Cultura

O ideal da psicologia como proposta científica

Diário da Manhã

Publicado em 13 de outubro de 2016 às 01:00 | Atualizado há 9 anos

Em um texto apresentado pelos autores Luiz Claudio M. Figueiredo e Pedro Luiz Ribeiro de Santi “Psicologia (nova) introdução, uma visão histórica da psicologia como ciência” de 1991, os escritores fazem uma resumida análise da atualidade da proposta da aplicabilidade da psicologia e uma visão panorâmica onde estabelecem uma crítica a respeito.

Foi recentemente que o título de ciência foi atribuído a psicologia e ainda mais recente é seu uso estabelecido como elaboração de “ciência independente”. Somente na segunda metade do século XIX que surgem homens que pretendem estabelecer um estudo aprofundado sobre psicologia nas universidades.

A citação em uma das partes do texto afirma: “É claro que o processo de criar uma nova ciência é muito complexo; é preciso mostrar que ela tem um objeto próprio e métodos adequados ao estudo desse objeto, que ela é, enfim, capaz de firmar-se como uma ciência independente das outras áreas de saber.”

Com todo atributo filosófico de séculos advinda desde a antiguidade clássica grega com os pré-socráticos e até antes com as mitologias passando posteriormente por Homero, tais como o estudo do comportamento, do espírito dentro do estudo ontológico, da alma dotada de movimento próprio e de conhecimento por Sócrates, três séculos antes de Cristo e por Espinosa no século XVII e Kant após no século XVIII e diversos outros filósofos ao longo da história. Complica ainda mais a função básica da psicologia de conceituar e desprender das noções filosóficas que o antecede e por meio dessa tentativa fazem não um desprendimento do embasamento teórico mas uma releitura e um empobrecimento de algumas noções filosóficas básicas.

“A situação da psicologia científica, portanto, é curiosa. Por um lado, reivindica um lugar à parte entre as ciências (e para isso criam-se faculdades e institutos de pesquisa em psicologia); ao mesmo tempo o psicólogo prático exige que sua competência específica seja reconhecida (e para isso existem órgãos como os conselhos de psicologia que excluem a presença de outros profissionais nas áreas de atuação legalmente reservadas ao psicólogo). Por outro lado, não conseguiu se desenvolver sem estabelecer relações cada vez mais estreitas com a ciência biológicas e com as da sociedade. ”

O fato de submeter fundamentalmente a psicologia a condição de ciência e não um mero misticismo tal como é aplicado as bases da quiromancia, tarô ou a hipnose que inclusive é utilizada em suas sessões, se deve apenas ao fato de concluir uma tentativa de abordagem filosófica, biológica ou da sociologia e também, um empirismo e análise aprofundada e metódica que a elevaria a tal condição científica?

A iniciativa da experiência da subjetividade privatizada tenta estabelecer duas condições para conhecer “cientificamente” o psicológico.

-Uma experiência muito clara da subjetividade privatizada.

-A experiência da crise dessa subjetividade.

O estudo acredita que uma experiência da subjetividade privatizada é bem nítida muito fácil e natural. Que todos sentem que parte de suas experiências é íntima e que mais ninguém tem acesso a ela. Que é possível por exemplo ficar um longo tempo pensando se vamos ou não fazer uma coisa, quase decidir por uma e, no final, acabar fazendo a outra, sem que ninguém fique sabendo de nada.

A preocupação de adentrar no íntimo do paciente de uma forma profunda capaz de tentar resolver alguns problemas que por muito escondido causando assim, uma psicossomatização e destruindo construções imagéticas. A preocupação do psicólogo seria identificar sumariamente essas características.

Conforme o texto, vemos que as grandes irrupções da experiência subjetiva privatizada ocorrem em situações de crise social, quando uma tradição cultural (valores, normas e costumes) é contestada e surgem novas formas de vida. Em situações como estas, os homens se veem obrigados a tomar decisões para as quais não conseguem apoio da sociedade.

“Nessas épocas, as artes e a literatura revelam a existência de homens mais solitários e indecisos do que em épocas nas quais dominam as velhas tradições e não existem graves conflitos. Quando há uma desagregação das velhas tradições e uma proliferação de novas alternativas, cada homem se vê obrigado a recorrer com maior constância ao seu “foro íntimo” – aos seus sentimentos (que nem sempre condizem com o sentimento geral), aos seus critérios de que é certo e do que é errado (e na sociedade em crise há vários critérios disponíveis, mas incompatíveis).”

Seria possível a psicologia ocupar essas lacunas da vida que a arte e a literatura, como a citação tenta estabelecer, não alcança. A alternativa ideal para resolver esses conflitos de homens que são julgados “solitários e indecisos”?

Todavia, a psicologia novamente tenta adentrar em um campo que nada sabe e se julga capaz de concluir e resolver algo que não a compete. Ou como disse Nietzsche “seria uma doutrina perspectivista dos afetos no lugar de uma “teoria do conhecimento”.

A solidão por escolha própria e a indecisão advêm de um buraco existencial infinito que não convém nem sequer o entendimento prévio da psicologia e muito menos a tentativa de “curar” aquilo que a psicologia considera prejudicial. Vertentes como o Cinismo filosófico que é proposto por Diógenes de Sinope no século IV a.C propõe o afastamento, tanto da sociedade tal como ela se apresenta e também de paixões em vários âmbitos e esferas que a palavra consegue abranger. Dentro dessa problemática apresentada pelo Cinismo filosófico, acarreta o niilismo, a desconfiança e o isolamento. Nada de mau disso acarretaria na vida do indivíduo que por decisão própria a estabelece como válida. Por que uma recém teoria chamada de ciência encharcada ainda por um viés asceta teria função positiva dentro dessa decisão em específico? Absolutamente nada.

Ou a decisão de Lao Tsé de se tornar um ermitão por vários anos nas proximidades da China imperial. Que conclusão válida uma teoria presa a preconceitos e temores morais teria na formulação das diretrizes da filosofia oriental do taoísmo? Absolutamente nada.

 

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