Política

Ecos da Delta na Lava Jato

Diário da Manhã

Publicado em 30 de junho de 2016 às 21:34 | Atualizado há 4 meses

A “Operação Saqueador”, deflagrada na manhã de ontem pela Polícia Federal, provocou uma avalanche de dúvidas sobre a extensão das ações da Delta Construções com o doleiro e lobista Adir Assad. Na manhã de ontem, os policiais federais e procuradores da República cumpriram mandados de prisão preventiva em Goiás e no Rio de Janeiro, além de conduções coercitivas e busca e apreensão.

Em Goiânia foram presos o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e o ex-diretor regional da Delta Cláudio Abreu. Adir Assad também foi preso em São Paulo e todos foram levados para o Rio de Janeiro, onde as investigações aconteceram. O diretor presidente da Delta, Fernando Kavendish, também teve a prisão preventiva decretada, mas por estar fora do país não foi cumprida.

De acordo com o Ministério Público Federal, as acusações são basicamente de desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. A Delta teria agido como agenciadora de obras públicas de grande monta, como o Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro, desviando dinheiro de obras superfaturadas para pagamento de propinas a agentes públicos.

“A Delta se valia de licitações fraudulentas e até de dispensa de licitação, como no caso do parque Maria Lenk, para realizar obras com sobrepreço elevado. Carlinhos Cachoeira agiu abrindo quase duas dezenas de empresas de fachada para lavar esse dinheiro com a participação do doleiro Adir Assad”, disse um dos procuradores que participaram da operação. O parque Maria Lenk receberá competições aquáticas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro que começam no próximo mês. Entre 2006 e 2012, a Delta recebeu do Denit mais de R$ 11 bilhões em verbas referentes a obras de engenharia.

Rastreamento

Os procuradores da República se valeram de peritos em contabilidade para rastrear o dinheiro que circulava entre a Delta e a ação do doleiro Adir Assad e que serviriam para a corrupção e lavagem de dinheiro que a operação visa descobrir. Somente pela Delta estimam os investigadores que tenha transitado mais de R$ 370 milhões. “Grande parte desses recursos foi operada pelo empresário Carlinhos Cachoeira em suas empresas criadas para esse fim”, comentou o delegado da Polícia Federal Tácio Muzzi, que atua no caso.

Ainda segundo os procuradores, essas operações eram pilotadas em grande parte na Regional Centro-Oeste da Delta, comandada por Cláudio Abreu e que os recursos se destinavam também a ser distribuídos com agentes públicos em Brasília.

Delação

O pânico se acendeu entre políticos e empresários após a prisão de Adir Assad, principalmente porque sabem que seu potencial explosivo é tão violento quanto do também doleiro Alberto Yousseff, pivô da Operação Lava Jato. Aliás, ele também já esteve preso nessa segunda operação e responde a ação penal por seu envolvimento com as mazelas do escândalo conhecido como Petrolão. “Assad sabe muito e de muita gente. Se ele resolver falar haverá um vendaval comparável à Lava Jato”, confidenciou um político goiano.

Aliado à ameaça que gravita sobre os possíveis depoimentos de Adir Assad pesa outro incêndio capaz de provocar combustão total em inúmeros luminares da política e da administração pública. O empresário Carlinhos Cachoeira é tido no Ministério Público Federal como um potencial delator para tentar se salvar de penas que podem deixá-lo por décadas na prisão.

Carlos Augusto de Almeida Ramos já tem uma condenação de 12 anos de prisão no Rio de Janeiro e outra de 39 anos de prisão por causa da Operação Monte Carlo. Durante essa operação, ele ficou preso por sete meses no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e no presídio da Papuda, no Distrito Federal. Um procurador da República de Goiás, que pediu para não ser identificado, disse que é possível um acordo de delação premiada de Cachoeira visando redução de sua pena nessas acusações da Operação Saqueador e ligar a Monte Carlo visando anular a sentença que o condenou a quase 40 anos de cadeia. “Se houver um acordo entre os procuradores do Rio de Janeiro e de Goiás isso é plenamente possível. Nesse caso, Carlos Augusto de Almeida Ramos teria de contar tudo o que sabe, sem omitir detalhes sob pena de ser penalizado com a suspensão do benefício”, explicou.

Cláudio Abreu, o ex-diretor da Delta, também poderá receber a oferta de colaboração do MPF para reduzir sua pena e extinguir a condenação da Monte Carlo.


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