Teatro experimental do negro em Goiás – II
Redação DM
Publicado em 24 de agosto de 2016 às 02:51 | Atualizado há 9 anosPela segunda vez estou anunciando o lançamento do livro com o título acima, a ocorrer no dia 16 de setembro de 2016, às 19h30m no Auditório do Fórum da cidade de Mineiros, na presença de ilustres convidados, destacados pela representação do Judiciário, da cultura e educação mineirenses, membros da Academia Goiana de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do Estado, Ordem dos Advogados, seccional Goiana e local, seleto público, curioso em saber o que significa esse viés da Arte de Shakespeare, apelidado Teatro Experimental do Negro em Goiás (TENGO), que ousamos trazer e fundar nessas terras de Bernardo Élis e Cora Coralina onde Zumbi continua seu intrigante conflito e combate libertário.
Notem que já no antigo “teatron” dos gregos, essa arte se destacava como “lugar para ver”, certamente tomando outros sentidos que a palavra pode e deve tomar, podendo, portanto, estar nestas distantes terras goianas como esse “lugar”, onde já é talismã de um poema de Marta Brandão com seu poder mágico encantando e afugentando desgraças, mostrando que um negro é um negro. Segundo Karl Marx, “Só sob determinadas condições, ele se torna escravo”. Se não bastasse a narrativa e relatos dos capítulos, a agradável informação prefacial de Aidenor Aires, a “orelha” do poeta Brasigóis Felício, o oportuno texto de Bento Fleury sobre o incansável Otavinho Arantes, vejam que TENGO, já exibe a primeira crítica teatral do Brasil, ocorrida em Mato Grosso, revelada pelo escritor Carlos Gomes de Carvalho que, por sua vez, num erudito posfácio, desmascara a “zona cinzenta da democracia” brasileira.
Eis um pouco do que posso realçar desse teatro rebelde, “experimental do negro”, de transformações radicais no palco e na sociedade, ironicamente comovente, preocupado com arte, cultura, política, liberdade, igualdade, equidade, educação, pesquisa, estética, interesse coletivo, justiça social, função e sentido social do teatro e, que, na sua relação com a trajetória historiográfica dessa arte, em Goiás, como se fosse um delinquente perverso, foi recebido a bomba, deixando muitos olhares espantados, dúbios e suspeitos, causando outras curiosidades também estranhas em Goiânia e outros municípios onde foi encenado com a mais viva animação.
Incluída a introdução, também enriquecida com a temática em Mato Grosso, está sumariado com 14 capítulos, preocupados com estudos afro-brasileiros e cultura africana, narrando e descrevendo história e um pouco de representação cênica. No seu conteúdo artístico e proposição política pedagógica, sua arte cênica, por certo, não é a mesma dos monstros sagrados da tragédia grega, da arte medieval, da arte pela arte e da erudita dos salões franceses ou portugueses, dos quais, de algum modo, ainda possa depender; notando, todavia, que somos outros tempos, outras realidades onde o capitalismo neoliberal quer transformar tudo em negócio, lucro ou vantagem, devaneio ou mero entretenimento que, no seu pensamento paranóico, querendo transformá-lo em único, defende também barreiras, muros e outros embaraços contra a sociedade aberta, cujos inimigos existem desde a Guerra de Peloponeso na Grécia, bem demonstrados pelo livro homônimo de Karl Popper de1945.
Creio assim, que o objetivo fundamental do TENGO, é ter sua ousada encenação, como fundamento pedagógico básico, através do qual desmascare e viabilize a transformação da sociedade brasileira, das suas instituições e estruturas, dessa forma podendo amalgamar e alcançar juízo crítico, com o qual consiga reciclar-se e compreender a importância da arte no combate ao racismo; conseguindo desse modo reduzir as incríveis desigualdades existentes no país, sobremodo contra o segmento étnico negro, destacadas pelo âmbito social e racial; ficando claro que não bastam só políticas afirmativas e enfatizar a Constituição de1988, que a “prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão”. Espero que todos alcancem essa compreensão e o “Teatro Experimental do Negro”, além de outros objetivos, possa ser arte cênica com verdadeiro cheiro de povo, sem olhares cínicos e risos irônicos, “… trazendo em si o coração de todas as artes”.
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras Mineirense de Letras e Artes, IHGG, UBEGO, mestre em História Social pela UFG, professor universitário. ([email protected]))