Mais criancices, por favor!
Diário da Manhã
Publicado em 7 de agosto de 2016 às 02:41 | Atualizado há 9 anosQuatro pessoas estavam sentadas em uma mesa à minha frente, enquanto eu esperava meu pedido. Fiquei observando por longos 20 minutos e me perdi em pensamentos enquanto imaginava o que cada uma daquelas quatro pessoas faziam em seus celulares, ocupadas, sem trocarem nenhum olhar sequer.
O tempo ia passando e eu até tentei me entreter com meu celular também, mas não conseguia. Estava preocupada demais com aquelas quatro pessoas. Na verdade, minha preocupação era porque elas não estavam percebendo a presença umas das outras.
Bom, muitos vão dizer que estamos em uma era de tecnologias e todos os adultos estão ocupados demais e precisam aproveitar o pouco tempo (de uma refeição) para trabalharem em seus celulares, tablets, etc.
Verdade. Mas aquelas quatro pessoas que eu estava observando eram meninas entre 8 e 10 anos. Quatro crianças! Os adultos sentados em uma mesa, elas em outra.
É necessário orientar nossas crianças sobre o uso de smartphones, principalmente em relação à segurança delas, se conectando com pessoas que nunca viram e que, não nos iludamos, podem ser, sim, pessoas a virem fazer mal aos nossos filhos.
Não se trata somente de ficarem atentos ao tempo em que as crianças ficam imersas em tecnologias, mas devemos ir mais além. Os pais precisam saber o que seus filhos estão acessando, com quem estão falando.
Pesquisas apontam para o crescimento assustador do número de crianças que estão utilizando eletrônicos e escolhendo estar com eles em mãos ao invés de viverem coisas de crianças, que estão sendo a cada dia menos experimentadas por elas.
Criança tem que ser criança. Precisa brincar, correr, machucar o dedão do pé, esfolar o joelho. Criança precisa ter suas primeiras brigas com outras crianças enquanto decidem quem ganhou na brincadeira e irem, através das brincadeiras, descobrindo seus limites, suas habilidades.
É no brincar que as crianças vão percebendo as regras, aprendem respeitar o outro, se respeitar.
Precisamos nos atentar a ajudar nossas crianças a terem melhores relacionamentos com outras crianças e proporcionarmos momentos de contato, de olhar nos olhos, de se expressarem.
Estamos colaborando para que os smartphones silenciem cada vez mais nossos filhos e os afastem de nós. Precisamos começar a fazer diferente em nossas casas para que do lado de fora, sejam crianças que conseguem se socializar melhor e venham a ser adultos com êxito em qualquer área que atuem.
Criança tem que ser criança! Que as tecnologias não impeçam que elas vivam essa etapa tão importante do desenvolvimento de um ser humano.
(Karla Cerávolo, psicóloga e diretora da Organização De Umbiguinho a Umbigão)