Opinião

Cada vez mais raro o político honesto

Redação DM

Publicado em 28 de agosto de 2016 às 01:02 | Atualizado há 9 anos

A honestidade é uma das virtudes mais importantes na família, no trabalho, na sociedade. Na política, então assume especial relevância. Um político ser capaz de dizer a verdade (dizer o que pensa) e fazer o que diz, eis aí o que necessitamos.

Pode-se pensar na importância da competência técnica da inteligência, da inovação e da criatividade. Mas entre nós, o que mais em falta em grande dos políticos e agentes públicos nesse país é mesmo honestidade. Tudo o resto são benefícios que se podem construir por ações e pensamentos honestos.

Lamentavelmente o que se ver hoje são gestores desviando recursos da educação da saúde, crianças sem vagas em escolas, pessoas morrendo em filas de hospitais. Não por falta de recursos e sim por falta de honestidade, má gestão do recursos públicos, falta de compromissos com a sociedade.

Os políticos brasileiros, de modo geral, parecem ter pouco aprendido com o ensinamento romano de que a “mulher de César, além de ser honesta, deve parecer honesta”. Aqui os políticos perderam qualquer constrangimento e, com poucas exceções, praticam o inverso: “a mulher de César, além de não ser honesta, não precisa parecer honesta”.

O trato da coisa pública com veio particular se tornou uma espécie de consenso (ou não senso). O que se vê são pessoas ingressando na vida pública já com a intenção deliberada de enriquecimento e acúmulo patrimonial, às custas do dinheiro público.

A qualidade da representação popular em nosso país decaiu muito nos últimos anos. Não falo da era Lula-Dilma apenas. De uns 30 anos para cá, pelo meu próprio testemunho, o Brasil perdeu políticos de relativa grandeza e visão pública mais ampla para ganhar uma quantidade absurda de pseudos políticos populares, semianalfabetos, ignorantes, corruptos, distantes do conhecimento mínimo das necessidades da vida pública. São doutores, todavia, na arte de ludibriar, mentir, roubar, enganar, iludir a massa votante.

O que se vê por aí é a exacerbação da prática de tornar particular o público e tornar público o mínimo suficiente para deixar cativa uma massa de eleitores que se inserem no adjetivo de ingênuos e mal informados.

A qualidade da educação brasileira não cresceu na mesma proporção do interesse de candidato sem fazer da vida pública seu valhacouto. Ao contrário, a qualidade da educação permaneceu no século 20 e a gatunagem travestida de representação popular evoluiu para o século 21 na capacidade de abocanhar fatias dos próprios públicos, desde dinheiro a terras.

Se a qualidade do político (e da política) em solo pátrio vem dando marcha ré, na atual quadra da vida nacional, a perda da qualidade se multiplicou em proporção geométrica. Está instalada em todos os partidos e em suas ramificações com as bandas podres da sociedade e do empresariado.

Para onde se olhe, em lugar de luz temos a escuridão dos conluios, o fechamento das negociatas, com os sugadores da riqueza nacional se apropriando de tudo, associados ao crime organizado, que ganhou status de poder dentro do poder. As perspectivas para o Brasil não são boas de qualquer ângulo que se olhe.

O brasileiro, pobre coitado, ainda é tentado a se convencer que vive no melhor dos mundos, morre como mosca (pela violência, no trânsito, na falta de hospitais decentes, de estradas decentes) em número maior do que qualquer guerra em andamento no mundo.

Hoje estamos mais para Ruy Barbosa, com vergonha de ser honestos, acuados por defender o certo, e cansados de buscar quem seja e pareça honesto. Qual Diógenes, de lanterna na mão, procuramos o que, se existe, não se vê. Cabe a cada um de nós, então, pelo voto praticar a decência.

 

Nailton de Oliveira, advogado, ex-prefeito de Bom Jardim de Goiás, ex-presidente da Associação Goiana de Municípios (AGM)


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