Cultura

Goiânia escrita

Redação DM

Publicado em 5 de julho de 2016 às 02:39 | Atualizado há 7 meses

A partir dos anos 1960, a cidade de Goiânia sofreu uma mudança radical em sua estrutura. Dos anos 60 aos anos 1980, a população da Capital aumentou cinco vezes. Êxodo rural, chegada de imigrantes, o aumento do trânsito, do comércio e da violência: características que anunciavam a edificação de uma nova metrópole. “Cinquenta anos em cinco”: a frase do ex-presidente Jucelino Kubitschek materializava-se através da mudança repentina de personalidade de nossa cidade. Em meio a tantas mutações e à overdose de novidades, alguns escritores da cidade se uniram para criar o Grupo dos Escritores Novos (GEN). Eles empenharam-se em decifrar as particularidades da cidade, transformando suas ruas e vielas em escrita.

A fundação do Grupo teve um impacto explosivo na literatura do Estado, como explica a pesquisadora Kamila Lopes Morais em sua dissertação de mestrado: “Representações da cidade de Goiânia em contos de meados do século XX: Imagens e discursos.” Um dos efeitos principais da criação do grupo para a autora é o enfraquecimento gradativo da visão regionalista dos escritores do estado, que deu espaço à busca pela identidade dessa nova Goiânia. “Vale ressaltar que tanto a construção de Goiânia e a publicação contística que a tematiza são recentes, pois até a década de 1960 a contística produzida em Goiás centrava-se principalmente na corrente regionalista, fundamentada no modelo tradicional do conto.”

 

Nomes

O movimento literário engrossou a obra de vários escritores da cidade, bem como revelou alguns nomes novos. Dentre os escritores que contribuíram para que o GEN se concretizasse estão nomes como Miguel Jorge, Maria Helena Chein, Marieta Telles Machado, Heleno Godoy, Yêda Schmaltz, Carlos Fernando Magalhães, Luiz Araújo, Luiz Fernando Valadares, Geraldo Coelho Vaz e outros. A aglutinação desses escritores sob o teto de um coletivo fez com que a literatura da cidade rompesse as barreiras estaduais e repercutisse em outros polos literários. “Devido em grande parte à formação do GEN, a perspectiva literária em Goiás se modifica, visto que o grupo situou Goiás com outros centros literários do País.”

Keila Lopes Morais expõe a força atualizadora da criação do GEN, em 1963. “O grupo sintonizou Goiás com o que de mais atual e criativo se escrevia no País naquela época. Dentre as contribuições do GEN destacam-se: a autonomia na criação de técnicas narrativas, a ampliação de novas temáticas, as conquistas no campo da literariedade, as pesquisas, os debates.” A mudança não foi só estrutural, segundo a pesquisadora. O tema daquilo que foi escrito também ajudou na definição da nova face que a cidade adquiriu depois da explosão demográfica dos anos 1960, 70 e 80. “Vários escritores se debruçaram sobre a capital a fim de captá-la e revelá-la, sobretudo a partir da década de 1960.”

Na época, o meio intelectual da cidade estabilizava-se através de novas instituições, o que mostra nitidamente a importância em longo prazo do investimento em educação. Nessa época foram fundadas a Universidade Federal de Goiás e a Universidade Católica de Goiás, criando campos de produção de sentidos de alta densidade. “A intelectualidade em Goiás entre os anos 60 e 70 situou o Estado frente às transformações que ocorreram tanto em prosa quanto na lírica com o restante do país. […] Verifica-se que não são mudanças apenas às técnicas de construção de narrativa, mas também o que narrar, a literatura, que antes se centrava com expressividade no regionalismo e nas cidades interioranas.”

 

Livros

A autora faz um levantamento de livros de contos importantes para a criação da identidade literária da cidade a partir dos anos 1960. São citados os autores Alaor Barbosa (com o Livro ‘A cidade do tempo’, de 1964), (com ‘Chevrolet 69’, de 1960 e ‘Disritmia’, de 1977), José Mendonça Teles (com ‘A cidade do ócio’, de 1970), Marieta Telles Machado (com ‘As doze voltas da noite’, de 1970, e ‘Narrativas do cotidiano’, de 1978), Maria Helena Chein (com ‘Do olhar e do querer’, de 1974 e ‘Joana e os três pecadores’, de 1983) e Dionísio Pereira Machado (com ‘Terra da gente’, de 1975). Vale lembrar que o estudo da autora foca em contos, e que vários outros escritores goianos se destacaram em outras áreas literárias.

 


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