Cultura

Na frequência do vinil

Diário da Manhã

Publicado em 6 de setembro de 2016 às 02:23 | Atualizado há 9 anos

A Mandinga Records é um selo goiano que surgiu em 2014 num momento diferente para o rock alternativo, no qual bandas têm possibilidade de lançar álbuns por meio físico ou em plataformas digitais. Este selo propõe atender quem ainda gosta de música tangível, sem esperar por grupos que seguem clichês e formas predeterminadas. A música transformada em produto físico, principalmente o vinil, ainda encanta e encontra consumidores leais.

Os lançamentos do Mandinga deste ano vão desde sons da movimentada São Paulo até do distante Porto Rico. As bandas Los Vigilantes, de Porto Rico; Bloody Mary Una Chica Band e Thee Dirty Rats, ambos de São Paulo, entraram para o casting do selo goiano com os respectivos discos: “Viento, Sereno y el Mar”, “Heart Disease” e “Traps and Mass Confusion”.

Idealizado e dirigido por Pedro Henrique Rabelo, também vocalista da banda Bang Bang Babies, a Mandinga Records oferece aos apreciadores do formato vinil o que há de interessante no subterrâneo musical. O casting do selo também é composto pelas bandas Bang Bang Babies, de Goiânia; Jazz Beat Committee e Drakula, ambas de São Paulo, e The Dyna Jets, da África do Sul. O selo Monster Mash Records, da Holanda, é responsável pela distribuição na Europa.

 

Los Vigilantes

Uma das bandas mais expressivas da interessante cena Garage/Power Pop de Porto Rico, Los Vigilantes mistura a energia do punk com melodias festivas e sons de garagens dos anos 1960. Com seis anos de carreira, os porto-riquenhos já lançaram dois full álbuns: Al Fin, pelo selo Chacho Records, México e o LP homônimo pela Slovenly Recordings (EUA), além de vários singles por selos como a Norton Records, também dos EUA. O grupo fez turnês pela Europa, Estados Unidos e América Latina.

Em abril deste ano, Los Vigilantes lançou pela Mandinga Records o compacto 7” “Viento, Sereno y el Mar”. O EP contém quatro músicas e mostra a facilidade que a banda tem em construir vocais grudentos, como a faixa título Viento, Sereno y El Mar – que nos remete às praias de San Juan e ao verão porto-riquenho. “Wakao Ayako”, a segunda experiência da banda com o idioma japonês, faz uma homenagem à atriz nipônica que leva o nome da música – contém uma pegada instrumental à la “The Kinks”. O EP conta ainda com a faixa “Mejor”, um cover do grupo espanhol “Los Brincos”, que chamou atenção nos anos 1960 e foi comparado a grupos da invasão britânica que aconteceu na época.

 

Bloody Mary Una Chica Band

Munida de uma guitarra vermelha como sangue, Bloody Mary Una Chica Band destila toda sua força em um Garage Noise com volume alto. O som distorcido, a batida certeira e a voz rasgada-embriagada tem influências de Two Tears e Margaret Doll Rod. De São Paulo, a one lady band estreou no final de 2013 e logo partiu para uma turnê pela Europa com o grupo Human Trash, outras bandas e one mans bands.

De volta ao Brasil, engatou numa série de apresentações em diversas cidades e eventos como SP na Rua, Girls Rock Camp Brasil e Feira Plana. Em maio de 2015 lançou o primeiro álbum, um homônimo em fita K7 com quatro músicas pelo selo Outprint. “Bloody Mary Una Chica Band” foi gravado ao vivo no Estúdio Mestre Felino por meio de um Tascam de quatro canais.

Em maio deste ano, Bloody engatilhou uma nova turnê pela Europa, onde prensou novo EP “Heart Disease”. O compacto 7” contém quatro sons que foram gravados ao vivo no Caffeine Sound Studio por Jonas Morbach (The Black Needles) e com pitacos de Luis Tissot (Fabulous Go Go Boy, Dirty Rats). Usando artifícios analógicos, o álbum foi gravado no rolo e a arte da capa foi feita a mão. O EP Heart Disease foi lançado pela Mandinga Records em parceria com os selos Hérnia de Discos, de São Paulo e Moncul, da França; além do apoio da lendária banda punk La Fraction.

 

Thee Dirty Rats

Influenciados pelo garage rock com dose de new wave, Thee Dirty Rats soa cru e sujo. É rock’n’roll minimalista feito com três cordas esticadas e três peças de bateria. O duo paulista surgiu em 2014 e é formado por Luis Tissot nos vocais e “cigar box guitar” – uma guitarra caseira de 3 cordas construída pela própria banda ligada a um pedal de fuzz – e Fernando Hitman na bateria, que reproduz som robotizado.

O EP virtual “The Fine Art of Poisoning 1&2”, de maio de 2015, contém sete músicas que foram captadas em um gravador de fita cassete de quatro canais por Jonas Morbach (The Blackneedles). Duas faixas do disco também foram lançadas em cassetes na Argentina em um Split com a banda portenha Sarcofagos Blues Duo.

Depois de seis meses, o segundo EP, “Perfect Tragedy” foi lançado em tiragem limitada de 100 fitas cassetes pelo selo americano Woody Records e outra edição também em k-7 pelo selo argentino Scrap Metal Dealer.

O Terceiro EP da banda, “Traps and Mass Confusion”, foi prensado na Europa e lançado pelo selo goiano em vinil 7’’. À época, o duo fez uma turnê de 20 shows em 26 dias pela França, Suíça, Alemanha, Itália, Áustria e Hungria.

Uma entrevista com Pedro H. Rabelo, o idealizador do Mandinga Records

 

DM: Como foi a idealização e construção do selo Mandinga Records?

 

Pedro H. Rabelo: A Mandinga surgiu com o lançamento de um compacto do Bang Bang Babies em 2014, queríamos lançar o vinil, mas não conseguimos encontrar algum selo que atendesse a proposta nesse formato.  Depois disso decidi continuar lançando apenas compactos 7″ de bandas que eu acho legal e seguem essa proposta  garage, um som mais livre e com influência punk, nada de muito manjado. Até agora foram sete lançamentos em parceria com as bandas e também com outros selos.

 

DM: Sobre os lançamentos em formato de vinil. Isso foi uma demanda observada pelo Mandinga ou um lance de apaixonados por esse formato?  A procura por discos em tempos de música digital ainda é grande?

 

Pedro H. Rabelo: A procura por vinil tem crescido nos últimos anos, mas é importante observar que a produção nunca parou. Mesmo quando o formato foi dado como morto, bandas e selos continuavam lançando e os colecionadores sempre estiveram na ativa. A ideia da Mandinga é atender esse público que, mesmo com as facilidades da música digital, são apaixonados pelo formato físico, o que é bem comum no circuito underground. A ideia nunca foi fazer superproduções, as cópias são limitadas e o selo funciona bem no esquema “Faça você mesmo”, tentamos manter um contato bem direto com os clientes.

 

DM: Em questão de valores, o formato digital torna a música financeiramente mais acessível, o Mandinga colocando nesse formato, vinil, consegue fazer um produto acessível?

Pedro H. Rabelo: Infelizmente os custos para a produção aqui no Brasil são muito mais altos que em outras partes do mundo, o que interfere no valor final . Tento deixar o preço o mais acessível possível, mas seria muito mais fácil se as condições para produção fossem melhores. Novas fábricas estão surgindo, espero que as coisas melhorem a partir disso.

 

DM: O Mandinga pretende abrir espaço para produzir o som de outras bandas goianas?

 

Pedro H. Rabelo: Nada impede, seria legal produzir mais bandas goianas, têm algumas  bem boas por aqui. Seria importante ser uma banda que ousasse um pouco mais e saísse um pouco do padrão de gravação que costumamos ouvir por aqui, é sempre legal experimentar e eu vejo que tem um pessoal por aqui fazendo isso.

 

DM: Como aconteceu essa ponte musical entre o selo e bandas de Porto Rico e África do Sul? Quais as produções em formato vinil que já foram produzidas pelo Mandinga?

 

Pedro H. Rabelo: Essas bandas já tinham sido lançadas por selos dos Estados Unidos e Europa anteriormente, já possuíam um certo público dentro do circuito de rock garageiro. Não foi difícil entrar em contato com eles e fazer a parceria. Não existem fábricas de vinil em seus respectivos países, por isso acho que foi interessante para eles lançar pelo selo.  A ideia foi expandir um pouco os limites e dialogar com colecionadores e distribuidores além do Brasil, o que tem funcionado.  O catálogo é o seguinte: Mandinga 001 -Bang Bang Babies (Goiânia-GO); Mandinga 002 -Jazz Beat Committee (São Paulo-SP); Mandinga 003- Drakula (Campinas-SP); Mandinga 004-The Dyna Jets (África do Sul); Mandinga 005 -Los Vigilantes (Porto Rico); Mandinga 006- Thee Dirty Rats (São Paulo-SP); Mandinga 007 -Bloody Mary Una Chica Band (São Paulo-SP).

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