Opinião

Reforma política já e urgente

Diário da Manhã

Publicado em 27 de outubro de 2016 às 00:40 | Atualizado há 9 anos

Participando do processo eleitoral deste 1º turno, novamente decepcionei-me com as práticas políticas desenvolvidas nas campanhas para os cargos de vereador e prefeito. E ante profunda análise da situação, verifiquei o quanto estamos atrasados em termos de eleições. O comportamento de certos candidatos e de seus auxiliares mostra o quanto precisamos evoluir, a fim de garantirmos um futuro mais digno para as próximas gerações. Os eleitores, grande parte deles ainda estão acostumados ao sistema arcaico, vez que ainda trocam seus votos por qualquer migalha ou por uma simples promessa de realização de obras fantasiosas. Os marqueteiros fazem a cabeça da pessoa simples, aplicando nestas a persuasão, o engodo e outras formas ardilosas de convencimento. Vejo aí uma das formas de corrupção neste processo.

É vergonhoso e intrigante ver também o desafio de candidatos a cargos eletivos considerados “Fichas-Sujas” e com sérias pendências nos Tribunais de Contas, sob julgamento das Câmaras Municipais e com outras implicações perante outros órgãos públicos. E em Goiás tivemos cinco casos de candidatos a prefeito que mesmo com indeferimento judicial mantiveram suas candidaturas até o fim. Outros, igualmente, peitaram a justiça sabendo dos impedimentos ocasionados por corrupção, enriquecimento ilícito, improbidade administrativa e outras ações até consideradas criminosas. Por outro lado, vários colocaram em funcionamento esquemas curiosos na captação de votos, chegando até ao uso da propaganda subliminar, arma rechaçada pelos tribunais brasileiros. Diversas leis proíbem de forma mediata a utilização de mensagens de forma a transmitir ao eleitor conteúdo oculto que interfira no seu modo de pensar e de agir. E a traição é o “modus operandi” por excelência.

Os índices elevados de abstenção, bem maiores do que nas eleições de 2012, a quantidade enorme de votos em branco e nulos, sem dúvida, mostram claramente a insatisfação do eleitorado com o sistema político atual. É visível o desgosto do eleitor, fato que dificulta muito a abordagem e o diálogo no sentido de expor as metas e solicitar mesmo o voto. E apesar da minirreforma eleitoral ter feito algumas modificações, campanhas ostensivamente econômicas foram realizadas, quando os corruptos são irresponsáveis ainda conseguiram seus objetivos afrontando violentamente a legislação vigente.

É incompreensível a eleição de pessoas desqualificadas para o exercício de mandatos no âmbito dos Três Poderes constituídos do país, vez que por certo não somarão nada para o progresso político. E em vários municípios tal fato acontece em todos os pleitos, quando candidatos sem o mínimo conhecimento jurídico ou de gestão pública manipulam as pessoas mais simples e humildes. E uma vez eleitos, partem para ações que denigrem a classe, ou seja, praticando improbidades e inúmeras outras ações condenáveis no exercício do cargo.

Entendemos que gerir o patrimônio público e pessoas, legislar, elaborar projetos de leis e praticar outros encargos próprios da função, logicamente que exige qualificação necessária ao desempenho correto do trabalho. Ocupar uma cadeira no Executivo ou no Legislativo simplesmente para fazer números, sem dúvida, é um grande desrespeito ao nosso Estado Democrático de Direito. Portanto, a competência, o saber, a responsabilidade e o exercício profícuo do trabalho político, são fatores que garantem o desenvolvimento, o progresso da nação.

Diz o ditado popular que todo indivíduo tem seu preço. Por sua vez, o filosofo alemão Friedrich Nietzche dizia que, na verdade para cada pessoa existe uma isca que ela não consegue deixar de morder. A condenável “compra de voto” é um exemplo disto. Esta ação nociva foi altamente condenável em código das antigas civilizações, em textos sagrados, na Grécia Antiga e mesmo no Império Romano. E por incrível que pareça está prosperando em nosso país em pleno século 21 e em meio à evolução tecnológica. Infelizmente o eleitor ainda não refletiu sobre a imensurável importância do voto e os poderes que este transfere ao candidato. É, portanto, uma decisão que não pode ser negociada simplesmente ou vendida por qualquer coisa.

É interessante observar que a Psicologia Social e a Neurociência tratam com amplitude sobre a consciência política, analisando e buscando explicações sobre as principais motivações, percepções, atitudes e outros comportamentos dos indivíduos no momento de votar. E a própria Psicologia Política explica que tais comportamentos são vistos não como uma ação individual, mas sim, como um ato mediato e dotado de elementos subjetivos, tais como, as crenças, as representações sociais, os laços afetivos, a história de vida do candidato e demais fatores que são capazes de conquistar o voto. A emoção, o medo, a razão e outros caminham juntas numa eleição, estruturando sentimentos e despertando interesses da pessoa.

Entendemos, ainda, que o exercício dos direitos políticos devem sempre ter como objetivo maior não somente o interesse e o bem-estar particulares de cada cidadão, de uma classe ou de um partido, mas o interesse e o bem-estar geral do Estado e da população como um todo. Diante disto, o Congresso Nacional deve, urgentemente, providenciar intensa discussão e apreciação da nova reforma eleitoral, não só considerando as eleições de 2018, mas preparando o povo para que tenha conhecimento das referidas normas. Afinal, somos um país dotado de muitas riquezas e de potencialidades capazes de permitir uma evolução em todos os planos, garantindo dias melhores para todos nós, notadamente para as futuras gerações.

A Maçonaria, instituição milenar e detentora de uma sacrossante Filosofia tem sido vigilante, defensora e altamente preocupada com o bem-estar da humanidade, combatendo a corrupção, a falta de ética, a injustiça e demais fatores que causam a infelicidade dos povos. E nestes 46 anos de iniciado nos seus Augustos Mistérios, tenho acompanhado a divinal missão desta Magna Entidade, calcados nos altivos ensinamentos de irmãos filósofos, escritores, tais como, Aristóteles, Platão, Cícero, Montesquieu, Rousseau e outros. Ela considera a Política como ciência encarregada de dirigir e administrar corretamente o Estado, tanto no sentido da razão, como da ética, visando, acima de tudo, a Justiça.

 

(Anibal Silva, jornalista, ex-assessor jurídico do Tribunal de Contas dos Municípios, professor aposentado, delegado de polícia da Classe Especial, membro da Diretoria da Associação Goiana de Imprensa, da Academia Goiana Maçônica de Letras, da Academia Cezarinense de Letras e Artes e concorre a uma cadeira na Academia Palmeirense de Letras e Artes)


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias