Opinião

Jesus cura um cego e mudo por subjugação

Redação DM

Publicado em 7 de agosto de 2016 às 02:37 | Atualizado há 9 anos

Então lhe trouxeram um possesso cego e mudo. E ele o curou, expulsando o espírito que era mudo, de modo que, quando o espírito saiu, o cego e mudo passou a falar e a ver.

Toda a multidão ficou admirada e dizia: “Não é este o Filho de Davi?”

Os fariseus e os escribas que haviam descido de Jerusalém, ouvindo isso, disseram: “Ele está possuído por Belzebu”. E também: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios”.

Outros, para pô-lo à prova, pediam-lhe um sinal vindo do céu. Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, chamou-os para junto de si e falou-lhes por parábolas:

“Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruínas e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma poderá subsistir. Como pode Satanás expulsar Satanás? Se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo. Ora, se ainda, Satanás, se atira conta si próprio, estando dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Não poderá subsistir, mas acabará. Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. Se é por Belzebu que eu expulso os demônios, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso serão eles mesmos os vossos juízes. Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então chegou a vós o Reino de Deus.

Ou como pode alguém entrar na casa do forte e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? Só então poderá roubar a sua casa. Quando o forte e bem armado guarda sua casa, os seus bens estão seguros. Mas, se sobrevem um mais forte do que ele e vence-o, tira-lhe a armadura, na qual confiava, e distribui seus despojos.

Quem não está comigo é contra mim, e quem não ajunta comigo, dispersa”. (Evangelhos de: Mateus, cap. 12, vv. 22 a 30 – Marcos, cap. 3, vv. 22 a 27 – Lucas, cap. 11, vv. 14 a 23).

Jesus aproveitou dos comentários dos fariseus e dos escribas a respeito da cura de um possesso cego e mudo para nos dar uma significativa lição a respeito das contradições ou incoerências do espírito que ainda não atingiu um nível satisfatório de evolução intelecto-moral.

Ao ser liberto de um espírito impuro por meio da ação do Cristo, o enfermo passou a falar e a ver. Não se sabe se o homem era cego e mudo desde o nascimento. É provável que a cegueira e a mudez do enfermo resultaram da possessão espiritual porquanto a narrativa informa que o espírito obsessor era mudo.

Essa cura causou grande admiração e perplexidade. Para evitar que o Mestre fosse  considerado Messias por todo povo que lembrava que o Messias seria da descendência de Davi, os fariseus e os escribas disseram que Jesus havia curado o homem por estar possuído por um espírito demoníaco denominado Belzebu.  Outros que censuravam o Mestre queriam ridicularizá-lo, solicitando-lhe “um sinal vindo do céu”, provavelmente conforme aconteceu nos tempos de Moisés e do profeta Elias. No entanto, Jesus conhecia os pensamentos de todos e não atendia aos caprichos dos incrédulos, mas aproveitou para ensinar uma lição a respeito da lógica divina.

O Mestre explicou, por meio de parábolas, que não é possível o mal combater o próprio mal. Até entre os que praticam o mal existe uma coerência: não cogitar contra a sua extinção.

Jesus, em sua perfeita didática, trabalha com uma lógica superior, clara e objetiva. Dentre tantos ensinamentos lógicos do Mestre, é ainda oportuno lembrar os seguintes:

“Pode um cego guiar outro cego? Não cairão ambos na cova?” (Lucas, 6:39).

“Se amardes apenas aqueles que vos amam, que recompensa tereis?” (Mateus, 5:46).

“Não se pode servir a dois senhores.” “Não se pode servir a Deus e a Mamon.” (Lucas, 16:13).

“Pela árvore que se reconhece o fruto. Uma árvore boa não pode dar maus frutos.” (Lucas, 6:43-44).

“Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que digo?” (Lucas, 6:46).

“Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente?…  Se vós, sendo maus, dais boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai Celeste.” (Lucas, 11:11-13).

Jesus ainda condena a hipocrisia porquanto o hipócrita, antes de tudo, é um incoerente, contraditório e, não raras vezes, decepciona, causando danos físicos e morais a si e aos incautos. Por isso, diante dos que condenaram a mulher flagrada em adultério, ele falou com uma suprema lógica de Justiça: “Aquele que tiver sem pecado atire a primeira pedra”. (João, 8:7).

Além disso, o sábio Messias não aceita uma fé cega, incoerente, ilógica, contraditória, sem obras e distante da razão. Em consequência disso, Deus não poderia ter características humanas tão voláteis e limitadas, conforme se pensava na Antiguidade. Jesus recomenda uma fé íntegra e não uma fé dividida, negadora da razão. Também ele recomenda que a fé, para ser coerente, deve vir acompanhada por obras, sem as quais não há o testemunho da verdadeira fé. O apóstolo Tiago compreendeu essa sublime lição e por isso asseverou:

“Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim a fé sem obras é morta” (Tiago, 2:26).

O divino Amigo também argumenta a respeito dos que expulsam demônios além dele. “Se é por Belzebu que eu expulso demônios, por quem os expulsam vossos filhos?”, ou seja, seria obra de Belzebu todo ato de expulsar demônios? Conclui o seu pensamento, afirmando: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então chegou a vós o Reino de Deus”.

Na segunda parábola ou comparação, o Mestre argumenta: “Como pode alguém entrar na casa do forte e roubar-lhe o bens sem primeiro amarrá-lo?” Com esse questionamento, Jesus ensina que até os que praticam o mal usam de estratégia e lógica, demonstrando, mais uma vez, que não é crível a ilogicidade no campo das ações espirituais.

Ao praticar o bem, Jesus demonstrou estar em perfeita sintonia com Deus, o Pai Amantíssimo, que nunca se contradiz. A Justiça a Obra de Deus são perfeitas em todos os sentidos, ainda que a compreensão humana não possa alcançar.

Para concluir o seu pensamento, Jesus dá um ultimato aos incrédulos, maliciosos e recalcitrantes: “Quem não está comigo é contra mim, e quem não ajunta comigo, dispersa”. Estejamos, pois, com Jesus, sem incoerências, seguindo os seus passos sem medo, porquanto ele nos trouxe a mais bela e libertadora mensagem de esperança de Deus para uma humanidade ainda surda e muda diante dos Seus desígnios.

 

(Emídio Silva Falcão Brasileiro, escritor e autor da obra O Livro dos Evangelhos)

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