Nietzsche, um dos filósofos precursores da pós-modernidade
Diário da Manhã
Publicado em 27 de julho de 2016 às 21:57 | Atualizado há 9 anosO filósofo alemão Friedrich Nietzsche ( 1844-1900) é um dos filósofos contemporâneos de grande influência, não só no meio filosófico, mas também na história da arte, na poesia, na filologia, na política, na mitologia, na teologia e na sociologia. Dono de uma filosofia contraditória e complexa, Nietzsche nunca se encaixou em uma determinada escola filosófica ou em alguma corrente de pensamento, justamente porque a sua escrita é marcada em todo tempo pelo paradoxo. Filho de Pastor protestante, Nietzsche foi criado estudando as Escrituras e era desejo de sua família, de que, ele seguisse a mesma carreira eclesiástica do pai, tornando-se também um Pastor, no entanto, ao se deparar com a filosofia, sobretudo com a magnitude do herói grego, abandonou os estudos teológicos e passou estudar filosofia, tendo sempre um grande fascínio pela filosofia originária dos Pré-Socráticos.
Nietzsche é um dos poucos filósofos que, consegue fazer uma relação bastante estreita, nos seus escritos filosóficos entre a filosofia e a poesia, por exemplo, Nietsche escreve por meio de “aforismos” que, são sentenças breves de fundo poético e que, sempre nos traz uma mensagem reflexiva. Dentre tantas obras escritas por Nietzsche podemos citar: Assim Falava Zaratustra (obra escrita entre os anos de 1883 e 1885) nesse livro, Nietzsche consegue trabalhar a contradição do seu pensamento, por meio do misticismo, da poesia, da fé, do ceticismo, da rebeldia contra o sistema político e religioso e tudo isso, aliado com a beleza ímpar de uma linguagem atraente que, Assim Falava Zaratustra, nos envolvem do começo ao fim de sua obra. Em Assim Falava Zaratustra, o título da obra, é uma homenagem que Nietzsche faz a Zoroastro, um líder religioso da antiga Pérsia, Nietzsche aborda alguns conceitos de difíceis interpretações, os quais sempre foram alvos de estudos e de profundas e eternas discussões, são eles: “A morte de Deus”, a transmutação dos valores, a vontade de potência, o eterno retorno e a doutrina do “super homem” ou do “além do homem”.
Outra grande contribuição de Nietzsche para o pensamento filosófico, histórico e sociológico é fato dele ser um dos primeiros filósofos que já na sua época, abordou em seus escritos as características de um mundo Pós-moderno. A Pós-modernidade, período em que, segundo os estudiosos das características pós-modernas, é marcado pela inversão de valores, pelo simulacro, pela diversidade de pensamento e pelo fim das grandes narrativas em detrimento da relativização dos conceitos e das verdades pré-estabelecidas pelo pensamento moderno. Nietzsche ao discorrer sobre a transmutação dos valores traz-nos uma contribuição fundamental para o estudo da Pós-modernidade, uma vez que, segundo Nietzsche, transmutar os valores significa que, o homem deve se libertar-se dos valores impostos pela religião e criar os seus próprios valores que o levará a ser totalmente livre para pensar e agir. Nietzsche deixa-nos transparecer que, a sua filosofia é uma filosofia para os“ espíritos livres”, e, no Zaratustra, ele escreve : “Eu sou o infrator, vim para quebrar as tábuas de valores”.
No atual contexto de dias Pós-modernos, a ideia de Nietzsche relacionada á transposição de valores, vem totalmente ao encontro da nossa realidade. Hoje, os conceitos tradicionais de família, por exemplo, tem entrado em decadência devido aos novos conceitos de família e de vida em sociedade, principalmente, após a revolução virtual, pois hoje, chegamos ao ápice do que podemos chamar de “o mundo das redes sociais”, no qual ou enquadramos nele ou corremos o risco de ficarmos obsoletos e esquecidos. Outro conceito Pós-moderno abordado por Nietzsche em sua filosofia, é conceito de Niilismo, palavra que origina do latim “nihil”, que significa “nada”. O niilismo é uma doutrina filosófica que indica pessimismo e ceticismo, duas características muito comuns dos dias atuais. Niilismo consiste ainda na negação de todos os princípios religiosos, políticos e sociais. A influência do niilismo de Nietsche está presente em nossa sociedade hodierna, uma vez que, chegamos ao estado do descrédito total para com vários setores da nossa sociedade, principalmente, em relação á política, onde a corrupção é o grande mal dos parlamentos, Nietzsche inclusive cita em um dos capítulos de Zaratustra: “ O Estado é mais frio de todos os monstros frios”. E,também em relação ao sistema religioso, devido a fragmentação de crenças, o sincretismo religioso, a fé como meio de exploração financeira, onde o evangelho influenciado pela Pós-modernidade, caracterizado pela falta de identidade e de integridade cedeu lugar ao chamado “evangelho da Prosperidade”, o que tem levado muitos fiéis a um estado total de desconfiança e de ceticismo para com muitas instituições e para com muitos líderes religiosos. Nietzsche em sua obra O Anticristo ( publicado em 1888) tece pesadas críticas a Sócrates ( por causa da moral clássica) ao Apóstolo Paulo e a Lutero ( por causa da doutrina da mortificação da carne) aos líderes religiosos da Europa, os quais ele os chama de: “Os envenenadores da vida” e também ao Cristianismo que para Nietzsche é uma religião para os “fracos” , devido a supressão dos instintos em detrimento da moral, pois na concepção de Nietzsche, o homem encontrará sua total emancipação quando conseguir ultrapassar os limites do bem e do mal, limites estes que, a nós, foram impostos pelo Cristianismo. Nietsche deixa transparecer que, quando o homem conseguir superar a si mesmo atingirá o estado do “super-homem” ( a superação dos valores tradicionais pelos valores que o próprio homem escolher para si próprio)
Entendemos que, a filosofia de Nietsche devido a sua complexidade e a sua essência paradoxal, levará sempre o estudo aprofundado e constante de suas obras, isso, por parte dos filósofos, dos historiadores, dos estudiosos da arte e da educação, dos sociólogos, dos teólogos, dos antropólogos dos filólogos e de todos os estudiosos e eruditos, e até mesmo dos curiosos que são atraídos pela filosofia de Nietzsche.
(Giovani Ribeiro Alves, filósofo e articulista do Diário da Manhã)