Pensar e agir na racionalidade ambiental
Diário da Manhã
Publicado em 7 de setembro de 2016 às 03:00 | Atualizado há 9 anosDesenvolvimento real é o desenvolvimento que se processa a partir da racionalidade ambiental, consciência sistêmica que integra o homem com a biosfera do planeta determinando o uso de recursos naturais e a preservação dos ecossistemas para o bem estar dessa e das futuras gerações humanas.
A humanidade atual vive em padrões de consumo acima do que o planeta Terra pode suportar por muito tempo, ou seja, as metas de produção e consumo não estão levando a sério a biocapacitação planetária. A “biocapacitação” é um indicador que dimensiona as áreas de terras e o volume de água capazes de fornecerem recursos biológicos úteis e de absorverem os resíduos que resultam das atividades antrópicas. Estima-se que a biocapacitação terrestre seja de 13,4 bilhões de hectares globais.
A população humana está consumindo recursos naturais que equivalem a uma Terra e mais um terço dela, o que significa que está explorando solos, rios e mares numa velocidade tal, que o Planeta não é capaz de promover sua recomposição através do ritmo natural dos seus ciclos biogeoquímicos. A exploração desmedida e calcada em uma racionalidade positivista inadequada para o século atual está em total descompasso com a biocapacitação terrestre. Em termos práticos, se persistirmos nesse modelo, com o decorrer do tempo,a humanidade terá que amargar com menos água potável, menos terras produtivas e maior agravamento dos problemas ambientais.
Um índice que mede a pressão das atividades antrópicas sobre os ecossistemas é a “pegada ecológica”. Ela mede as áreas de terras e o volume de água que um indivíduo, uma nação ou a humanidade necessita para produzir tudo aquilo que consome e descartar no ambiente todo o lixo gerado. O cálculo da pegada ecológica leva em conta o número de habitantes e o seu grau de consumo, sendo naturalmente influenciado pela maior ou menor eficiência no uso de recursos naturais. O cálculo do índice da humanidade é de 2,7 hectares globais per capita, o que significa que para se manter o padrão de vida atual de algo em torno de sete bilhões de seres humanos que vivem na Terra seriam necessários mais de 18 bilhões de hectares, o que equivale a um planeta e mais um terço dele.
O slogan “Quanto mais, melhor” é uma agressão ao legítimo desenvolvimento sustentável. É totalmente incompatível com uma economia de baixo carbono. No início da década de sessenta cinco trilhões eram gastos na aquisição de bens e em serviços que orbitam as indústrias e o comércio, atualmente esse montante é seis vezes maior. Nos últimos cinqüenta anos a população mundial dobrou e o consumo passou a ser seis vezes maior, portanto, o consumo “per capita” da humanidade atual triplicou em relação à década de sessenta.
Ecólogos e ambientalistas lutam pela preservação dos ecossistemas, pela utilização de fontes limpas de energia, pelo destino adequado do lixo e pela preservação dos mananciais de água, todavia, a retórica do discurso ambiental só deixa de ser retórica tornando-se ação efetiva com o aval de uma sociedade consciente, mobilizada e madura para fazer valer sua vontade.
Quando a pegada ecológica de um país se encontra muito acima de sua biocapacitação é sinal de que possui elevado padrão de consumo à custa de débito ambiental gerado para o resto da humanidade. Estados Unidos e China se enquadram nessa condição. A pegada ecológica do Brasil se mostra estável desde a década de sessenta, entretanto, sua biocapacitação, em função de desmatamentos ostensivos e da expansão agrícola desordenada, está diminuindo drasticamente, mas sua biocapacitação ainda supera a pegada ecológica, por isso o Brasil ainda não apresenta ônus ambiental.
Os economistas do desenvolvimento sustentável propuseram um novo indicador para expressar melhor o desenvolvimento econômico de um país, o Índice de Progresso Genuíno (IPG) que desconta do valor do PIB os custos sociais e ambientais para gerar as riquezas, tais como, esgotamento dos recursos naturais, poluição e desigualdade social.