O mistério de Jacinto/Jacira: o jacaré mais famoso de Goiânia

Várias particularidades marcaram a trajetória de vida do jacaré-açu Jacinto, que residiu os últimos anos de sua vida no zoológico da cidade de Goiânia. A primeira delas o fato de o animal carregar a fama de maior réptil do País a viver em cativeiro, o que por si só já atraia vários visitantes ao seu encontro. O que tornou o bicho ainda mais célebre foi o fato de que, no início, ele foi batizado como Jacira, e todos acreditavam se tratar de uma fêmea. O mistério do notório jacaré foi adaptado à linguagem infantil pelos escritores Daniel Alves Pereira e Maria Pereira Vieira Alves. O lançamento de O mistério no Zoo – O bicho misterioso, foi realizado em agosto, na Semana Cultural da UEG do campus de Iporá.

Em conversa com a equipe do DmRevista, Daniel Alves Pereira explica de onde surgiu a ideia de narrar a história do jacaré através de uma linguagem própria para crianças. “A obra relata em linguagem infantil a história do famoso jacaré Jacira/Jacinto, que a princípio pensava-se ser fêmea. Na época, crianças de todo o Estado foram convidadas a participar da escolha do nome do misterioso animal, considerado o maior jacaré-açu em cativeiro do Brasil, e o primeiro da espécie em Goiás”, conta. O trabalho é fruto da combinação da sensibilidade de Daniel, que é artista e cartazista, e de Maria, que atualmente estuda Letras na Universidade Estadual de Goiás em Iporá.

Vários elementos foram pensados para que o livro adquirisse as características necessárias para atrair o interesse das crianças, como explica Daniel, a começar pela forma de narrativa escolhida: “A historinha é narrada pelos próprios animais [Dona Pata e Dr. Coruja], o que a torna muito atrativa e cativante”. Outros detalhes cumprem a função de estimular a criatividade e curiosidade dos pequenos leitores, como ilustrações e palavras incomuns ao vocabulário infantil. “O livro é composto por trinta palavras diferentes, mais comuns no ensino médio. Por isso ele contém um glossário que explica os significados. Também possui desenhos para serem pintados pelas crianças”, conclui o autor.

Entenda o caso

Por muito tempo acreditou-se que o jacaré fosse fêmea. O animal só foi rebatizado com nome masculino após uma verdadeira saga que fez com que os olhos de toda a cidade fossem voltados para o Zoo. Jacira, como era conhecido o bicho, tinha fama de impaciente, violenta e mortal quando seus possíveis parceiros sexuais tentavam se aproximar. A confusão só foi revelada depois da morte consecutiva de inúmeros machos que eram colocados no cativeiro de Jacira na tentativa de acasalamento. O comportamento de Jacira fez com que sua fama fosse elevada a níveis extremos, e crianças e adultos a visitavam com frequência. A história é contada com mais detalhes no site Recanto das Letras, pelo autor Se-Gyn.

A tentativa de acasalar Jacinto (então Jacira) com outros machos durou vários anos. “Ao longo dos anos, se repetia a notícia de que os veterinários e biólogos do parque haviam trazido um espécime macho para acasalar com Jacira e, dias depois, suceder a notícia de que ela havia trucidado mais um companheiro que haviam soltado em seu poço para emprenhá-la”, conta o autor. Foi necessária uma verdadeira força-tarefa para descobrir os motivos. “Os profissionais do Parque Zoológico de Goiânia encafifaram com aquele estranho comportamento da bela e feroz fêmea de jacaré e resolveram, então, submetê-la a toda sorte de exames, para tentar verificar a causa de sua recusa ao chamado da natureza para a reprodução”.

Um renomado biólogo esteve no Zoológico de Goiânia na intenção de solucionar o caso. “Chegando lá, o biólogo bateu o olho e a fitou por um longo tempo, verificando seu biotipo e dimensões. Depois de algum tempo, pediu que imobilizassem e anestesiassem o animal, para exames. Foi uma trabalheira, mas atenderam ao pedido. De luvas de borracha na mão, começou uma série de exames e toques por diversas partes do imenso corpo do bicho. Depois, sentenciou: ‘não haveria como acasalar este espécime com outro macho, pois a Jacira aqui não é Jacira – é Jacir!’”, conclui o autor. O esqueleto do famoso Jacinto encontra-se hoje exposto no Museu Ornitológico de Goiânia, localizado no Setor Campinas.