu devo fazer para desmaiar, por Deus?”.
Um bombeiro aposentado de Chicago aconselhou-o a tirar as roupas, encharcar um pano e colocar sobre a testa para suportar o calor até desmaiar. Ele não voltou ao fórum depois disso. Em sua carta de despedida, Yoñlu consolou os pais: “Não pensem de forma alguma que eu quis lançar-lhes algum tipo de culpa por terem, de certa forma, assistido a minha morte. Não havia nada que pudesse ter sido feito para impedir isso. Peço desculpas pela maneira trapaceira com que arranjei meu suicídio e pela maneira assustadora com que a notícia chegará a vocês. Para garantir uma margem segura de tempo, inventei a história do churrasco. Essa medida fez com que hoje parecesse um grande progresso no que tange a minha condição psíquica, quando na verdade era justamente o contrário”.