“Temer conspira abertamente! Pedalada é apenas o pretexto”
Diário da Manhã
Publicado em 28 de agosto de 2016 às 01:01 | Atualizado há 4 meses- Ex-repórter do Fantástico crê que Dilma Rousseff deve ser afastada definitivamente já na próxima quarta-feira
- Com passagens pelos jornais Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo, jornalista afirma que grampo a Lula foi ilegal
- Processo de impeachment é, na verdade, eleição indireta do vice à Presidência da República, denuncia o também escritor
- Ele frisa que a imprensa foi muito pouco crítica em relação aos atos processuais do juiz federal de Curitiba, Sérgio Moro
– Pedalada fiscal é apenas pretexto. O motivo para o impeachment de Dilma Rousseff é político. É o que diz o próprio Michel Temer!
É o que afirma o jornalista, com passagens por ‘Fantástico’, ‘Folha de S. Paulo’, ‘Estado de S. Paulo’, ‘O Globo’ e ‘O Dia’, Fernando Molica, 55 anos de idade. À época do impedimento de Fernando Collor de Mello, o caçador de marajás, como apontou a revista Veja, de circulação nacional, o seu vice, Itamar Franco, com o seu indefectível topete mineiro, não conspirou para subir a rampa do Palácio do Planalto, recorda-se o celebrado repórter investigativo.
– Michel Temer conspira abertamente!
O presidente interino teria transformado o Palácio do Jaburu – num bunker do golpe – em um espaço para receber deputados federais, senadores, governadores de Estado, com influência sobre as suas respectivas bancadas parlamentares, relata ao Diário da Manhã. O autor do celebrado ‘O Homem que Morreu Três Vezes’, que conta a história do ‘Chacal brasileiro’, cuja história espetacular tem um pé em Goiás, lembra que até ministério foi formado lá [No Jaburu].
– É declarado! O que é mais grave…
Se não houver surpresas, o impeachment de Dilma Rousseff deve obter os votos necessários para a sua aprovação no Senado da República, acredita. A menos que ocorra uma mudança radical no cenário político nacional, observa. A Constituição Federal de 1988 é clara: impeachment somente em caso de crime de responsabilidade, explica. O advogado José Eduardo Cardoso insiste que não há crime, frisa. Mas essa é uma discussão superada, conta.
– O suposto crime de responsabilidade virou apenas um pretexto.
Fernando Molica aponta o calendário do impeachment. Vice eleito com um programa – democrático e popular – no segundo turno de 2014, Michel Temer, um ano depois, lançou a plataforma política denominada de ‘Uma Ponte Para o Futuro’. Um projeto completamente oposto ao que ele havia sido eleito, atira. Com um viés liberal clássico, pontua. Com cortes de verbas obrigatórias para Saúde e Educação, para mexer na Previdência e na CLT, aponta.
– O primeiro movimento claro para tentar chegar ao poder! – [Pela via indireta]
O ex-colunista de ‘O Dia’ avalia que Michel Temer teria transformado o processo de impeachment, que PT, PC do B, PCO e PSol definem como um golpe, ao estilo da deposição de Manuel Zelaya, em Honduras, no ano de 2009, e da queda de Fernando Lugo, integrante da ala progressista da Igreja Católica, no Paraguai, em 2012, numa eleição indireta à Presidência da República. Michel Temer diz, hoje, que já teria os 54 votos para obter a vitória, relata.
– Esses votos não deveriam ser pró-Michel Temer… Mas contra os supostos crimes de responsabilidade que teriam sido executados por Dilma Rousseff.
O que arranha a suposta legitimidade de todo o processo legal, sublinha. Uma somatória de fatores levaram à crise política e institucional no Brasil, em 2014, 2015 e 2016, analisa. A crise econômica que não foi enfrentada por Dilma Rousseff, em um ano eleitoral, 2014, é o primeiro, destaca. Setores da sociedade brasileira ficaram incomodados com a quarta gestão petista consecutiva, – 2003-2006; 2007-2010; 2011-2014; 2015-… – registra ele.
– Além disso, havia a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva voltar em 2018…
Observador da cena política tupiniquim, ele é taxativo: “O PT não inventou a corrupção”. Entretanto, a eclosão de sucessivos escândalos – Mensalão, Petrolão, Operação Lava Jato – manchou a reputação até então ética do partido, fuzila. O que gerou um desencanto social, insiste. Além de fornecer combustível para que se formasse uma ampla articulação contra a então presidente da República, Dilma Rousseff, explica o autor de ‘Uma selfie com Lênin’.
– Houve, então, uma cobertura intensa demais…
Sem querer generalizar, o jornalista Fernando Molica, que não vê os conglomerados de comunicação no Brasil como um ‘bloco monolítico’, analisa que é inegável que os destaques dados à Operação Lava Jato e à crise política foram muito grandes. Lava-Jato e Petrolão precisam, sim, de cobertura, registra. No entanto, ela foi focada demais em apenas um lado, uma versão, da história, reclama o repórter que acompanhou a crise de Fernando Collor de Mello.
– A imprensa foi muito pouco crítica em relação aos atos processuais do juiz federal de Curitiba, Sérgio Moro.
Segundo ele, pessoas ficaram presas mais de um ano sem julgamentos, denuncia. A imprensa ficou quase refém das investigações do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário, desabafa. Os jornalistas investigaram, apuraram, muito pouco, metralha. De forma diferente do que ocorreu no processo que culminou no processo de afastamento de Fernando Collor de Mello, líder do então PRN [Partido da Reconstrução Nacional], em outubro de 1992.
Com Sérgio Moro, houve um excesso de rigor e a não observância de princípios do direito brasileiro, como o da presunção da inocência, afirma. Fernando Molica relata ainda ao Diário da Manhã que prisões preventivas foram decretadas para funcionarem como pressão para que o preso fizesse delação premiada. É preciso esclarecer também que a lei determina que a delação premiada deve ser voluntária, adianta o ‘ex-fuçador’ da Folha de S. Paulo.
– O excesso de rigor poderá ser reformado em segunda instância! Já houveram casos de que excessos nos processos judiciais levaram à anulações de decisões.
O escritor Fernando Molica acredita que o grampo a Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República por dois mandatos, teria sido ilegal. A autorização judicial para o grampo era até 11h, informa. Quando ele foi feito não havia mais autorização judicial, recorda-se. Mas acabou utilizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal [STF], Gilmar Mendes, – indicado ao cargo à época de Fernando Henrique Cardoso [PSDB] – para impedir a sua posse na Casa Civil.
54 É O NÚMERO DE VOTOS NECESSÁRIOS PARA AFASTAMENTO DEFINITIVO DE DILMA ROUSSEFF
PERFIL
Nome: Fernando Molica
Profissão: Jornalista
Formação: Jornalismo na UFRJ
Veículos: O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Dia, Fantástico
Livros publicados: Entre outros, O Homem que morreu três vezes e Uma selfie com Lênin
Idade: 55 anos
Com Sérgio Moro, houve um excesso de rigor e a não observância de princípios do direito brasileiro, como o da presunção da inocência. Prisões preventivas foram decretadas para funcionarem como pressão para que o preso fizesse delação premiada. A lei determina que a delação premiada deve ser voluntária”Fernando Molica,Jornalista investigativo