Opinião

Pelo fruto se conhece a árvore

Redação DM

Publicado em 14 de agosto de 2016 às 03:38 | Atualizado há 9 anos

“Por isso vos digo: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro, e será réu de um pecado eterno”.

Jesus lhes disse estas coisas, porque eles diziam: “Ele está possuído por um espírito impuro”.

Prosseguia Jesus: “Ou dizei que a árvore é boa, e portanto bom o seu fruto, ou dizei que a árvore é má e o seu fruto é mau, porque é pelo fruto que se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. O Homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, mas o homem mau, do seu mau tesouro tira coisas más.

Ora, eu vos digo que, no dia do Juízo, os homens darão conta de toda palavra inútil que houverem pronunciado. Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado”.

(Evangelhos de: Mateus, cap. 12, vv. 31 a 37 – Marcos, cap. 3, vv. 28 a 30).

 

Jesus prossegue os seus ensinos diante dos que duvidavam de sua condição messiânica e diziam que ele agia sob a força de um espírito impuro. O Mestre explica que todo erro praticado pela condição natural de inferioridade evolutiva será relevado, mas todo erro que fira a Lei Natural será resgatado “até que pague o último ceitil” (Mateus, 5:26), ou seja, o último débito perante a Lei. As condições de inferioridade intelectual e moral estão vinculadas à ignorância e ao atraso moral provenientes do processo de evolução. No entanto, quando o atraso intelecto-moral prejudica os direitos naturais do próximo, fere as leis morais e terá de ser resgatado.

Nesse contexto, como exemplo, verifica-se que João Batista, mesmo sendo o precursor de Jesus, dotado de grande envergadura espiritual, não se eximiu dos seus débitos morais perante a Lei adquiridos quando mandou decapitar os sacerdotes de Baal no tempo em que encarnou como o profeta Elias. Ninguém pode se eximir da reação da Justiça da Lei Natural.

A ignorância, a incredulidade e as limitações intelectuais e morais por si mesmas são relevadas até o momento que não prejudiquem os direitos naturais de alguém.

Jesus ainda usa de metáforas para explicar a respeito da relação lógica entre o homem e suas ações porquanto uma árvore boa não pode dar maus frutos. Também, “o homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, mas o homem mau, do seu mau tesouro tira coisas más”.

Jesus compara aqueles fariseus e escribas que o censuravam como “raça de víboras” que não podem falar coisas boas porquanto têm os corações eivados de ignorância e maldade.

Para concluir, o divino Mestre também recomenda vigilância quanto às palavras: “Por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado”. Desse modo, o Rabi revela a respeito da força e do poder das palavras quando bem ou mal direcionadas ao próximo. Afinal, as palavras são ações dos do espírito que identificam a sua condição evolutiva. Nesse sentido, Allan Kardec, em sua obra O Livro dos Médiuns (tradução de Herculano Pires), no capítulo 24 que trata da Identidade dos Espíritos, no item 267 (Distinção entre os espíritos bons e maus), ratifica esses ensinos de Jesus:

“267. Podemos resumir os meios de reconhecer a qualidade dos Espíritos nos seguintes princípios:

1º) Não há outro critério para se discernir o valor dos Espíritos senão o bom senso. Qualquer fórmula dada pelos próprios Espíritos, com esse fim, é absurda e não pode provir de Espíritos superiores.

2º) Julgamos os Espíritos pela sua linguagem e as suas ações. As ações dos Espíritos são os sentimentos que eles inspiram e os conselhos que dão.

3º) Admitido que os Espíritos bons só podem dizer e fazer o bem, tudo o que é mau não pode provir de um Espírito bom.

4º) A linguagem dos Espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre, sem qualquer mistura de trivialidade. Eles dizem tudo com simplicidade e modéstia, nunca se vangloriam, não fazem jamais exibição do seu saber nem de sua posição entre os demais. A linguagem dos Espíritos inferiores ou vulgares é sempre algum reflexo das paixões humanas. Toda expressão que revele baixeza, autossuficiência, arrogância, fanfarronice, mordacidade é sinal característico de inferioridade. E de mistificação, se o Espírito se apresenta com um nome respeitável e venerado.

[…]

6º) A linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, se não quanto à forma, pelo menos quanto à substância. As ideias são as mesmas, sejam quais forem o tempo e o lugar. Podem ser mais ou menos desenvolvidas segundo as circunstâncias, as dificuldades ou facilidade de se comunicar, mas não serão contraditórias.

[…]

7º) Os Espíritos bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importar coma verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso revela a fraude, se o Espírito se apresenta como esclarecido.

8º) Os Espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação.

9º) Os Espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das ideias e das expressões, claro, inteligível a todos, não exigindo esforço para a compreensão. Eles possuem a arte de dizer muito em poucas palavras, porque cada palavra tem o seu justo emprego. Os Espíritos inferiores ou pseudo-sábios escondem sob frases empolgadas o vazio das ideias. Sua linguagem é frequentemente pretensiosa, ridícula ou ainda obscura, a pretexto de parecer profunda.

10º) Os Espíritos bons jamais dão ordens: não querem impor-se, apenas aconselham e se não forem ouvidos se retiram. Os maus são autoritários, dão ordens, querem ser obedecidos e não se afastam facilmente. Todo Espírito que se impõe trai a sua condição.  exclusivistas e absolutos nas suas opiniões e pretendem possuir o privilégio da verdade. Exigem a crença cega e nunca apelam para a razão, pois sabem que a razão lhes tiraria a máscara.

11º) Os Espíritos bons não fazem lisonjas. Aprovam o bem que se faz, mas sempre de maneira prudente. Os maus exageram nos elogios, excitam o orgulho e a vaidade, embora pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles que desejam conquistar.

[…]

15º) Os Espíritos bons são muito escrupulosos no tocante às providências que podem aconselhar. Em todos os casos têm apenas em vista um fim sério e eminentemente útil. Devemos pois encarar como suspeitas todas aquelas que não tenham esse caráter ou sejam condenáveis pela razão, refletindo maduramente antes de adotá-las, pois do contrário nos exporemos a mistificações desagradáveis.

16º) Os Espíritos bons são também reconhecíveis pela sua prudente reserva no tocante às coisas que possam comprometer-nos. Repugna-lhes desvendar o mal. Os Espíritos levianos ou malfazejos gostam de expô-lo. Enquanto os bons procuram abrandar os erros e pregam a indulgência, os maus os exageram e sopram a discórdia por meio de pérfidas insinuações.

17º) Os Espíritos bons só ensinam o bem. Toda máxima, todo conselho que não for estritamente conforme a mais pura caridade evangélica não pode provir de Espíritos bons.

 

(Emídio Silva Falcão Brasileiro, escritor, pesquisador e  professor, autor de diversas obras e membro de diversas instituições culturais)

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